Ações nascidas das virtudes da Caridade e da Piedade
Caro Leitor:
Paz e bem!
A vida e a obra do Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò nos faz reconhecer-nos próximos de um homem de Deus, um homem que consagrou toda sua vida a Deus. Nele, tudo nos remete a uma vida de simplicidade, de serviço e dedicação aos pobres. Frei Gabriel viveu para servir. Estamos apresentando alguns episódios de sua vida que nos mostram quem foi e o que fez esse homem de Deus.
CARIDADE SEM FRONTEIRAS
O “Irmão de todos” auxiliava a todos sem olhar as condições sociais e a religião ou a falta dela. Cada ser humano diante dele já era suficiente para dar razão a seu apostolado tão meritório. “Fazer o bem sem olhar a quem”, já nos diz o famoso ditado popular.
Várias instituições caritativas em Frutal receberam muitas vezes seus donativos e visitas, todo seu carinho de homem generoso cuja caridade não encontrava fronteiras. Os pobres e carentes ajudavam Frei Gabriel a encontrar a Cristo e, na comunhão e na vida deles, o frade se revelou para o resgate da dignidade de todo ser humano, merecedor de amor, carinho e cuidados.
“Se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá sua recompensa” (Mt 10, 42).
QUALQUER HORA
O frade não tinha hora para ajudar o próximo. Ajudava sempre. Seu expediente não conhecia horário nem burocracia. Em qualquer hora da noite e do dia em que fosse solicitado, estava presente.
Morando em Frutal, altas horas noturnas era chamado muitas vezes para atender doentes pobres e pessoas vindas da roça, com casos graves, em busca de internação. Levou assim muitos doentes até Araraquara, no estado de São Paulo, para internações. Tinha extremo cuidado com os doentes, e eles lhe obedeciam como que fascinados por sua paciência. E muitos melhoravam e vinham agradecer a Frei Gabriel, o irmão feito caridade.
ENFERMEIRO
Era frequente constatar-se que Frei Gabriel não tinha receio de passar a noite toda à beira da cama de um doente, fosse no Hospital, fosse no Asilo. Quando faltava a enfermeira, ele então ali permanecia, medicando a tempo e hora o doente que se consolava muito com a caridade do particular “enfermeiro”.
Só saía mesmo quando sua presença não era tão necessária e outro afazer o chamava, de imediato.
Ele não tinha conhecimentos científicos de enfermagem. O que mais valia, nessas horas, era, sim, sua atitude mental e religiosa diante do enfermo. Sua presença, sua confiança, seu carinho, sua amizade. E sua palavra: “Você vai melhorar”.
PIEDADE
Sua piedade, sua fé de devoção eram admiráveis. De maneira serena e sem exageros ou arrebatamentos. Na vida escondida, mantinha sua vida espiritual em íntima unidade com Deus.
Frei Benigno, que morou com ele durante seis anos, disse que Frei Gabriel jamais faltava à missa e à comunhão, diariamente. Quando não podia estar na igreja pela manhã, esforçava-se por estar à noite. Rezava todo dia seu Terço e, mesmo na igreja, antes ou depois da missa, puxava o Terço com a comunidade. Além do Terço, rezava piedosa e constantemente o Ofício Religioso prescrito na Regra de São Francisco para os irmãos que não fossem sacerdotes.
A Semana Santa era tempo especial de oração e piedade para ele. Deixava para outro tempo algum trabalho mais árduo e queria participar de todos os atos litúrgicos. Na adoração noturna que se fazia ao Santíssimo Sacramento, ele simplesmente permanecia firme, noite adentro, rezando e vigiando. Um ou outro frade acordava e ia à igreja e lá encontrava o irmão juntamente com outros devotos. Sua piedade foi um exemplo para os frades e para o povo.
HÁBITO REMENDADO
O hábito capuchinho, de cor castanha e cordão branco, foi sempre a indumentária do religioso em qualquer circunstância. Frei Gabriel nunca ficou sem seu hábito. Na estrada cheia de poeira ou no salão de festas beneficentes, no casebre ou no palácio da capital, em qualquer lugar, estava trajado com seu hábito capuchinho que se apresentava Frei Gabriel. Ele, o burel descuidado, desengonçado, marcado pelo trabalho e testemunha da missão, que pregava alto a respeito da pobreza de seu dono.
Lendo uma página do famoso Padre José de Anchieta, podemos lembrar do Frei Gabriel e de sua roupa velha. Padre Anchieta fazia o perfil do Padre Nóbrega: “No tratamento pessoal era necessário terem cuidado dele, porque ele não o tinha de si. Era de pouco comer. Ainda que de compleição delicada, nenhum trabalho receava, como andar a pé por caminhos muito ásperos de matos e serras, com grandes frios, chuvas e alagadiços. E, às vezes, por não poder com o peso da roupeta, caminhava sem ela, por escusar ser levado às costas alheias. Seu vestido era pior e não podia trazer roupa nova, senão a velha e remendada e sem uso de manto, porque então pela pobreza o não havia”. (Anchieta, o escoteiro do Brasil, p. 14, de Waldemar Tavares).
Caros leitores, há tempos estamos caminhando juntos no conhecimento da vida e da história do Servo de Deus Frei Gabriel de Frazzanò. Desde dezembro de 2020, por meio deste Jornal Metropolitano da Arquidiocese de Uberaba, a cada mês nos encontramos e trilhamos o caminho missionário desse simples Frade Capuchinho. No próximo mês, encerraremos esta primeira fase de artigos sobre o “Irmão de todos”. Contudo, não encerraremos as atividades em prol de sua Causa de Beatificação. Como fazia Frei Gabriel, nos encontramos todos na oração.
Fraternalmente,
Frei Vicente da S. Pereira, OFMCap
Frei Glaicon G. Rosa, OFMCap