Concluímos nossa reflexão sobre as Cartas Católicas. Tendo conhecido as referências desta pequena carta, somos chamados a conhecer as razões, a intenção do autor que a escreveu, inspirado pela ação do Espírito Santo.
Ao escrever aos fiéis sobre o tema da salvação cristã, apela aos cristãos que lutem pela fé e não aceitem os doutores heréticos que se infiltram na comunidade. Estes falsos doutores rejeitam a soberania de Jesus Cristo e ensinam desvirtuamentos da fé. Eles são comparados aos representantes do mal, escritos no Antigo Testamento. A presença deles no seio da comunidade era como uma nódoa no amor agápico da comunidade cristã. A característica dos cristãos deve ser o amor doação, a presença de Cristo na comunidade. Aqueles que rejeitam a fé na prática da vida acabam dividindo os irmãos.
Os fiéis não devem se deixar seduzir por seus erros, mas aderir firmemente ao ensinamento dos Apóstolos (vv. 17-19), erguendo suas construções (vida de fé) sobre o firme fundamento da religião cristã que professam. Pela oração no Espírito Santo, devem conservar-se no amor de Deus e, de olhos fitos na misericórdia de Cristo, caminhar naquele que é o único que conduz à vida eterna (vv.20s).
Os fiéis não devem expulsar os falsos doutores; inicialmente, tentar convertê-los, convencê-los da verdade e, assim, ajudá-los a se libertarem do fogo do castigo, no dia do juízo eterno. Devem ter um olhar compassivo para eles, mas sempre evitando se contaminar, detestando sempre o pecado.
A doxologia final resume a fórmula trinitária dos versículos 20-21 e apresenta grande semelhança com Rm 16,25-27 e 2Pd 3,14. “Vós, porém, amados, edificando-vos em vossa santíssima fé e orando com Espírito Santo, mantende-vos no amor de Deus, ao passo que aguardais a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, visando à vida eterna.”
Judas apresenta Deus como Pai que, por puro amor, tomou a iniciativa da salvação dos fiéis e os chamou à graça, que consiste na vida eterna e na participação de sua glória. Um dia, Deus punirá os ímpios que se distanciam da reta vida. Jesus Cristo, como Deus Pai, recebe o título de Senhor em razão do papel único e insubstituível que realiza na obra salvífica de Deus Pai. Sua mensagem chega às comunidades através da missão exercida pelos apóstolos. O Espírito Santo é o guia dos Apóstolos e o único pelo qual se pode obter a constância da fé.
A salvação é fruto da fé, que foi transmitida aos fiéis uma vez por todas (caráter indelével do Batismo). A fé consiste em reconhecer Jesus Cristo como Senhor e implica a espera confiante de sua misericórdia para a vida eterna. Para manter a fé, é necessário tomar posição no confronto com os ímpios heréticos, buscando salvar aqueles que ainda estão abertos a uma mudança de vida e separando-se das falsas doutrinas. É sobre a fé verdadeira e santa que os fiéis constroem seu edifício espiritual, na caminhada para a vida eterna.
Agradeço a todos que nos acompanharam ao longo destes anos na reflexão bíblica. Encerramos hoje nossas reflexões sobre as Cartas Católicas. Através do Jornal Metropolitano, ao longo de mais de nove anos, conseguimos conhecer um pouco do tesouro da Sagrada Escritura, Palavra viva de Deus. Caminhamos pelos métodos de interpretação, do papel do Magistério, da importância da Palavra e pelas trilhas das Cartas Paulinas e, agora, Cartas Católicas. Que Deus nos conduza em sua graça e sua bênção. Que o amor pela Palavra de Deus nos inspire cada dia de nossa peregrinação ao encontro de Cristo no irmão. Com minha gratidão!
Padre Marcelo Lázaro