Estrutura e composição:
Continuando a reflexão sobre a estrutura e composição da Epístola de Judas, o texto é muito breve, não chegando a compor nem mesmo um capítulo. A divisão se dá por versículos. Embora breve, a Epístola tem um plano estruturado quanto ao texto:
1-2 – Endereço e saudação.
3-4 – Finalidade da Epístola: exortar os destinatários a combaterem pela fé, pois homens perigosos para a comunidade começaram a causar prejuízos com heresias.
5-23 – Grande parte do texto, com caráter argumentativo:
5-7 – Desejo de trazer à memória três exemplos de castigos do AT (o povo durante o Êxodo, os anjos e o destino de Sodoma e Gomorra).
8-16 – Os homens que ameaçam a fé agem do mesmo jeito; então, estão sujeitos aos mesmos castigos.
17-23 – Exortação: “Vós, porém, amados… lembrai-vos das palavras de vossos apóstolos: vivei na fé, no amor e na esperança”.
24-25 – Doxologia final.
Os elementos doutrinais:
- a) fé, amor e esperança – Os vv. 20-21 apresentam uma máxima importante, escrita no imperativo: “Guardai-vos no amor de Deus!”, isto é, no amor que Deus tem por vós e no amor que vós tendes a Deus. Este imperativo está cercado por três verbos que revelam as condições da atuação do amor de Deus, pois ninguém tem o poder de guardar este amor se não for concedido pelo Senhor:
– “edificando-vos sobre vossa fé” – ou seja, a fé é o fundamento de toda edificação cristã, especialmente a edificação da Igreja. Isto é revelado no v.3, onde o autor considera seu dever escrever esta carta para exortar os cristãos a combaterem pela fé e que esta fé é um dom de Deus, uma virtude, convidando o homem a dar uma resposta ao apelo de Deus.
– “orando no Espírito Santo” – a fé se exprime em orações, mas estas só são verdadeiras quando coincidem com o Espírito Santo. É Ele que ensina o cristão a rezar.
– “pondo vossa esperança na misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna”. Pôr a esperança significa voltar-se para aquele que se espera, ou seja, Cristo Jesus Ressuscitado.
- b) Deus, o Senhor Jesus, o Espírito Santo – assim como o texto apresenta a tríade fé-amor-esperança, apresenta outra tríade, que é a origem da primeira, sua fonte divina: Deus (Pai), o Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo. A fé é um dom de Deus, transmitida uma vez por todas. A esperança está fundada no amor misericordioso do Senhor Jesus Cristo, pelo qual Deus Pai nos salvou (v.21). A alusão à redenção se dá no contexto de que Deus Pai é a fonte primária da salvação. O Pai nos salva mediante Jesus Cristo. O amor é guardado nos corações através da ação do Espírito Santo.
- c) uma viva esperança na parusia – quando refletimos sobre a 2ª Epístola de Pedro, falou-se da íntima relação textual entre ela e a epístola de Judas. Contudo, em um ponto elas divergem. Ao contrário da 2Pd, a esperança na parusia continua muito viva. Tal esperança é expressa na doxologia final: “Àquele que pode guardar-vos da queda e apresentar-vos perante sua glória irrepreensíveis e jubilosos…” (v.24).
- d) Amar a Deus de forma concreta – a saudação já fala do amor de Deus. Ao longo da Epístola, os ímpios mostram como não viver este amor, ou seja, através da prática da luxúria, cupidez, paixões, bajulações e todas as práticas pagãs, combatidas por Paulo nos textos de suas cartas. A Epístola mostra que, agora, a partir da ressurreição de Jesus Cristo, a vida de Jesus, suas palavras e ações se tornam a norma de vida dos cristãos. É preciso renegar as práticas do mundo e optar verdadeiramente pelo amor de Deus, amor este que conduz à vida.
Em nosso próximo e último artigo, concluiremos as Cartas Católicas, apreciando a Carta de Judas. Deus fortaleça em todos os corações a alegria, a fé e a esperança, renascidas na Páscoa de Nosso Senhor.
Padre Marcelo Lázaro