Carta de Tiago

Concluindo o capítulo 3º da Carta de Tiago, o autor reflete sobre a verdadeira sabedoria, em contraste com a sabedoria terrena.

 

IV – Os sinais da sabedoria celeste e aqueles da sabedoria terrena – Tg 3,13-18

Ao mestre pede-se que seja sábio. No contexto judaico, o conceito de “sábio” era muito vizinho ao de mestre, de escriba. Um sábio deveria viver de acordo com a verdadeira sabedoria. A falsa sabedoria é aquela que se apresenta como verdade, mas cujos frutos revelam estar longe daquilo que anuncia. Pregar uma coisa e viver outra é sinal de seguimento à falsa sabedoria, à sabedoria do mundo.

Assim como as obras revelam quem tem a fé, da mesma forma mostram quem possui a sabedoria. As obras se tornam o elo entre a fé e a sabedoria. O v. 13 revela os critérios da manifestação da sabedoria (a boa conduta de vida) e o que faz a sabedoria desaparecer (v.14 – a inveja e os litígios). As características da verdadeira sabedoria são elencadas em um catálogo de virtudes (v.17), salientando o tema da realização da paz (v.18).

Vv.13-18 – A pessoa sábia e esperta (Dt 1,13; 4,6) manifesta a sabedoria através das obras e não apenas com palavras sábias. A sabedoria é entendida como a realização da vontade de Deus na vida do homem, sendo sábio e justo termos paralelos aos escritos sapienciais, ou seja, orientados ao TEMOR DE DEUS. (Sab 4,16ss). “Temer o Senhor, isto é sabedoria; evitar o mal, isto é inteligência” (Eclo 19,20). Para Tiago, somente uma conduta de vida moralmente responsável que se exprime através das boas obras é uma prova de sabedoria.

A sabedoria genuína é incompatível com a prepotência, com a arrogância e com a inveja. Egoísmo, ambições desmedidas, parcialidade, etc. são sinais de uma pseudo-sabedoria, de uma sabedoria que “não vem do alto”, de Deus, mas que vem do mundo, orientada para a realidade mundana e caduca. Esta sabedoria passageira é demoníaca, ou seja, inspirada pelo demônio (influência de interpretação dualístico-gnóstica), pelo que se opõe à vontade divina.

O autor de Tiago não tem interesse em fazer uma teologia da sabedoria divina, como atributo do Senhor ou concessão (dom) do Espírito Santo. Ele confia esta missão aos Escritos Sapienciais (AT) e à revelação de Jesus Cristo. O autor se ocupa das consequências práticas de se viver segundo a sabedoria de Deus e a não viver segundo a falsa sabedoria do mundo. E para analisar a sabedoria, faz uso das obras frutificadas (produzidas) por esta: obras de vida ou obras litigiosas. A verdadeira sabedoria, aquela que “vem do alto” (Pr 2,6; Sab 7,16s; Eclo 2,26), é distinguida pelas qualidades morais: pureza e retidão, para manter-se longe das vias tortuosas; defesa e promoção da paz, que não é ausência de guerra, mas libertar-se da discórdia e da prepotência, através da indulgência e humildade conciliadora, sem necessidade de impor-se ou ter que dar a última palavra, mas buscando a harmonia, o acolhimento e a valorização do outro. Por fim, coloca em relevo a maior qualidade da existência cristã: a misericórdia e seus bons frutos. Da vivência da sabedoria nascem a prática e os frutos da justiça. Este fruto de sabedoria se torna semente que vem a frutificar abundantemente na vida pessoal e na vida da comunidade, produzindo a paz para todos. Somente quem cria PAZ é que se torna sempre um sábio verdadeiro.

 

Na próxima edição do Jornal Metropolitano, estaremos refletindo sobre o capítulo 4º onde Tiago apresenta alternativas para bem vivermos a sabedoria do alto.

Padre Marcelo Lázaro

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