Encantar a Política

Este é o título de um caderno publicado recentemente, com o subtítulo: “Preparando as eleições”. É fruto do trabalho de uma rede de organizações, serviços, pastorais sociais e organismos da Igreja, Rede Brasileira de Fé e Política, destacando aqui o CNLB (Conselho Nacional do Laicato do Brasil), o CEFEP (Centro Nacional de Fé e Política “Dom Helder Câmara”), a Comissão Brasileira Justiça e Paz, a Semana Social Brasileira, dentre outros.

O objetivo principal desse Caderno é abrir os horizontes da Boa Política para mais gente da Igreja. É um projeto que retoma questões centrais de documentos do Papa Francisco – Laudato Sí, Fratelli Tutti e da Exortação Apostólica pós-sinodal, Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho). Esses documentos tratam a Política como decorrência ética do mandamento do amor, assumindo-a no sentido mais profundo da palavra. É um projeto que busca aplicar os ensinamentos do Papa Francisco a nossa realidade atual.

O título do caderno – Encantar a Política – deixa transparecer que a Política foi desencantada… De fato, há tantas experiências desastrosas, decepções, incoerências, contratestemunho de lideranças políticas, que se percebe um desencanto de boa parte da população brasileira. No entanto, “a política é um campo extenso e, como cristãos, não podemos nos omitir porque ela faz parte da amizade social, de nossa luta pela vida e pelo bem comum” (CNBB, Caderno Encantar a Política, p. 27). É preciso mesmo reencantar a política!

O Papa Francisco nos esclarece: “A política não é a mera arte de administrar o poder, os recursos ou as crises. A política é uma vocação de serviço”. E continua: “Fazer política inspirada no Evangelho a partir do povo em movimento pode se tornar uma maneira poderosa de sanar nossas frágeis democracias e de abrir o espaço para reinventar novas instâncias representativas de origem popular”. (Discurso 04/03/2019).

Baseado na Introdução do Caderno, apresentaremos suas grandes linhas de orientação. No Primeiro Capítulo, o texto trata da universalidade do Amor cristão. Retoma o ideal das primeiras comunidades cristãs dos Atos dos Apóstolos; trabalha o conceito do amor ao próximo na Fratelli Tutti, a solidariedade como valor, e propõe buscar o bem comum como ampliação e organização política da solidariedade.

No Segundo Capítulo, o tema é a amizade social e a ética política. Neste capítulo, se reflete sobre a Política como “amizade social” e como “ciência e arte do bem-comum”; são abordados aspectos da Política que raramente são expostos na vida cotidiana – e menos ainda – nos meios de comunicação e redes virtuais. Apresenta-se aí a realidade atual da política no Brasil, proposta para a ação e os diferentes espaços da política.

No Terceiro Capítulo, são abordadas as grandes causas do Evangelho; o que a Igreja quer, quando nos convida à ação transformadora no campo da Política; o que política tem a ver com a Evangelização e qual é sua missão específica; Evangelização e Política; a Paz fundada na Justiça; as causas estruturais da pobreza e, finalizando, é retomada a expressão “Civilização do Amor”, preferida por São Paulo VI e muito querida de São João Paulo II e do Papa Francisco, para expressar o projeto político que a Igreja quer para a Humanidade.

O Quarto Capítulo aponta como a parábola do Bom Samaritano ajuda a expor a necessidade da amizade social em nossos dias. O Papa Francisco abre o horizonte da espiritualidade cristã para a Política como “ciência e arte do bem comum” e nos convida a dar mais um passo: alargar o âmbito da política para nele incluir “nossa irmã Terra”. Para isso, ele se inspira na figura do irmão universal, que é São Francisco de Assis. Ecologia Integral; Grito da terra, Grito dos pobres e qual o lugar da política são temas também tratados neste capítulo.

O Quinto e último Capítulo aborda as eleições e a democracia. Tendo refletido sobre diferentes campos da política como amor social, seguindo o ensinamento do Papa Francisco em suas encíclicas, cabe agora levantar a questão eleitoral. Embora a política seja muito mais do que eleições, este é um tema que não pode ser ignorado. Com mais razão ainda, pois o Brasil está numa crise político-econômica que abalou seriamente a confiança do povo nas instituições e o processo eleitoral é o momento mais favorável para um grande debate nacional a fim de encontrar a melhor saída para a crise. Esse capítulo recorda ainda a crise política e institucional do Brasil; aponta os princípios éticos para um governo de união nacional; destaca o papel dos movimentos populares e sociais e convida a todas as pessoas para participarem ativamente nas eleições.

Logo na apresentação deste importante Caderno, Dom Walmor Oliveira de Azevedo – Arcebispo de Belo Horizonte e Presidente da CNBB – faz um apelo à participação de todas as pessoas de boa vontade no processo político: “nenhum cristão pode permanecer alheio à tarefa de contribuir para que a sociedade se torne mais justa, solidária e fraterna: é compromisso de fé dedicar atenção à política, buscando resgatar sua nobre vocação – singular expressão da caridade”.

Padre Geraldo Maia

Compartilhe: