O objetivo de João ao escrever era expor a heresia dos falsos mestres e confirmar a fé dos verdadeiros crentes. João declara ter escrito para dar garantia da vida eterna àqueles que crêem “no nome do Filho de Deus“. A incerteza de seus leitores sobre sua condição espiritual foi causada por um conflito desordenado com os mestres de uma falsa doutrina. João se refere ao ensinamento como enganoso, e aos mestres como “falsos profetas”, mentirosos e Anticristo. Estes já tinham feito parte da Igreja, mas tinham se afastado e tinham se “levantado no mundo” para propagarem sua perigosa heresia.
Uma possibilidade deste falso ensinamento seria a interpretação errônea do Evangelho de João numa chave de leitura gnóstica. O Gnosticismo (do termo grego gnosis, que significa conhecimento), reivindicava um conhecimento especial sobre Deus, sobre a teologia e Jesus Cristo. Sua base doutrinária incluía:
- I) dúvida se Jesus seria realmente o Cristo (2,22),
- II) dúvida sobre a pré-existência do Filho de Deus enquanto Verbo (1,1; 4,15 e 5,10),
III) negação da Encarnação de Cristo no seio da Virgem Maria (4,2),
- IV) negação do objetivo de Cristo de vir para salvar os homens (4,9).
Além disto tinham afinidade com o que era pregado por Cerinto, na Ásia Menor, no fim do século I, que afirmava que Jesus era um homem bom, no qual o Cristo celestial viera habitar desde o tempo do batismo de Jesus até pouco antes de sua Crucifixão. A epístola combate isto, afirmando que Jesus é o Cristo (5,6), é o Filho de Deus (2,22, 5,1,5). O ensino de Cerinto baseava-se no Dualismo gnóstico entre o espiritual e o material, que negava a possibilidade de Deus (Espírito) ter se tornado homem (matéria). Outra versão desta heresia, o Docetismo (do grego dokeo, parecer) afirmava que a Encarnação foi aparente, não uma realidade concreta. A posição de Cerinto, que fica entre essas duas, afirma que a Encarnação foi temporária, ou seja, desde o batismo até o momento da crucificação.
A epístola visa expor os erros dos hereges e confrontá-los com a verdade. Cristo Jesus é a fonte da vida, aberto a todos os que nele crerem. Ele concede a vida eterna a todos os seres humanos, e não apenas a um grupo privilegiado: os gnósticos.
A epístola tem a seguinte estrutura: prólogo, o livro da luz, o livro do amor e epílogo. Segue um pouco o esquema do Evangelho de João: prólogo, livro dos sinais, livro da hora e epílogo. A Primeira Epístola segue um esquema de subdivisão, mas que revela uma interligação onde a segunda parte complementa a primeira:
- Prólogo: A Encarnação do Verbo (1,1-4)
- Comunhão: Motivada por Deus (1,5–2,17)
- O Principio da Comunhão: Andar na Luz (1,5-10)
- A Provisão da Comunhão: A Morte de Cristo (2,1-2)
- Os Imperativos da Comunhão: Obedecer aos Mandamentos (2,3-11)
- Os Pré-requisitos da Comunhão: Atitude dos Crentes (2,12-14)
- Os Impulsos contra a Comunhão: Escolher o amor do Mundo (2,15-17)
III. O ensino dos Falsos Mestres (2,18-27)
- Apostasia (2.18-19)
- Negam que Jesus é o Cristo (2,20-23)
- Buscam novidades espirituais (2,24-25)
- Esperança Escatológica: Motivo para uma Vida Santa no tempo atual (2,28–3,10)
- Esperança Produz Santidade (2,28–3,3)
- Passos para a Santificação (3,4-10)
- O Amor é a Base da Segurança (3,11-24)
- Definição (3,11-17)
- Exemplo Negativo: Caim (3,11-15)
- Exemplo Positivo: Cristo (3,16-17)
- Discernimento: O Testemunho do Espírito (3,18-24)
- A Condenação em nossos Corações (3,18-20)
- A Confiança que temos diante de Deus (3,21-24)
- Falsos Mestres: Discernimento dos Falsos Espíritos (4,1-6)
- Teste Objetivo: Doutrina (4,1-3)
- Teste Subjetivo: O Testemunho do Espírito (4,4-6)
VII. Amor: Essencial para Santificação (4,7-21)
- O Amor Revelado na Morte de Cristo (4,7-12)
- A Morte de Cristo Testemunhada pelo Espírito (4,13-16a)
- Amor Remove o Medo (4,16b-18)
- O Divino Amor Estimula a Fraternidade (4,19-21)
VIII. Fé: Segurança nos nossos Corações (5,1-12)
- Evidência Externa: Superação (5,1-5)
- Evidência Interna: Testemunho pelo Espírito (5,6-12)
- Conclusão (5,13-21)
- A nossa Conseqüente Segurança (5,13-17)
- Três Afirmações e uma Exortação para Concluir (5,18-21)