A presença nas redes sociais

A quarentena deu-nos oportunidade de explorar o ambiente digital com grande ineditismo, levando-nos a novos comportamentos sociais, posições e posturas no uso das tecnologias digitais, mas também de estar nelas, de estabelecer relações, de obter conhecimento, formação, entretenimento (inauguram-se ou somam-se as lives!). Incrementaram-se gestos de solidariedade, novas maneiras de trabalhar, seja em home office (trabalho remoto), seja na inovação de outras frentes de trabalho, de negócios on-line, aulas on-line… Muitas oportunidades e criatividade. Até shows sem auditório, reunindo os maiores artistas do mundo, em solidariedade por causa do coronavírus. Alguém teve criatividade, lançou a ideia, convocou e muitíssimos aderiram e começaram a interagir. Interatividade! É a palavra-chave da cultura digital. Talvez pela primeira vez as pessoas se tenham dado conta de sua natureza inerente ao digital.

E aqui cabem as palavras do papa Bento XVI. Referindo-se ao ambiente digital, na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações de 2013, disse: “O ambiente digital não é um mundo paralelo, mas faz parte da realidade cotidiana de muitas pessoas”.

A presença como pessoa – No cenário do ambiente digital que se descortinou com força total, até mesmo assustadora, mas quase “indispensável” pelos motivos já expostos, o comportamento na ambiência digital das pessoas beirou à necessidade de manter-se ocupado mais ainda, especialmente no isolamento social.

A escolha de sua “ocupação”, entretanto, só pertence a você que pode dar qualidade a ela: o que você escolheu para ver, para interagir, para aprender, para se entreter? Talvez sua relação tenha sido de muito tédio, mas também pode ter descoberto talentos de arte que desconhecia possuir. Talvez tenha despertado em você a solidariedade, o ir além da visibilidade centrada sempre em seu eu, como exibicionismo midiático, visto que muitas ferramentas oportunizam isso.

Estamos falando de seu “ser pessoa”, de sua presença no ambiente digital, de levar você à reflexão consciente sobre os critérios que o povoam, sobre o espaço necessário para seu interior, que não é necessariamente retirar-se, ficar calado, mas estabelecer contato consigo mesmo, a partir do que a presença digital provocou. A questão não são as milhares de opções. A questão é sua escolha. O que você vai fazer com as opções? A questão é aprender novas maneiras de ser e estar.

A presença como família – O cenário atual do ambiente digital durante o confinamento vivido recentemente provocou também nas famílias uma alteração na convivência. Pais e filhos juntos, convivendo o tempo todo. Muitos expressaram cansaço. A lição de se relacionar, porém, foi testemunhada também por muitos pais que disseram ter conhecido melhor seus filhos.

É nosso foco, neste artigo, a relevância de estar em contato com o mundo digital, acompanhando os filhos, percebendo suas escolhas, seus gostos, suas aspirações, seu grau cultural, o seguimento de suas aulas on-line… Enfim, um interesse conjunto: pais envolvendo-se com filhos e filhas, sentindo-se “sujeitos de interesse”, de cuidado por parte dos pais. Pais aprendendo novas tecnologias com os filhos. E isto criou ou fez crescer as relações. Ver, assistir e realizar juntos.

Agora, ouve-se com frequência a expressão “voltar à normalidade”. Será mesmo? O que esse relacionamento provocou de diferente em sua família?

É preciso sempre prestar atenção para que a aproximação com as tecnologias digitais não seja apenas um “uso” puramente instrumental, uma vez que o ambiente digital é mais complexo. Vai além do uso da ferramenta.

A presença como Igreja – Acompanhando as inéditas transformações advindas das tecnologias digitais e suas consequências de luzes e sombras, o magistério da Igreja, na pessoa dos papas Bento e Francisco, especialmente em suas mensagens para o Dia Mundial das Comunicações, incentivam e orientam o ambiente digital como oportunidade para entrarmos em relação e evangelizar.

Bento XVI chega a afirmar que “se a Boa-Nova não for dada a conhecer também no ambiente digital, poderá ficar fora do alcance da experiência de muitos” (2013). E o papa Francisco, enfatizando sempre a “cultura do encontro”, diz que “o mundo digital pode ser um ambiente rico em humanidade, uma rede não só de fios, mas de pessoas” (2014).

A Igreja, porém, surpreendeu-se e forçosamente (como diz um autor) precisou rapidamente ser criativa, ser presença e provocar presença nos fiéis, com a transmissão ao vivo das celebrações eucarísticas, devido ao fechamento das igrejas, ocasionado pela pandemia do coronavírus. Experiência inédita passar uma Semana Santa sem estar presente no “templo de pedras”. Experiência que “jogou” a Igreja para viver e comunicar-se com o povo no ambiente digital, para o qual muitos não estavam nem preparados.

O fato é que, com toda a riqueza que as transmissões digitais proporcionaram aos fiéis de seguirem “ao vivo” as celebrações, é preciso refletir muito do ponto de vista litúrgico, sobretudo teologicamente, sobre o presencial. Não se esquecer que “tudo o que é transmitido ao vivo, geralmente, fica disponível em rede para poder ser assistido novamente depois” (Sbardelotto). Entretanto, com a celebração eucarística, por sua fundamentação teológica, “não existe replay da missa”.

 

Joana Puntel, fsp

Fonte: Revista Família Cristã, edição 1014, junho de 2020

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