O pensador cristão da Pedagogia Libertadora, Paulo Freire, já no limiar do século XXI e antes de falecer em 1997, dizia: “É preciso a Humanidade organizar uma grande marcha para um novo tempo de libertação dos excluídos” – à época o ex-presidente Fernando Collor havia criado a expressão “descamisados”. Hoje, quando a Igreja organiza mais um Encontro Sinodal, imagino colocar nesta marcha também a proteção dos animais, – por que não? – maltratados em enchentes, queimadas, tráfico… numa lembrança da metáfora da Arca de Noé, quando a Humanidade lá se reinventou. Sobretudo, na agenda social, pluricultural e tão interativa do Milênio, a Igreja, com o Papa Francisco, vem emitindo sinais de uma abertura sem precedentes do ponto de vista das várias diversidades, das políticas de inclusão emergindo com força em cada esquina da sociedade e sobretudo acenando para uma maior presença das mulheres no ministério da Igreja. Uma hora de ação-reflexão, ao mesmo tempo prometeica e real para reedição, neste novo milênio, do ver-julgar-agir da antiga Ação Católica e posterior Teologia da Libertação (anos de 1960 em diante), a Igreja reinventando caminhos de evangelização.
Segundo o documento Vida Pastoral – janeiro/fevereiro de 2023, de autoria de Manoel José de Godoy:
No pós-Concílio, [Vaticano II] vivemos momentos de uma tensão bipolar, ora tendente mais para a perspectiva centralizadora, ora mais para a sinodalidade. Os textos do Concílio Vaticano II eram usados para defender tanto uma postura como a outra. Sem dúvida, no entanto, o conceito de Igreja local ou particular, reconhecendo que esta é plenamente Igreja e não pedaço da [Igreja] universal, garantiu uma perspectiva de pluralidade eclesial muito importante, dando força à sinodalidade. Tal conceito suscitou reflexões sobre a inculturação e a possibilidade de regiões terem seu rosto eclesial típico, como vemos atualmente no caloroso debate sobre o rosto próprio da Igreja na Amazônia. Também o esquema aprovado no Concílio para o tratado De Ecclesia, que antepõe o conceito de povo de Deus ao de hierarquia, favoreceu uma visão mais descentralizada de Igreja, mais multiforme e dinâmica.
A caminhada sinodal é uma ação muito importante, um evento sem precedentes para o fortalecimento de nossa fé e de nossa Igreja. Ela é necessária como instrumento de união dos povos que buscam, de maneira coletiva e atuante, uma Igreja pautada no Evangelho, no acolhimento dialogal de vários setores da sociedade, ansiosos por uma libertação de tantas amarras, tantas injustiças, tanta exclusão.
O Sínodo é a travessia coletiva, com o objetivo de se caminhar na unidade e no respeito, principalmente num mundo onde o individualismo e o acúmulo de bens dividem os homens e excluem as pessoas mais vulneráveis.
Neste exercício, nós, leigos, vamos construindo coletivamente uma consciência mais sólida e abrangente sobre a importância de assumirmos nosso papel nessa caminhada histórica que há muito tempo, desde os profetas do Antigo Testamento, passou-se a denominar como “sinais dos tempos”.
Maria Rita Nascimento Pereira
Coordenadora da Pastoral de Educação da Arquidiocese de Uberaba