Desde o ano de 1982, com o tema: Educação e Fraternidade, aprofundou-se o lema ‘A Verdade vos Libertará. A Educação passou a ser uma questão social preocupante, Sendo assim, é de fundamental importância que lutemos para sua concretização pautada em projetos sérios e com base em sua inclusão e universalização.
Se a dor do outro não dói em mim, “como posso ter sono sossegado”? como proposto numa música litúrgica. Infelizmente, a ação educativa carece de um olhar mais humanizado e comprometido com todas nossas crianças e adolescentes ou jovens. Afinal, a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família. Sendo assim, é necessário que nós, da Pastoral da Educação, tenhamos um olhar mais apurado e incisivo sobre a Inclusão.
Falar sobre a Escola Inclusiva é proporcionar a quebra de paradigma de uma escola marcada por um sistema elitista que herdamos e que valorizava a formação “dos melhores e para os melhores”. Uma escola carente de uma proposta de integração dos sujeitos sociais nela envolvidos, mas tão somente competitiva, uma vez pautada pela diferença entre os que “conseguiam aprender” e os que “jamais dariam conta de aprender”.
Propor, aceitar e praticar uma escola inclusiva é, na prática, o investimento sem medo na construção de uma nova maneira de enxergar o mundo, como nos ensina Platão na “Alegoria da Caverna”, por conta de termos de enfrentar o vislumbre de uma realidade até então desconhecida. Uma espécie de coragem para ter de renascer, marcados por novos sonhos e novos projetos de engajamento nas demandas da sociedade.
Incluir não é, e nem poderia ser, apenas o ato “automático” de colocar o outro, o diferente num espaço que não pertence a ele. Incluir é dividir meu espaço, como sujeito social (professor, aluno, gestor, família…), para que o outro me ensine a “aprender a aprender” numa relação permanente de troca. É respeitar as diferenças, pois somos seres diferentes na maneira de ver, julgar e agir no mundo, plenamente humano. O então chamado “deficiente”, por exemplo, não é, como até então se apregoa, um “portador”, mas uma característica da pessoa em sua completude.
Para que as escolas assumam a inclusão como um projeto sólido e consequente, é necessária a criação e a efetivação de uma relação profunda e intrínseca com a sociedade, numa rede solidária onde todas as pessoas, direta ou indiretamente, possam aprender a partilhar e compartilhar suas diversidades, valorizando e respeitando as competências e capacidades diferenciadas presentes no ato de ensinar e aprender. É preciso, acima de tudo, uma escola em que seus protagonistas sejam pessoas sensíveis e humanizadoras que partilhem seu tempo (de trabalho, lazer, dedicação) para entender e perceber que a alegria do outro só é possível se o outro é capaz de nos fazer felizes com sua presença.
Construir e perpetuar uma escola inclusiva requer, além do respeito às diversidades, a valorização do tempo próprio de cada um e caminhos alternativos de como ele aprende. Podemos pegar o exemplo de uma criança totalmente sem visão. Para nós, enxergar o mundo é poder ver as cores, os formatos dos objetos. Mas para tal criança minha maneira de ver o mundo é impossível. Então, nós, educadores, precisamos buscar outras maneiras de ensiná-la a perceber o mundo e, agora, não só pela visão, mas pelo sentimento, cheiro, sonhos etc. Quem vai nos dizer que esta criança não aprende? Ou melhor, quem vai poder nos dizer que não lhe ensinamos?
Uma escola inclusiva não é tão simples como o ensino de dois mais dois, na matemática. Estamos diante de um enorme desafio que deve revolver toda herança de nossa prática pedagógica, com o aporte de todos os sujeitos sociais, dentro ou fora da escola. Trata-se do investimento sem tréguas numa nova ação-reflexão-ação a ser continuada.
À luz do Cristo que ensinou o cego a enxergar, e isso vale para todos nós, vale a pergunta: A escola, como equipamento social em busca de sua própria ressignificação, está preparada para realização dessa utopia da inclusão?
Maria Rita Nascimento Pereira
Coordenadora da Pastoral da Educação