Cultura da Paz

   Nesses últimos tempos, vêm se intensificando notícias de tristes acontecimentos de violência. Se não bastasse a terrível guerra entre Rússia e Ucrânia – e outras guerras planeta afora – chegam-nos notícias de ataques a crianças, adolescentes e professoras em escolas, aqui no Brasil. Lugar – que seria sinônimo de educação, respeito e valores – vem se tornando espaço de ameaças, medo e insegurança.

   Está se proliferando, na sociedade brasileira e no mundo, uma cultura de ódio, de intolerância e de vingança. Nosso país – reconhecido internacionalmente pela alegria de suas festas e pela ginga do futebol – está se tornando irreconhecível. Em muitos ambientes, destila-se violência e a maldade permeia muitos corações.

    Recordo-me dos tempos difíceis da pandemia. Muita coisa se disse, se escreveu e se publicou sobre as lições de humanidade que estávamos aprendendo com o isolamento físico, com a ameaça constante e até o risco de extinção da raça humana sobre a terra. Nem mesmo havia sido declarada a superação oficial da pandemia e nos esquecemos daquelas lições… Terminado o isolamento físico, o homem voltou a ser “lobo para o próprio homem”, como já havia sido anunciado pelo filósofo Thomas Hobbes.

    Há 60 anos, o Papa João XXIII lançava importante encíclica sobre a paz na terra (Pacem in Terris, 11/04/1963). Num mundo dividido entre dois blocos opostos, o risco de uma guerra nuclear era iminente. Tal divisão era marcada simbolicamente pela construção do muro de Berlim. O Papa lançou um apelo apaixonado a cada liberdade para contribuir pela libertação de todos os seres humanos, na comunhão de valores, conclamando a todos a construir o bem comum universal, posto a serviço do desenvolvimento total de cada pessoa humana.

    Após tratar dos direitos e deveres do ser humano, João XXIII passou a verificar alguns sinais dos tempos, sempre com olhar de esperança, mas com os pés na realidade. O Papa acentuava que as relações precisam ser pautadas em quatro princípios: verdade, justiça, solidariedade dinâmica e liberdade. Espera-se que as pessoas venham a conhecer melhor os laços comuns da natureza que as unem, despertando-as para o amor que promove a colaboração leal e portadora de inúmeros bens.

   A paz consiste na mútua confiança, assegura o Papa. É essa mútua confiança que estamos perdendo. Desconfiamos dos outros. O outro se tornou uma ameaça para minha segurança e integridade, tamanho tem sido o avanço da cultura do ódio e da violência. Precisamos transpor essa contracultura, à luz de princípios éticos e evangélicos: “Eu vos dou um novo mandamento, que vos ameis uns os outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,34-35).

    Construir a cultura da paz supõe perdão e justiça. Não é possível construir a paz com o coração repleto de ódio e de rancor. Desse coração, se não for curado, só sairá violência. Também não se constrói a cultura da paz num mundo de injustiças. A paz é fruto da justiça, como nos lembrou o Papa Pio XII, São Paulo VI e outros papas, à luz da Palavra de Deus.

     Na mesma linha de seus antecessores, aprofundando o tema, o Papa Francisco nos diz, em sua inspirada encíclica Fratelli Tutti: “Sonhamos como uma única humanidade, como viajantes feitos dessa mesma carne humana, como filhos dessa mesma terra que hospeda a todos nós, cada um com a riqueza de sua fé ou de suas convicções, cada um com a própria voz, todos irmãos!” (FT,8). E conclui em sua encíclica sobre a fraternidade universal: “Com a potência do ressuscitado, deseja dar à luz um mundo novo, onde todos somos irmãos, onde haja lugar para todos os descartados de nossa sociedade, onde resplandecem a justiça e a paz” (FT,278).

 

Padre Geraldo Maia

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