Neste mês de focalização da Palavra de Deus escrita (a Bíblia) na Igreja, consideremos o que o Senhor Jesus Cristo nos ensina através das palavras de São João: ‘‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vai ao Pai a não ser por mim’’ (Jo 14,6). Acredito ser o evangelista João profundamente arraigado nos temas concernentes à teologia do Verbo e, por consequência, riquíssimo em reflexões acerca do que cremos como Igreja, como Palavra relevada.
Na expressão recorrente joanina ‘‘eu sou’’ (do grego Êgó eimí) podemos ver o Cristo posto como o eterno Deus do Antigo Testamento agora encarnado (Ex 3,14: ‘‘eu sou o que sou’’) que proferirá uma afirmação de fé Nele. O Senhor declara ser o caminho, a verdade e a vida, e ainda mais: ninguém vai ao eterno a não ser por Ele, pelo simples fato dele mesmo ser o eterno Deus (Jo 1). É belo vermos que o Deus que existe fora dos nossos parâmetros humanos de espaço e de tempo entrou na história por causa de nós. Porque Ele nos amou por primeiro (1Jo 4,19). Ele se comunica a nós: torna-se Palavra.
E desta entrada maravilhosa e salvadora, nós temos conosco ainda a presença da Palavra, que é uma Pessoa: Jesus Cristo em Seu Espírito Santo. Tudo o que Ele viveu, pregou e fez ecoa na grande Tradição Eclesiológica, que são as experiências do povo eleito do Antigo Testamento e da Igreja. E esta Tradição nos deu as Escrituras Sagradas escritas compiladas num cânon bíblico (lista fixa de livros). A Tradição nos deu a Bíblia para conhecermos a Palavra: Jesus, Caminho, Verdade e Vida. E por meio desta Tradição temos a interpretação autêntica da Revelação Divina para nossa salvação (cf. Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II).
Desta Tradição valho-me agora citando o Comentário da Bíblia de Navarra que ilustra que o fato de Jesus ‘‘ser o Caminho, a Verdade e a Vida são atributos do Filho de Deus feito homem: Ele é a Verdade porque nos ensina quem é de fato Deus e como deve ser a autêntica adoração (…); é a Vida por possuir desde a eternidade a vida divina junto do Pai e porque, pela graça, nos dá a participação nessa Vida. E ao assumir a natureza humana é o Caminho para chegar a Deus’’ (p.1529).
Cristo é o Caminho pelo qual haurimos a graça santificante e salvadora oriunda da verdadeira Vida: a de Deus Pai. Como trilhar este Caminho? Seguindo a Verdade ensinada por Cristo; Ele mesmo diz que ninguém chega ao Pai senão por Ele. Ele nos revela o Pai e a Verdade, com V maiúsculo, que hoje tanto se relativiza em termos antropológicos e psicológicos. Se não vivermos o teocentrismo (não fundamentalismo ou rigorismo moral) em nossas vidas de fé, não alcançaremos a salvação.
O homem não é a medida de todas as coisas, como afirmava o filósofo grego pagão Protágoras, e tantos outros que se valeram de seus ‘‘lugares de fala’’ (expressão um tanto recorrente hoje) para declarar soberbamente ‘‘Gott ist tott’’ (do alemão do filósofo Nietzsche: Deus está morto). Perdoem-me a audácia, mas retruco à altura desta soberba negacionista: ‘‘Nein!’’ (Não), ‘‘Gott ist nicht tot!’’ (Deus não está morto!). Foi sua Palavra que tudo criou e é por sua Palavra, o Verbo encarnado que tudo será restaurado à imagem e semelhança divina original! Deus se comunicou verbalmente como a Verdade, a única; como Caminho, o único; como a Vida, a verdadeira.
Que possamos com auxílio de Maria Santíssima, Arca da Palavra encarnada, e de São José, protetor do Verbo, viver na certeza de que Cristo é o mesmo, ontem, hoje e amanhã, e que nós precisamos segui-lo com o máximo vigor apostólico e amor com os quais nossos Santos Padres nos precederam na fé nesta era ‘‘relativista que não reconhece nada como absoluto’’ (Papa Bento XVI) e ‘‘pelagiana que despreza a graça em prol do esforço humano’’ (Papa Francisco).
Sejamos apostólicos, vivendo a esperança da era da graça na Igreja pela Palavra encarnada que habita em nós por seu Espírito. E caso alguém nos questione sobre quem é Deus, que possamos anunciar como Moisés: ‘‘EU SOU me enviou a vós’’ (Ex 3,14) para que sejam verdadeiramente livres no Caminho certo, com a Verdade única rumo à Vida verdadeira.
Padre Pablo Henrique