Irmãos em Cristo, de outras denominações religiosas ou ateus!
Hoje estou me sentindo muito feliz e ao mesmo tempo preocupada. Nesta semana muito me apraz focar a intensidade do mês de outubro, quando acabamos de dobrar mais uma folhinha de calendário e nos deparamos com um recorte de 31 dias do ano recheados de comemorações. Se maio é tido como o mês de Maria, em 12 de outubro, a Mãe da Igreja é lembrada como a da Padroeira do país. Por coincidência, na mesma data a não menos importante comemoração do Dia da Criança.
Quando falamos em criança, nos referimos primeiramente à necessidade incondicional de proteção, em todos os sentidos, desde os laços familiares, os valores da vida construídos com ela – não para ela – num tempo em que muito se questiona sobre violência doméstica, abandonos, descaso, miséria, fome, preconceitos, violência social, chegando a extremos insuportáveis até de se imaginar, como a pedofilia, derramada nas notícias da mídia quase cotidianamente. Neste cenário, fico aqui me perguntando: o que significam, de fato, as palavras acolhedoras de Cristo: “Deixem vir a mim as criancinhas e não as impeçam; pois o Reino dos Céus pertence aos que são semelhantes a elas” (Cf. Mt 19:14)?
Preocupa-me, também, a avassaladora corrida às lojas para comprar, comprar e comprar. É evidente que a primeira atribuição da natureza da criança é o brincar, o que não significa esquecimento de valores e de proteção à infância, sua natureza, saúde, alegria, imaginário… e o brinquedo faz parte. No entanto, aí já demarca uma dualidade social no sentido de que, numa sociedade marcada por um frisson quase que esquizofrênico da mercadoria, uma criança carente fica jogada num mundo “estranho” por “não ter merecido” aquele celular que seus pais, padrinhos, familiares ou amigos não puderam lhe ofertar como presente do dia 12.
Este dia vem muito próximo ao dia 15, dedicado ao chamado Dia do Professor e eu preferiria dizer: Dia do educador, da educadora. Aqui incluo gestores, administradores escolares, pensadores da educação, pesquisadores, entre outros e outras. Inclusive aqueles profissionais que trabalham em outros campos, como na saúde hospitalar, nas clínicas dentárias, nas de psicologia infantil, no trato com deficiências as mais diversas, no cuidado de internações e acompanhamento… tudo isso num olhar da educação como cuidado em época de fragilidade. Lembremos de tantos projetos em que as pessoas se vestem de palhaços para alegrar as crianças hospitalizadas, por exemplo.
Estou me lembrando, também, mais para o final do mês, do dia do funcionário (ou servidor) público. Aquele e aquela profissional que trabalham na linha de frente em todo e qualquer serviço público, seja na educação, seja em outras frentes como a da saúde – o que se tornou muito evidente nesses tempos de pandemia. Funcionários de toda e qualquer frente de atividade, como de empresas públicas, polícia militar, fiscais, como do IBAMA, pesquisadores de universidades ou institutos públicos, e tantos outros e outras. Entristece-me, como educadora, perceber o quanto esses profissionais são muitas vezes vistos como meros apertadores de parafusos da burocracia e mesmo achincalhados como servidores indolentes ou até “inúteis”, num Estado visto como “paquiderme”. Numa visão neoliberal, este profissional só atrapalha o trânsito no circuito do capital, o que implica um abandono estratégico da concepção de Estado como indutor de políticas públicas. Na verdade, quem pensa dessa maneira está via de regra com sua vida resolvida: casa própria, planos de saúde, viagens de férias, contas bancárias recheadas, etc.
Se abrisse agora o calendário, teria outras tantas datas significativas deste mês, por exemplo, na lista cotidiana de tantos santos da Igreja. Então, para finalizar este nosso rol de lembranças, gostaria de chamar a atenção para o que se comemorou neste dia 04 de outubro: São Francisco de Assis. Uma data que nem sempre lembramos. Não há muito o que dizer do já tão conhecido santo, considerado a “personalidade do milênio” que passou. No entanto, ao que nos parece, continuará com sua presença amorosa entre nós. Aquele personagem, já distante no século XIII, amante da Paz, da Justiça, da Simplicidade, nos está fazendo enorme falta num tempo de tanto ódio, racismo, preconceito, violência, injustiça. Sobretudo num momento crucial em que a natureza brasileira, com seus biomas, seus animais, está sendo destruída numa escala jamais vista e o mundo todo voltando sua atenção para nosso país com a mesma preocupação que me traz a este artigo.
Além da necessidade de reação estratégica a tudo isso, que se trata de uma resistência no campo político e democrático, sem rancores, a famosa oração de São Francisco (muito conhecida) pode ajudar a nos colocar nos eixos de uma nova humanidade, radicalmente transformada, justa, fraterna, dialogal. E não se trata só para o Cristianismo da Igreja. Francisco de Assis faz falta ao mundo, a todos os povos e a todas as raças, crenças, situações, incluindo os cada vez mais alijados de seus territórios de cuidado e sobrevivência, como nossos povos indígenas, nossos quilombolas, nossos camponeses. Sua bênção, Francisco, amoroso educador dos povos!
Maria Rita Nascimento Pereira
Pastoral da Educação