Ação educativa propulsora de uma sociedade solidária

Vivemos numa sociedade onde, infelizmente, desejos individuais sobrepujam desejos coletivos. Esta estratégia de vida social acaba se proliferando em espaços nos quais um considerável contingente de pessoas que (visivelmente) se inter-relacionam ao mesmo tempo acabam se tornando “invisíveis” aos olhares mais atentos das pessoas que estão próximas. Basta-nos um pouco de atenção para observamos essa aparente contradição, uma vez que proximidade física nem sempre combina com proximidade mais ampla: humana, afetiva, cuidadosa, atenta ao que nos falta como complemento de nossas relações. E não são poucas nossas justificativas, entre elas, a rotina do dia a dia, a sobrecarga de trabalho, o “enclausuramento” no mundo virtual, assim por diante.

Esse aspecto contraditório, de proximidade e afastamento, que vem tomando conta de nossas relações societárias acaba, de uma maneira ou de outra, repercutindo no chão das escolas. Justamente um equipamento social cuja atribuição maior é promover uma formação humana integral e humana na garantia de aprendizagens ético-políticas emancipadoras. Desde seu interior, as escolas correm o risco de apenas reproduzir “o mais do mesmo” nessas relações sociais.  Daí o perigo de nossos alunos e alunas, na escola, permanecerem reféns de inúmeras ações “reprodutivistas” que acabam dando continuidade à fragilização de relações e tornando nossas crianças e adolescentes cada vez mais solitários e distanciados do mundo que os cerca, mesmo sob o impacto da revolução comunicacional de nosso tempo. Aliás, o primeiro sinal de que “algo não está bem” com uma criança, adolescente ou jovem no mundo de hoje é sua “fuga para dentro da caverna expandida da internet”. É o que alguns estudiosos, atentos aos perigos de um desvirtuamento de uma formação integral, acolhedora, dialógica, receptiva, crítico-avaliativa dos valores, entre outras denominações, chamam de “doença virtual”, um mal a ser combatido, abstraído dos próprios avanços tecnológicos irrefutáveis, e o tanto que nos oferecem favores não eticamente refutáveis.

Frente a esse tempo de fragilidade e de relações distanciadas se faz necessária a presença constante de um/a educador/a não só preocupado/a com o conhecimento escolar, ou acadêmico, quando descompromissado com a dor silenciosa, que só é possível de ser diagnosticada com um olhar penetrante e solidário, humanizador, mediatizado pelo diálogo que aproxima a dor do outro a nossa própria sensibilidade como educadores. Educar para além de trabalhar conteúdos, qualquer que seja a eficiência das metodologias de ensino para produzir conhecimentos e saberes de fato significativos para a vida requer escuta, olhar de lince ao derredor e olhar por dentro, percebendo sinais que os alunos, nos temperos e destemperos de cada idade, requerem. Nosso protagonista, não nosso “cliente”, no campo da educação não convém ser refém de um tempo, tão rico de possibilidades e problemas.

Dessa maneira, é preciso que aprendamos com o sofrimento, que comecemos a olhar com os olhos da compaixão os que sofrem, muitas vezes vistos como “estrangeiros”, pelo simples fato de não fazerem parte de nossas vidas. Amar o próximo é estar atento às ações que nos colocam cada vez mais em proximidade com a prática de oferecer ao outro o que desejamos a nós. E, no fundo, o que mais desejamos não é o isolamento. “Nenhum homem é uma ilha”.

Alguém pode estar se perguntando neste momento: Como construir uma ação de solidariedade com a dor do outro se estou ausente em sua vida? Vamos tentar responder tal indagação trazendo para esta breve reflexão uma passagem do Evangelho de Mateus (25, 34-36) em que Jesus nos diz: Amar o próximo é abrir o coração e praticar as obras de misericórdia: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, cuidar dos enfermos, visitar os presos e acolher os estrangeiros.  Fica o apelo para cada um, notadamente aqueles que trabalham mais diretamente na educação escolar, sobre o quefazer, como uma oração na ação, uma vez que alternativas é o que não faltam. No simples “eu-aqui” e o “outro-lá”, certamente Deus não está no meio de nós. Contudo, para finalizar, o educador também “sofre suas dores”, e não são poucas. Mas esta é uma percepção de contrapartida para outra conversa.

 

Maria Rita Nascimento Pereira

Coordenadora Arquidiocesana da Pastoral da Educação

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