Continuando nossos passos pela Carta de Tiago, o capítulo 5 inicia uma abordagem dupla: retoma a exortação à espera paciente da Parusia (Tg 5, 7-11) e faz exortações conclusivas sobre a vida da Igreja (Tg 5,12-20), como o cuidado com os enfermos, com especial atenção à Unção dos Enfermos, além da confissão.
O texto continua sua temática escatológica. A diferença é que o texto apresentava um “dia de ameaças” aos ricos e, agora, volta-se aos cristãos, com exortações e consolação de estilo profético, usando o apelo de “irmãos”. Para os cristãos, o “dia” escatológico será a “Parusia do Senhor”, ou seja, a vinda gloriosa do Senhor, encontro com Cristo, glória e não julgamento. Os cristãos devem esperar com paciência o “dia” do Senhor e encontram forças para perseverar no caminho do bem não por causa de sua situação de opressão, como se isto fosse sinal de eleição, mas da certeza da salvação que virá plenamente. Também os cristãos se confrontarão com o juízo final, que não é reservado somente aos pagãos, aos ímpios, aos ricos. Todos terão seu julgamento, seu confronto diante de Deus. Entretanto, o que será motivo de medo e ansiedade para alguns, será motivo de glorificação para outros. O julgamento não é sentença, pois ele traz consigo a parusia, momento que porta consigo a promessa de salvação eterna. Será a manifestação de Jesus Cristo em poder e glória, no fim dos tempos. Para Tiago, o Senhor indica o próprio Deus, mas o teor do texto é totalmente cristológico, ou seja, a manifestação gloriosa de Deus se dá na parusia de seu Filho Jesus Cristo.
Não se trata de uma simples espera, mas uma espera paciente, confiante, perseverante, como do homem do campo que espera a semente germinar. Nada que ele possa fazer irá acelerar a germinação ou a produção do fruto, mas ele espera com confiança e esperança, certo da colheita que virá. Esta é a espera pela parusia de Jesus. Não se deve perder a esperança ou a paciência. É preciso perseverar até o fim. Ainda que venham tribulações e dúvidas, não se deve jamais perder a esperança da vinda do Senhor. A parusia “está à porta” significa não uma dimensão temporal, mas uma certeza confiante da vinda do Senhor.
A perícope termina com outros exemplos do AT. Em Tg 2, falava-se de Abraão e Raab, como modelos de prática de boas obras. Aqui se fala dos profetas e de Jó, como exemplos de perseverança paciente. Mesmo diante das dores e perseguições, todos são chamados a se manterem firmes na esperança escatológica. Ser cristão não é estar liberto das dores. Os profetas, que falaram em nome do Senhor, não foram poupados das dores e provações da fidelidade e perseverança. Foram mártires da confiança em Deus. Jó vem proposto como o modelo exemplar de uma firmeza em meio às dores, que nunca perde a fé, mesmo diante das diversas tentações. Jó é o modelo da perseverança que suporta tudo. O autor não alude o retorno aos bens terrenos, mas mostra que a grande glória de Jó é a presença de Deus em sua vida futura. Da mesma forma, a cruz de Jesus não é a palavra final diante de sua total perseverança obediente. A ressurreição, a vinda do Senhor é a Palavra final. Mesmo diante de todas as tentações e sofrimentos, o Senhor, pleno de misericórdia e compaixão, garante-lhes a vida eterna.
As exortações conclusivas de Tiago referem-se à vida da Igreja. Uma das novidades é a proibição aos juramentos, que remonta diretamente à tradição de Jesus (Mt 5,37) e estabelece uma relação especial com o julgamento escatológico. Ainda existem algumas indicações quanto à oração na aflição e na doença. Ressalta a importância da oração e apresenta um último exemplo do Antigo Testamento, como modelo de oração, o profeta Elias. O texto termina aludindo aos irmãos que se distanciaram da verdade. Esses irmãos são considerados heréticos.
A proibição de jurar em nome do Senhor, ou seja, de tomar Deus como testemunho de algo que você apresente, já é de praxe no AT. O judaísmo conhece numerosos juramentos e declarações solenes e apresenta a importância de não fazer um juramento “de coração leve”, ou seja, um juramento sem verdade, sem peso, sem consciência. Eclo 23,9-11 diz: “A tua boca não se habitue a jurar, e não faça um hábito nomear o nome do Deus Santo … um homem que muito jura comete injustiças em abundância”. Aos judeus, como aos gregos, era proibido jurar. O v. 12 proíbe qualquer juramento, seja em nome de Deus, seja usando substitutivos para o nome do Senhor. Onde o SIM é verdadeiramente SIM e o NÃO é verdadeiramente NÃO, o juramento é supérfluo.
Padre Marcelo Lázaro