A Via-Sacra ou Via Crucis é o caminho que nosso Senhor Jesus Cristo percorreu desde o palácio de Pilatos (praetorium) até a montanha do Calvário (Gólgota), onde foi crucificado. Consequentemente, a resposta da origem da via sacra é muito específica, sendo ela uma tradição na igreja há séculos, rezada principalmente nos dias da Quaresma e na Sexta-feira Santa.
Deve-se dizer que, antes de tudo, a Via Sacra é a estrada que Jesus percorreu em Jerusalém há quase dois mil anos. Esta rota, que pode ser visitada na Terra Santa, também conhecida como Via Dolorosa, passa exatamente pelo mesmo lugar por onde passou o Redentor carregando a cruz.
Através da Via Sacra, a Igreja faz memória deste caminho em oração e meditação sobre o mistério da paixão e morte do nosso Salvador, dividindo-o em catorze estações, a primeira das quais é a condenação de Jesus e a última, quando Jesus é colocado no sepulcro.
Segundo alguns autores antigos, o costume de percorrer este trajeto remonta ao tempo de Constantino Magno (século IV) para comemorar o amor apaixonado de Cristo por nós, num clima de oração e penitência. No entanto, ainda não tinha a estrutura que conhecemos hoje.
Uma tradição que começou com os franciscanos
Uma antiga tradição sustenta que provavelmente os franciscanos adotaram esta piedosa prática, estabelecendo a maioria das estações que se consideram hoje. Lembremos que a eles foi concedida, no século XIV, a custódia de diversos lugares santos.
Reconhecendo quão salutar é meditar os mistérios da Paixão do Senhor e considerando o difícil que era para muitos ir até a Terra Santa, no século XVII, o Papa Inocêncio XI permitiu aos franciscanos colocarem as estações da Via Sacra em suas igrejas para poder imitar a experiência que viviam os frades nas ruas de Jerusalém. Mais tarde, no século XVIII, Bento XIII estendeu o convite desta prática a todos os fiéis. Enfim, foi em 1731 que o Papa Clemente XII estabeleceu definitivamente o número das quatorze estações que conhecemos atualmente.
O belo importa
A Comunidade Católica Shalom conta com São Francisco de Assis como um de seus baluartes e, além disso, é dotada de um carisma marcado pelas expressões artísticas, tendo assim uma grande preocupação com o belo. Deus é essencialmente belo, fora Dele não existe beleza real. Sendo assim, a arte tem a missão de falar de Deus através da beleza. O belo importa porque sempre comunica algo, e tanto a beleza quanto a comunicação desta beleza estão escondidos, também, nos detalhes. Esta beleza é imperiosa, pois leva-nos à meditação acerca de quem é o Belo de verdade, nos revela quem é Aquele que torna nossa vida bela, ressignificando toda feiúra que o pecado deixa em nós. Esta beleza nos leva à oração.
Por isso, para a Comunidade Shalom a ideia sempre é unir a beleza com o sagrado, para que se possa evangelizar e alcançar muitas pessoas que não têm uma experiência com o amor de Deus de outras formas.
Apresentação da Via Sacra no Santuário Basílica de Nossa Senhora da Abadia, em Uberaba-MG
Desde o início, a motivação era trazer a meditação da Via Sacra para o mais próximo possível de quem estivesse assistindo, não próximo em termos de localidade, mas de vida. Queríamos inserir a vida do homem de hoje na apresentação e cravar no coração do espectador o significado do Mistério da Paixão de Cristo. Esse era nosso desafio – explica Kadu Ferreira, membro do Shalom e responsável pela apresentação da Via-Sacra.
Para alcançar tal objetivo, contamos com membros do Shalom de Uberaba e paroquianos da Abadia, distribuídos em um coral composto por dezessete pessoas, entre cantores e instrumentistas; um elenco com vinte participantes e um balé com cinco jovens meninas; além de amigos queridos que nos socorreram na produção. Por causa das meditações e também dos desafios encontrados, a Via-Sacra foi intitulada “Corajoso Jesus”.
As músicas foram selecionadas de acordo com cada estação a ser meditada. Por sua vez, as encenações buscaram relatar os fatos do momento histórico da crucificação de nosso Senhor, mas sem deixar de fazer uma leitura atual do sofrimento humano. Já as meditações tinham como principal objetivo permitir aos presentes identificarem realidades e questionamentos da vida cotidiana.
O jovem João Vitor Pereira, responsável pela direção musical, relata que “poder contemplar a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo por meio da música, e ainda mais coordenar o ministério que anunciou este sacrifício por meio do canto, foi primeiramente uma honra, mas ao mesmo tempo uma renúncia. Uma honra porque mesmo sem ter uma formação musical integral, atendi ao chamado de Deus que me capacitou diariamente. E uma renúncia, pois pude viver cautelosamente as dolorosas vias que Cristo percorreu. Ao imaginar as Suas dores naquele estado, não só eu, mas todos os que participaram do ministério, tivemos a chance de ver nos olhos da assembleia as nossas súplicas, fazendo com que a encenação deixasse de ser meramente um espetáculo e se humilhasse em forma de oração, assim como fez Cristo”.
Após a experiência desta via sacra, seguimos também nós apaixonados e certos de que Ele fez tudo novo a cada marca de seu corpo.
Kadu Ferreira
Promotor Apostólico
Comunidade Católica Shalom / Uberaba-MG