História

Goyaz Diamantina – Republica do Brazil

Decreto de Desmembração e Erecção da Nova Diocese de Uberaba

“(…) Portanto para o bem, para a prosperidade e felicidade e o incremento da religião e da glória de Deus, Sua Santidade, usando do poder reservado expressamente a si e á Sé Apostolica nas lettras apostolicas “ad universas orbis ecclesias” do dia quinto das Calendas de Maio do anno do Senhor de mil oitocentos e noventa e dois, de livremente proceder a nova circumscripção de limites nas Dioceses do Brazil sempre que isso julgasse oportuno no Senhor,decretou separar do territorio da diocese de Goyaz toda a região chamada Triangulo Mineiro e della com outras determinadas parochias da Diocese Diamantina, abaixo mencionadas, erigir a nova Sé Episcopal com a denominação de Uberaba, cidade principal da mesma região do Triangulo Mineiro, e ordenou que de tudo isso fosse lavrado um Decreto consistorial com o mesmo valor de lettras apostolicas expedidas sob o sello e annel do Pescador e fosse inserido entre os actos da Sagrada Congregação Consistorial.

Separamos da Diocese de Goyaz a parte que pertence ao Estado de Minas Gerais chamadaTriangulo Mineiro; egualmente separamos da Diocese de Diamantina as parochias Urucuia ou Burity, Capim Branco ou Rio Preto, Paracatu, Alegres, Santa Rita de Patos, Catinga, Sitio da Abbadia, Cana Brava, Capão Redondo, S. Romão, Formoso, S. João da Pinduca, e origimos e constituímos todo este territorio, assim dividido e separado, em uma nova diocese que chamar-se-á de Uberaba, onde o novo Bispo e seus sucessores deverão residir em perpetuo, e eximimos e subtrahimos todos os habitantes de um e outro sexo, quer sejam leigos, quer clérigos ou religiosos não isentos que habitarem dentro dos limites da nova diocese, as Egrejas, os Conventos, os Mosteiros, os Institutos pios existentes dentro dos mesmos limites e outros quaesquer Benefícios seculares ou regulares, da jurisdicção ordinaria dos Bispos da Diocese de Goyaz e Diamantina, e de todo o direito dos Cabidos e dos Conegos das mesmas Egrejas Cathedraes, e os sujeitamos a submettemos em perpetuo á nova Egreja Episcopal de Uberaba e a seu futuro bispo quanto ao territorio, cidade, diocese, clero e povo.

(…) Erigimos a cidade principal existente nesta região, chamada Uberaba, em cidade Episcopal com todos os direitos e honras e prerogativas, de que gozam e fruem as demais cidades existentes no Brazil, e seus habitantes que tem Sé Episcopal.

Constituimos ainda a Egreja sita na mesma cidade, dedicada ao SS. Coração de Jesus, Egreja Cathedral sob o mesmo titulo e invocação e nella erigimos e constituímos a Sé e a dignidade episcopal para um Bispo que se chamará de Uberaba, Cathedraes existentes no Brazil e seus Bispos, exceptuado o que for de titulo oneroso ou de indulto peculiar.”

Pius P. P. X

Nós, que como Pedro, príncipe dos Apóstolos, fomos elevado ao supremo governo da Santa Igreja, e recebemos, pela caridade do Pai, sobre Nós, o encargo de apascentar o rebanho cristão, não cogitamos nenhuma outra coisa mais santa do que levar a todos os povos o tesouro da santa religião de Cristo e torná-lo vigoroso, uma vez que uma só coisa preocupa o nosso pensamento, a saber, que aquela chama e aquela luz que o Filho de Deus trouxe à terra seja, não só intensamente acesa, como também, brilhe com esplendor entre os homens. (…)

Nós, considerada bem a questão e pedido o parecer dos Nossos Veneráveis Irmãos, os Eminentíssimos Cardeais colocados à frente dos Negócios Consistoriais e ouvidos os Ordinários interessados, determinamos e ordenamos o seguinte: da província eclesiástica de Belo Horizonte sejam separadas as seguintes dioceses: Uberaba, Patos de Minas, Uberlândia e Guaxupé; da província de Mariana: Juiz de Fora, Leopoldina, São João d’El- Rei, Pouso Alegre e Campanha; finalmente da província de Diamantina: a prelazia Nullius de Paracatú, hoje elevada à dignidade de Diocese. Com todas essas dioceses constituimos três novas províncias eclesiásticas, a saber: Juiz de Fora, Pouso Alegre e Uberaba, elevando essas mesmas Igrejas à dignidade de Sedes Arquiepiscopais, isto é, com todos os direitos e privilégios devidos. Destas Igrejas metropolitanas serão sufragâneas: de Juiz de Fora, Leopoldina e São João d’El-Rei; de Pouso Alegre, Campanha e Guaxupé; de Uberaba, Patos de Minas, Uberlândia e Paracatu.(…)

Portanto, por estas Nossas letras apostólicas, estabelecemos que, as Catedrais e Igrejas Colegiadas dos Cônegos, sejam elevadas ao grau e dignidade de Igrejas Arquiepiscopais e Metropolitanas, com os devidos direitos e privilégios.(…)

Queremos, finalmente,(…) como Arcebispo de Uberaba, o nosso venerável Irmão, Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, que foi Bispo desta Diocese até o presente. Todos esses Arcebispos poderão usufruir de todos os direitos de que gozam os demais Metropolitas em todo o mundo” isto é, de fazer levar diante de si, a Santa Cruz nas cerimônias sagradas e de usar o pálio. (…)

Dado em Roma, junto de São Pedro no dia 14 de Abril de 1962, quarto ano do Nosso Pontificado.

Joannes P. P. XXIII

Padroeiro da Arquidiocese

“Erigimos a cidade principal existente nesta região, chamada Uberaba, em cidade Episcopal com todos os direitos e honras e prerogativas, de que gozam e fruem as demais cidades existentes no Brazil, e seus habitantes que tem Sé Episcopal. Constituimos ainda a Egreja sita na mesma cidade, dedicada ao SS. Coração de Jesus, Egreja Cathedral sob o mesmo titulo e invocação e nella erigimos e constituímos a Sé e a dignidade episcopal para um Bispo que se chamará de Uberaba, Cathedraes existentes no Brazil e seus Bispos, exceptuado o que for de titulo oneroso ou de indulto peculiar” (Fragmentos extraídos da Bula de Criação da Diocese de Uberaba – Papa Pio X).

“O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim” (Gl 2,20). Jesus conheceu-nos e amou-nos a todos durante sua Vida, sua Agonia e Paixão e entregou-se por todos e cada um de nós: Amou-nos a todos com um coração humano. Por esta razão, o sagrado Coração de Jesus, traspassado por nossos pecados e para a nossa salvação, é considerado o principal sinal e símbolo daquele amor com o qual o divino Redentor ama ininterruptamente o Pai Eterno e todos os homens. (Catecismo da Igreja Católica, 478)

A morte de Jesus dá vida aos que morreram e “para que, do lado de Cristo morto na cruz, se formasse a Igreja e se cumprisse a Escritura que diz: Olharão para aquele que transpassaram (Jo 19,37), a divina Providência permitiu que um dos soldados lhe abrisse com a lança o sagrado lado, de onde jorraram sangue e água. Este é o preço da nossa salvação. Saído daquela fonte divina, isto é, no íntimo do seu Coração, iria dar aos sacramentos da Igreja o poder de conferir a vida da graça, tornando-se para os que já vivem em Cristo bebida da fonte viva que jorra para a vida eterna (Jo 4,14)” (São Boaventura. Lignum viate, 29-30.47).

“Eis o coração que tanto tem amado os homens e em recompensa não recebe da maior parte deles, senão ingratidões pelas irreverências e sacrilégios, friezas e desprezos que tem por mim nesse sacramento do Amor. Prometo-te pela minha excessiva misericórdia a todos que comungarem nas primeiras sextas de nove meses consecutivos a graça da penitência final. Estes não morrerão em minha inimizade, nem sem receberem os sacramentos. O meu Sagrado Coração lhes será refúgio seguro nessa última hora”. Essas foram as palavras de Nosso Senhor Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque mostrando-lhe o seu Coração transpassado pela espada.

Santa Margarida é eleita por Nosso Senhor a apóstola e confidente do seu Sagrado Coração. Por inúmeras vezes, de 1673 até 1675, esta jovem religiosa da Ordem da Visitação de Santa Maria, obteve a graça das aparições do próprio Jesus para incumbir-lhe da preciosa devoção ao seu Sagrado Coração, o que resultaria para a vida da Igreja no culto litúrgico como também na comunhão das primeiras sextas-feiras e a Hora Santa.

A primeira das revelações, num momento de adoração ao Santíssimo Sacramento, ocorreu no dia 27 de dezembro de 1673. Mas foi a A Beata Maria do Divino Coração quem pedira ao Papa Leão XIII que consagrasse solenemente esta devoção. O papa, acolhendo tão nobre pedido, assim se pronunciou, em 11 de junho de 1889, após a publicação da Encíclica Annum Sacrum: A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é uma forma por excelência de religiosidade. Essa devoção que recomendamos a todos será muito proveitosa. No Sagrado Coração está o símbolo e a imagem expressa do Amor Infinito de Jesus Cristo, que nos leva a retribuir-lhe esse amor.

Assim instituída pela Igreja, a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus é celebrada na sexta-feira seguinte ao segundo domingo depois de Pentecostes. E como extensão dessa festa litúrgica, há diversas formas de devoção ao Coração de Jesus, entre elas a consagração pessoal, que, segundo Pio XI, “entre todas as práticas do culto ao Sagrado Coração é sem dúvida a principal”; e também a consagração da família.

Em nossas Igrejas nas primeiras sextas-feiras, são realizados atos solenes de reparação, no intuito de motivar os cristãos a retribuírem com amor tantas e tão grandes provas de amor que Jesus fez e faz por todos os homens e mulheres.

Dos colóquios com Santa Margarida, o Senhor Jesus deixou doze promessas e pediu para que a religiosa difundisse essas mensagens e a devoção para o mundo inteiro. Jesus convida a que os fiéis participem da celebração da Missa durante as primeiras sextas-feiras em nove meses consecutivos, com uma confissão reparadora e a sagrada comunhão. E fez as doze promessas aos que atendessem ao seu pedido:

1- Dar-lhes-ei todas as graças necessárias ao seu estado de vida;
2- Estabelecerei a paz nas famílias;
3- Abençoarei os lares onde for exposta e honrada a imagem do meu Sagrado Coração;
4- Hei de consolá-los em todas as dificuldades;
5- Serei o seu refúgio durante a vida, e em especial durante a morte;
6- Derramarei bênçãos abundantes sobre seus empreendimentos;
7- Os pecadores encontrarão no meu Sagrado Coração uma fonte e um oceano sem fim de misericórdia;
8- As almas tíbias (tímidas e vacilantes na fé) tornar-se-ão fervorosas;
9- As almas fervorosas ascenderão rapidamente a um estado de grande perfeição;
10- Darei aos sacerdotes o poder de tocar nos corações mais endurecidos;
11- Aqueles que propagarem esta devoção terão os seus nomes escritos no meu Sagrado Coração, e dele nunca serão apagados;
12- Prometo-vos, no excesso da misericórdia do meu Coração, que o meu Amor Todo Poderoso concederá a todos aqueles que comungarem na primeira sexta-feira de nove meses seguidos a graça da penitência final; não morrerão no meu desagrado, nem sem receberem os Sacramentos. O meu divino Coração será o seu refúgio de salvação nesse derradeiro momento.

Os documentos conciliares do Vaticano II muito insistem na vocação de todos os fiéis ao apostolado. Estes não somente são convidados a uma atividade externa, mas também são aconselhados a que fomentem em si próprios uma união vital com Cristo, de modo especial a viverem a Liturgia e a meditação da Palavra de Deus e nela cresçam cumprindo a vontade divina. Por meio do Batismo, todos os fiéis participam do múnus sacerdotal, real e profético de Cristo, e são destinados pelo Senhor para a atividade apostólica de sua vocação.

Dentro dessa vocação universal ao apostolado, o Apostolado da Oração constitui a associação dos fiéis que, por meio do oferecimento cotidiano de si mesmos, se unem ao Sacrifício Eucarístico, no qual se exerce continuamente a obra de nossa redenção, e dessa forma, pela união vital com Cristo, da qual depende a fecundidade apostólica, colaboram na salvação do mundo. (Manual do Coração de Jesus).

Assim como Cristo, que propagou seu Reino e ao mesmo tempo remiu o mundo ensinando e praticando as obras de misericórdia, oferecendo desde o início sua vida ao Pai pelos homens, rogando por eles e consumando sua oblação pelo mérito pascal; assim também todo apostolado externo deve estar unido à oração e ao sacrifício a fim de que, em virtude do Sacrifício da Cruz, contribua para a edificação do Corpo de Cristo.

De sua parte, essa relação com Cristo, Sumo Sacerdote, necessariamente requer uma íntima união com Ele por meio do amor pessoal. Por isso, o Apostolado da Oração atribui singular importância ao culto do Coração de Jesus, pelo qual os fiéis, penetrando mais profundamente no mistério do amor de Cristo e daí participando mais estreitamente do mistério pascal do Senhor, correspondem ao amor com que nosso Salvador, imolando-se pela salvação do mundo, do seu Coração transpassado deu vida à Igreja (Jo 19,34).

Da nossa parte, é preciso, pois, que Lhe respondamos com o nosso amor. Ora, a Igreja nos ensina que o amor de Cristo está principalmente representado no seu Coração e nos convida a que reverenciemos esse amor, simbolizado pelo Coração de Cristo, como fonte de salvação e de misericórdia.

Texto de autoria de Pe. Gustavo Cortez Fernandez

Memória

Em termos canônicos a Paróquia de São Domingos de Gusmão, localizada na cidade de Araxá, existe desde a Lei n.º 814 de 20 de outubro de 1791 decretada quando D. José Luís de Castro, conde de Resende, era Vice-Rei do Brasil e D. Maria I, chamada a Louca, era Rainha de Portugal. No período colonial e posteriormente no período imperial vigorou no Brasil o regime do Padroado no qual o clero era juridicamente parte da burocracia administrativa brasileira, com funções políticas e cartoriais em acréscimo às funções eclesiásticas. Na ocasião de sua criação, destacamos a pessoa do primeiro vigário: Pe. Domingos da Costa Pereira. Desta forma é bastante comum que a maioria das paróquias datadas do século XVIII ou XIX tenham sido criadas por autoridades políticas e não pelo respectivo bispo. Um dos núcleos de povoação mais antigos do Triângulo Mineiro, a cidade de Araxá é a única cidade do território arquidiocesano de Uberaba mais antiga do que a própria sede. Sua importância para a colonização do então Sertão da Farinha Podre é incontestável pelos historiadores e se relaciona aos contatos ora amigáveis mas por via de regra violentos com os indígenas da região, tanto os caiapós quanto os arachás. O etnocídio indígena e a ocupação do território foi processo histórico ocorrido em toda a região.

Podemos conjecturar sobre a ação evangelizadora desenvolvida pelos padres araxaenses cravados no sertão brasileiro setecentista e oitocentista.  Certamente em comunhão com as determinações do Concílio Tridentino tinham uma compreensão da ação evangelizadora por meio de três pilares: o ensino da Sagrada Escritura e da Santa Doutrina (para uma população majoritariamente analfabeta composta sobretudo de escravos, índios, desterrados e bandeirantes) e a distribuição dos sacramentos. Podemos deduzir também que a piedade popular e devocional que ainda hoje podemos observar seja herança do catolicismo lusitano adaptado à realidade social do sertão brasileiro. Como consequências temos a clericalização da Igreja, a reação agressiva contra as outras religiões e a desvalorização da religiosidade popular considerada muitas vezes como superstição. Neste tempo os Sacramentos mais valorizados eram a Penitência e a Eucaristia, com uma ênfase enorme na Adoração do Santíssimo. Este modelo de evangelização na paróquia foi até o Concílio Vaticano II.

Segundo o memorialista Hildebrando Pontes em seu livro referencial De Ermida a Catedral a construção da primeira igreja-edifício de São Domingos de Gusmão foi inaugurada em 1800 e demolida em 1930. No século XIX ainda foram erigidas três capelas filiares: em 1830 a Capela de Nossa Senhora da Conceição, em 1843 os negros constroem uma Capela para Nossa Senhora do Rosário e em 1881 foi construída a Capela de Nossa Senhora da Abadia, nos dando pistas da historicidade, da intensidade e da dispersão da devoção à Senhora da Abadia.

Em 1926, a paróquia foi confiada à Congregação Salesiana durante o episcopado do 2º Bispo de Uberaba, ele próprio um salesiano, D. Antônio de Almeida Lustosa. Aos salesianos cabe o mérito, dentre o vasto legado pastoral que fizeram constituir, a construção do templo de grande destaque que é hoje a igreja matriz de São Domingos.

Segundo Pe. Manoel Claro Costa SDB, antigo pároco salesiano de São Domingos, “a partir do Concílio Vaticano II, novos métodos de evangelização foram implantados na paróquia. A valorização e formação do leigo e as ações pastorais de conjunto se constituem nas preocupações de Pastoral. Apesar da renovação do Concílio, a paróquia foi liderada por movimentos. Se antes as Irmandades e Congregações lideravam a Ação Pastoral posteriormente serão os Movimentos. Em ordem cronológica na paróquia predominaram o Movimento Familiar Cristão, o Cursilho, o Encontro de Casais com Cristo e, por último, a Renovação Carismática”. Destacamos como podemos notar os efeitos de dois grandes concílios na vida da Igreja através da ação evangelizadora numa paróquia centenária como São Domingos de Gusmão. Indiscutivelmente isso nos permite compreender a comunhão eclesial desde sempre estabelecida e a adaptação em terras brasileiras e araxaenses das decisões conciliares.

Atualmente, a Paróquia permanece sob os cuidados dos Salesianos de Dom Bosco SDB e tem como pároco Pe. Duille de Assis Castro que conta com o auxílio de outros três vigários: Pe. Hélio Comissário Silva, Pe. José Lacerda Sobrinho e Pe. João Carlos André.

Por Vitor Lacerda

Os dicionários costumam atribuir à palavra ermida como referente a uma capela rústica construída em lugar ermo, isto é, longínquo ou de difícil acesso. A primeira capelinha construída em Uberaba sob os cuidados de Santo Antônio e São Sebastião se situava próxima ao córrego Lajeado em 1812 e ali permaneceria até 1818 quando a população decidiu transferi-la para a antiga Praça Frei Eugênio por ser mais conveniente e mais próximo do núcleo de povoação daquela região nascente ainda tão desprovida de recursos no coração sertanejo do Brasil central. Antes de prosseguirmos, penso ser conveniente refletirmos sobre a escolha pelas pessoas daquela época de Santo Antônio e São Sebastião como padroeiros da primeira ermida uberabense. Longe de ser uma escolha aleatória, ela reflete o projeto civilizacional que marcava o espírito daquela época. Enquanto Santo Antônio, santo português e padroeiro de Lisboa, demonstrava o forte vínculo com a metrópole num período em que o Brasil ainda era colônia portuguesa, São Sebastião, santo romano e padroeiro dos soldados, simbolizava a força militar com a qual seria realizada a conquista do sertão brasileiro. O sargento-mor Antônio Eustáquio que recebeu provisões para desbravar e colonizar essa região foi agente de grande etnocídio contra as populações indígenas aqui previamente estabelecidas, sobretudo da etnia caiapó, hoje com poucos membros e bem longe do Triângulo. A escolha de Santo Antônio e São Sebastião simboliza, assim, a cruz e a espada, usadas na conquista e conversão do Brasil como nação católica e portuguesa. Se hoje nossos valores nos fazem enxergar isso de forma crítica, e bem o fazemos, ao ponto do Papa São João Paulo II por diversas ocasiões pedir perdão publicamente daquilo que ele dizia serem os pecados da Igreja ao longo dos séculos, precisamos tomar o cuidado para não sermos anacrônicos. É cômodo julgar personagens distantes de nós por mais de séculos; difícil, todavia, é compreender que provavelmente o faziam por ignorar as modernas teorias do relativismo cultural e ecumenismo e que foram motivados por uma convicção autêntica de que estavam por fundar uma terra cristã e civilizada neste agreste sertão e nos mais louváveis valores cristãos.

A igreja matriz onde hoje se localiza nossa catedral teve o início de sua construção em 1827 (o Brasil já havia se tornado independente) por intermédio de Vigário Silva mas seria apenas em 1854 que seriam realizados ali os primeiros ofícios religiosos. Esses 17 anos de construção de um templo razoavelmente modesto mostra-nos a precariedade econômica da população local nas primeiras décadas do século XIX. Enquanto a região nordeste ainda se mantinha com a produção e exportação de açúcar, a região central de Minas havia se convertido em grande polo econômico por conta do ouro e convertido a própria cidade do Rio de Janeiro em capital pela proximidade de ambas, São Paulo havia se caracterizado pelas atividades bandeirantes e a região sul pela produção de charque, em Uberaba ainda se definia uma economia em parte agrícola marcada pela produção de arroz (vide os ramos de arroz até hoje presentes em nosso brasão municipal) e em parte comercial por conta do ponto estratégico que nos situamos no Brasil Central, entre três importantes regiões: Minas, São Paulo e Goiás. Destaco também a participação do escravo afro-brasileiro Manoel Ferreira oferecido pelo sargento-mor Eustáquio para contribuir na construção da nova matriz. Não nos esqueçamos que este país foi literalmente edificado por braços negros, aos quais somos tão devedores, e que em nossa igreja matriz não foi diferente. Em 1857 graças a Frei Eugênio a igreja foi dotada de uma grande sacristia, um adro e recebeu paramentos e alfaias. Em 1868 cada uma das duas torres recebeu um sino de cerca de trinta e cinco arrobas cada que permanecem na catedral até hoje. Interessante notar que com o avançar do século e o consequente enriquecimento material da população uberabense, a própria igreja se torna espelho dessa prosperidade por estar sempre em estado de reforma e sempre recebendo melhoramentos.

No final do século XIX teremos o início de um período de grande prosperidade para as elites uberabenses com o advento da criação do gado de raça zebuína buscado na Índia. No começo do século XX, já sob o regime republicano, e inspirados pelas reformas modernizantes e arquitetônicas baseadas na Europa (o Rio de Janeiro abriu suas primeiras grandes avenidas e Manaus construiu seu Teatro Municipal) os uberabenses receberam a energia elétrica em 1904 e várias reformas urbanas, como na praça Rui Barbosa. Esse rápido avanço conquistado com os capitais excedentes da pecuária zebuína e com a vinda da Companhia Ferroviária Mojiana atraiu para a cidade o bispo de Goiás, D. Eduardo Duarte Silva que acabou por se tornar o primeiro bispo da Diocese de Uberaba, criada em 1907 pela bula Goyaz Adamantina Brasiliana Republica pelo Papa Pio X. Por determinação desta bula o padroeiro da diocese seria o Sagrado Coração de Jesus e D. Eduardo inaugurou deste modo a igreja do Sagrado Coração  – atual igreja da Adoração Perpétua ao lado da Cúria Metropolitana – com a prerrogativa de catedral permanecendo a igreja da praça Rui Barbosa como matriz de Santo Antônio e São Sebastião.

Em 1910 a matriz passou por grande reforma em que se definiu o estilo arquitetônico gótico manuelino e que seria dotada de apenas uma grande torre como até hoje se encontra desde esta data. Finalmente, em 1926 por determinação do bispo D. Luis Maria de Sant’Ana e decreto da Sagrada Congregação Consistorial a catedral seria transladada para a matriz de Santo Antônio e São Sebastião à Praça Rui Barbosa e os padroeiros seriam invertidos, permanecendo assim, em definitivo, como Catedral Metropolitana do Sagrada Coração de Jesus a partir de 20 de maio de 1926. Ainda assim, de modo a manter viva a memória de mais de cem anos que Uberaba permaneceu sob a proteção de Santo Antônio e São Sebastião, decidiu-se que uma estátua de cada santo ladearia a catedral metropolitana, imagens que permanecem até hoje em local de visibilidade e veneração.

Por Vitor Lacerda.

Prosseguindo nosso estudo sobre as igrejas mais antigas em nosso território arquidiocesano, falaremos neste mês da Igreja de Santa Rita, localizada no coração de Uberaba. Os historiadores são unânimes em dizer que o período de maior prosperidade de Uberaba no século XIX foi entre 1820 a 1859. Foi nessa época que a localidade, vencendo as etapas de dificuldades de sua fundação, alcançou as prerrogativas de vila e cidade.

Neste ambiente de comércio intenso e desenvolvimento constante, sob a proteção de seus padroeiros São Sebastião e Santo Antônio, a fé do povo se expandiu e mais uma capela foi erigida, dedicada a Santa Rita das Causas Impossíveis.

A devoção a Santa Rita de Cássia estava no auge naquele momento ainda que a monja agostiniana da Idade Média não tivesse sido canonizada, o que viria a acontecer apenas em 1900 pelo Papa Urbano VIII. Este é mais um exemplo onde o reconhecimento popular da santidade e da intercessão por milagres fizeram aumentar a devoção e com isso a construção de templos.

Cândido Justiniano da Lira Gama, devoto de Santa Rita, e em cumprimento de uma promessa para se livrar do vício da bebida, mandou iniciar a construção em 1854 da pequena capelinha em louvor a santa.

Em 1877, o tempo, implacável com a construção singela, solicita reparos urgentes que são providenciados pelo negociante Major Joaquim Rodrigues de Barcelos, também atendido por Santa Rita em seu pedido de se tornar pai. Em 1881, os padres dominicanos se estabeleceram em Uberaba e realizaram sua catequese na igreja de Santa Rita até que ela se tornou pequena com o crescimento da comunidade.

Os ritos sagrados foram transferidos para a imponente Igreja de São Domingos inaugurada em 1904 e a igrejinha de Santa Rita permaneceu fechada ao culto religioso durante muitos anos, sofrendo com o desuso, mais uma vez, as consequências do tempo.

Enquanto outras igrejas eram construídas na cidade, Santa Rita se achava em ruínas e foi quando por volta de 1939 que Gabriel Totti requisitou e conseguiu do recém-criado Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o título de Monumento Histórico para a graciosa construção o que viria a contribuir para sua restauração por meio de recursos públicos.

Com a criação da Fundação Cultural de Uberaba, seu primeiro Diretor – Jorge Alberto Nabut – e o Arcebispo Metropolitano de Uberaba – Dom Benedito de Ulhôa Vieira – inauguraram o Museu de Arte Sacra no dia 11 de maio de 1987. O museu conta com acervo considerável de arte sacra e litúrgica. São celebradas missas na igreja todo o dia 22 de cada mês sob a responsabilidade da Paróquia de São Domingos.

Fonte: Hélio Siqueira – Fundação Cultural de Uberaba e “Memória da Arquidiocese de Uberaba” por Pe. Prata.

Por Vitor Lacerda.

No espaço dedicado à história e memória eclesiástica local, apresentaremos aos nossos leitores um pouco das capelas e paróquias mais antigas de nossa arquidiocese que ainda estão em funcionamento. Temos, pois, a concepção de que as histórias particulares dessas igrejas centenárias são fragmentos valiosos da história desta Igreja constituída em Uberaba que se comprometeu católica e apostólica. E sendo a história a mestra da vida – historia est magistra vitae – estamos igualmente confiantes, na contramão de um caráter propriamente científico, da ação do Espírito Santo no percurso secular deste Arcebispado, que tendo atravessado colinas e riachos, tendo evangelizado gente índia e europeia, tendo erigido altares para escravos e barões, sabe nos ensinar por meio da valiosa lição de se vislumbrar o passado, a obediência e santidade mesmo em meio aos mais difíceis obstáculos do tempo.

Que este nosso percurso – longe de ser pioneiro – seja marcado pela evocação meditativa daquele grande historiador da Igreja, o francês Pierre Pierrard: “Santa Igreja, nossa Igreja, venho dizer-te, vasta e velha nave barroca, com tua linha de flutuação sempre ao nível das vagas, que sem ti nós não passaríamos de miseráveis barcaças perdidas na neblina e na tempestade”.

O núcleo urbano de Desemboque foi um dos mais importantes e ricos centros de mineração e povoamento do Triângulo Mineiro no século 18, chegando mesmo a ser considerado o “berço” de toda a região. Testemunho dessa história e marca da fé e da saga dos bandeirantes é a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro; templo singelo, porém autêntico exemplar da tradição arquitetônica regional.

Com poucos elementos documentais sobre sua construção, os autores do seu projeto e sua ornamentação interna são desconhecidos, assim como as datas de início e conclusão da obra. Pelas características, conclui-se que a construção tenha sido iniciada em meados do século 18, tendo o altar-mor a inscrição de 1762. Ao longo dos séculos 19 e 20, passou por sucessivas reformas, que não chegaram a comprometer sua arquitetura; e cujas datas foram registradas num dos tirantes da nave. A fachada, de linhas simples, parece trazer efeitos destas intervenções posteriores, impressos na estranheza da composição do frontispício.

A Igreja apresenta planta simples, constituída de nave, capela-mor, e sacristia lateral única, à esquerda. Detalhe interessante é o pequeno vão existente entre o corpo da nave e o da sacristia, deixando bem marcada esta diferenciação. A ausência de torres é compensada por uma sineira isolada, numa curiosa solução em madeira e vedada com adobe.

Nossa Senhora do Desterro é muito venerada na Itália como a Madonna degli Emigrati, sendo padroeira daqueles que foram obrigados a deixar sua pátria para se refugiarem ou a fim de procurar trabalho no estrangeiro.

Atualmente, Desemboque é um distrito do município de Sacramento e desde o episcopado de D. Benedito de Ulhôa Vieira seu pároco passou a ser o mesmo da Paróquia do Santíssimo Sacramento – recentemente elevada à condição de basílica – cujo atual pároco é o Pe. Sérgio Márcio. O templo destinado à senhora do Desterro foi tombado por ser considerado patrimônio histórico estadual pelo Iepha em 1984.

Fontes: Iepha – Instituto Estadual do Patrimônio História e Artístico de Minas Gerais e “Memória da Arquidiocese de Uberaba” de Pe. Prata.

Por Vitor Lacerda .

A Paróquia de Nossa Senhora d‘Abadia de Água Suja foi criada pela Lei Imperial nº 1.900, em 19 de julho de 1872.

O processo de povoamento do antigo Carmo da Bagagem (atual Romaria) deu-se principalmente por essa região ter apresentado a riquíssima presença de diamantes, cuja extração se iniciou em 1840, dando origem ao povoado de Água Suja. Entretanto, somente em 1867 um garimpeiro chamado Sebastião descobriu diamante no córrego de Água Suja.

A origem do povoado, além da presença dos diamantes, e posteriormente do ouro, se deve à migração dos trabalhadores que anteriormente estavam instalados em um antigo povoado conhecido por Bagagem-Diamantina (atual Estrela do Sul). Estes, por causa da Guerra do Paraguai (1864-1870), travada entre a Tríplice Aliança (Argentina, Uruguai e Brasil) e o Paraguai, foram motivados a se deslocarem da região para não serem convocados para lutar no conflito, visto que a região do Triângulo Mineiro serviu de certa maneira como base militar.

O nome “Água Suja” foi dado em razão do córrego do mesmo nome, que passa perto da região onde surgiu o povoado, e da terra vermelha que se desprende dos barrancos, dando a aparência turva do córrego.

A origem devocional do povoado de Água Suja em relação a Nossa Senhora d’Abadia advém da tradicional festa religiosa de Moquém (cidade localizada no estado de Goiás). Tal festa tinha grande significado para o povoado, pois durante anos os habitantes dela participavam.

Em 1869, o povoado de Água Suja pediu ao então bispo de Goiás (Diocese à qual o Triângulo Mineiro pertenceu até 1907), Dom Joaquim Gonçalves de Azevedo, que permitisse à região a construção de uma capela dedicada a Nossa Senhora d’Abadia (título de grande expressão, sobretudo para os portugueses). Tal pedido foi aceito por Dom Joaquim. Em 1870, o português Custódio da Costa Guimarães foi até o Rio de Janeiro e adquiriu a imagem de Nossa Senhora d’Abadia, na casa comercial de Franco & Carvalho. A imagem foi recebida com grandes festas e, após uma procissão, foi entronizada na Capela que, durante quatro anos, foi o espaço de veneração da imagem e celebração de sua festa. Em 1907, o vigário da época Frei Pio Antonãnzas Palacios solicitou a Dom Eduardo a elevação da Capela à categoria de Santuário Episcopal, pedido aceito em 18 de dezembro do mesmo ano.

A devoção rapidamente expandiu-se pela região do Triângulo Mineiro, chegando até mesmo aos estados de Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo. Assim, as romarias surgiram e a popularidade da festa, iniciada em 6 de agosto, tornou-se muito grande. Durante o surto da gripe espanhola (1918), conta-se que muitos devotos pediram a proteção de Nossa Senhora d’Abadia e foram curados.

Em 1920, a festa de Nossa Senhora d’Abadia já estava comemorando seu cinquentenário. Dom Eduardo Duarte Silva, bispo diocesano, convocou todos seus diocesanos a participarem de tal festividade: “[…] sendo de nosso maior desejo que as solenidades deste ano jubilar se revistam de feérico brilho, para maior realce de tão grata e consoladora comemoração e para que a ela não deixem de comparecer, temos resolvido endereçar caloroso convite […] Como testemunho de nossa gratidão, a todos que atenderem a este nosso Convite, neste preito de gratidão, solenizando tão auspiciosa data jubilar, concedemos sessenta dias de indulgências.” A resposta dos fiéis foi grande e o relato fala da existência de 3.500 carros de bois e aproximadamente 45.000 fiéis.

Desta maneira, percebemos que a riquíssima tradição da Festa de Nossa Senhora d`Abadia já possuía grande valor religioso, e a motivação episcopal significava que sua expressão havia atingido um elevado grau na religiosidade popular, considerando a expressiva presença de romeiros que, ao longo dos anos, foram aumentando e popularizando ainda mais a romaria.

Para que o cinquentenário fosse o centro da religiosidade de toda sua Diocese, dom Eduardo endereçou também uma carta a todos os vigários pedindo a transferência das demais festividades marianas comemoradas em 15 de agosto para o dia 8 de setembro (natividade de Nossa Senhora) ou outra data, conforme carta endereçada em 6 de janeiro de 1920: “ […] para que não se venha a desviar qualquer parcela de devotos e romeiros […] resolvemos transferir para o dia 8 de setembro, ou para qualquer outra data a seu arbítrio, quaisquer festejos que em suas Matrizes ou Capelas filiais costumem ter lugar no dia 15 de agosto.”

A construção atual iniciou-se em 1932. Com autorização de Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, pôde ser usada antes mesmo de sua conclusão que se deu na década de 1960.

Em 25 de março de 1988, nosso segundo arcebispo, Dom Benedicto de Ulhoa Vieira, endereçou uma carta ao Santo Padre João Paulo II, pedindo a elevação do Santuário a Basílica Menor. Nessa carta, apresentou um breve histórico e argumentou seu pedido, destacando a média de fiéis que passavam pelo Santuário anualmente, cerca de 60.000 pessoas, além de afirmar que o Santuário era considerado o mais importante do Triângulo Mineiro.

Dom Alexandre, no dia 24 de março, declarou seu apoio à causa, dizendo que desde o início de sua administração tomara conhecimento da vigorosa religiosidade, pois além dos fiéis da região do Triângulo Mineiro, havia a presença de fiéis dos Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso e até mesmo do Rio de Janeiro.

No processo de elevação a Basílica Menor, consta que a alteração do nome de “Água Suja” para “Romaria” deu-se devido ao grande fluxo de romeiros e, em 1962, quando a Vila Romaria se emancipou de Monte Carmelo, passou a denominar-se “Romaria”. Contudo, como se verifica até mesmo na atualidade, o termo “Nossa Senhora d’Abadia de Água Suja” não se perdeu, em virtude da identidade religiosa fortemente presente.

A riqueza religiosa da festa de Nossa Senhora é evidente. Mais ainda surpreende o fato de que, no dia da festa em 1987, foram atendidas 2.226 confissões individuais e houve 6.000 comunhões, número bastante expressivo, chegando à presença de 20.000 fiéis na procissão.

Além disso, na década de 1970, de acordo com o processo de elevação a Basílica, foi ministrado a 400 fiéis o sacramento da Confirmação, enquanto a média de batizados chegou a 600.

Esses números corroboram uma reflexão acerca da religiosidade popular, pela expressividade das romarias, ainda responsáveis pela grandiosidade de manifestações religiosas, bem como de celebrações.

Este ano, o Santuário de Nossa Senhora d’Abadia de Água Suja completará 146 anos de história e, em 2022, será o jubileu de 150 anos. Pedimos a Nossa Senhora d’Abadia que continue abençoando o Triângulo Mineiro e derramando sobre nós infinitas graças.

Amanda Oliveira

Para falar da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, é preciso primeiro conhecer a história de Santa Juliana. O primeiro documento que cita a região é uma carta de Sesmaria datada de 18 em Novembro de 1792. Esta carta é um pedido de um colonizador português requerendo a posse das terras à coroa portuguesa e nesta carta faz uma citação da localidade de sua Sesmaria que fica às margens do Ribeirão Santa Juliana. Este documento foi encontrado na Fundação Cultural Calmon Barreto de Araxá.

Nos anais da prefeitura de Santa Juliana, encontram-se relatos lacunosos da história de um povoado que surge com a passagem dos bandeirantes pela localidade, onde encontraram um ribeirão e em suas proximidades um casebre de família humilde, cuja mulher tinha nome de Juliana e o apelido de Santa. Este nome foi dado pelos bandeirantes ao Ribeirão.

Devido à padroeira Nossa Senhora das Dores e ao ribeirão, o povoado nascente recebeu o nome de Dores de Santa Juliana. Conta a história, embora pouco e de grandes saltos cronológicos, a fundação da localidade de Santa Juliana deu-se com a construção da Capela de Nossa Senhora das Dores por volta de 1842.

Nos últimos meses, por ocasião da celebração dos 140 anos da criação da Paróquia, por parte da Cúria Metropolitana, foi encontrado através de uma pesquisa o decreto de Lei nº 148, de 17/12/1938.    Pedro Vicente de Azevedo – Presidente da Província de Minas Gerais, fez valer a lei e a publicação da criação da paróquia de Santa Juliana, como consta no artigo 2º, em 15 de novembro de 1875.

A localidade ganhou grande impulso, quando ocorreu a emancipação política em 17 de dezembro de 1938, com o título de cidade. Cento e quarenta anos se passaram da criação da Paróquia que se divide em comunidades rurais e urbanas. Comunidades rurais: Distrito de Zelândia, que tem como Padroeira, Nossa Senhora da Abadia; Comunidade do Bom Jardim, cujos Padroeiros são: Nossa Senhora Aparecida e São Sebastião; Comunidade dos Pires, cuja Padroeira é Nossa Senhora de Fátima. Comunidades urbanas: Santa Juliana de Falconieri, São Judas Tadeu e Matriz.

As comemorações tiveram início em 2014 com a celebração na quadra da cidadania – Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. O encerramento de todo o projeto jubilar se deu no dia 22 de novembro de 2015, no mesmo local, celebrando liturgicamente a mesma solenidade, que na oportunidade foi celebrada a Primeira Eucaristia às crianças da Catequese Paroquial e o desfecho de todas as celebrações vividas neste ano comemorativo.

Durante toda esta semana jubilar, foram muitos momentos vividos pelos fiéis. Presença de vários sacerdotes: Pe. Gilberto Carlos de Araújo, Pe. Luiz Carlos de Rezende, Pe. Manoel Messias da Silva, Mons. Geraldo Magela de Faria, Pe. Elcimar Benedito da Silva e também a presença honrosa de nosso Arcebispo Dom Paulo Mendes Peixoto.  As comunidades viveram, além da oportunidade de se reencontrarem, momentos de amizade e confraternização. Neste tempo, foram lembrados os Párocos, pessoas consagradas e os leigos que se entregaram de corpo e alma na obra da Evangelização. Vale a pena constar que nosso Reverendíssimo Padre Edson José Nogueira é atualmente o 38º Pároco.

A Festa da Comemoração dos 140 anos de criação da Paróquia terminou, mas a história continua e somos os protagonistas de agora. A fé, o testemunho, a entrega e doação ao serviço do Reino de Deus pertencem a cada um de nós. Diante de tudo isso, só nos resta dizer: Bendito seja Deus para sempre!

Por Monalisa Assis

Muito já falamos sobre como se desenvolveram a maioria dos municípios do interior do Brasil durante o século XIX quando aqui se vivia o período imperial. Em geral este processo se dava sobre a égide da “cruz e da espada”: ainda que o tempo de auge dos bandeirantes – esses conquistadores do sertão responsáveis pelo etnocídio indígena que foram elevados pela crônica historiográfica como heróis nacionais – já tivesse terminado e não mais se procurassem indígenas para escravidão, surgia uma procura crescente por terras para uma expansão agrícola que atendesse à demanda de uma urbanização insipiente. O Triângulo Mineiro foi povoado durante o século XIX após um traumático processo de eliminação dos habitantes indígenas aqui residentes. Apesar de Sacramento ser uma das mais antigas povoações e Araxá ter sido o primeiro município a ser juridicamente constituído, coube a Uberaba a primazia de se tornar o verdadeiro centro econômico, político e religioso da região naquele tempo, justificando assim o título ainda hoje a ela atribuído de “Princesa do Sertão”.

O território do município de Uberaba no século XIX era tão considerável que poderia se equiparar ao de alguns países europeus da atualidade. Muitos povoados foram surgindo e se desenvolvendo em seu interior e, na medida que conseguiam certa influência política e econômica, conseguiam sua emancipação. Assim se deu em 1878 com Conceição das Alagoas. Nos primeiros tempos chamava-se este lugar “Garimpo das Alagoas” em referência tanto à atividade econômica que ali se tinha – o garimpo – quanto à grande quantidade de lagoas ao redor da povoação – Alagoas. Com a emancipação, o município passa a trazer consigo o nome de sua padroeira: Nossa Senhora da Conceição.

Imaculada Conceição

Quando ouvimos hoje o termo catolicidade logo nos vem à mente a ideia de uma igreja universal, espalhada pelo mundo inteiro, diversa em carismas e serviços, inculturada em diversos países e regiões mas, apesar e graças a tudo isso, capaz de manter sua unidade com o Papa e com Cristo que é a Cabeça desta Igreja. Um sinal desta catolicidade em nossa arquidiocese pode ser percebido na devoção aqui criada por diversos santos e santas bem como por títulos marianos pouco tempo depois de seu surgimento (os leitores assíduos vão se lembrar de quando falamos de Santa Teresinha, devoção quase imediatamente trazida a Uberaba).

O dogma da Imaculada Conceição foi promulgado pelo Papa Pio IX através da Bula Ineffabilis Deus em 1854. Pouco mais de duas décadas depois nossa catolicidade se manifestava na criação da Paróquia da Imaculada Conceição em 1878.

A Paróquia

Atualmente a egrégia e centenária Paróquia da Imaculada Conceição – Senhora de Conceição das Alagoas – às vésperas de seus cento e quarenta anos de devoção à Virgem Santíssima e de serviço ao povo daquela cidade por meio da evangelização de seus filhos se encontra em período de vistoso progresso. Para além das reformas estruturais que se fez na igreja matriz e no salão de festas atualmente em construção, destaca-se a construção da Casa do Pão, com auxílio financeiro da CEI – Conferência Episcopal Italiana. Em funcionamento já fazem dois anos a Casa do Pão possui atualmente vinte equipes de voluntárias e abriga todas as pastorais sociais. Oferece sopa todos os sábados, lanche comunitário todos os domingos, jantares uma vez por mês. A Pastoral da Educação vem se organizando para oferecer reforço escolar de Português, Matemática e Alfabetização. A Pastoral da Criança em Conceição das Alagoas recentemente foi listada pelo Pastoral Nacional da Criança como uma das melhores do país. Tudo isso se deve ao esforço daquela comunidade paroquial conduzida pelo Revmo. Pe. José dos Reis Naves, conhecido por todos como Pe. Zezinho.

Por Vitor Lacerda

Tendo sido instituída Paróquia pela Lei nº. 2916 de 26 de setembro de 1882, a matriz de São Miguel da cidade de Nova Ponte está prestes a comemorar seus 135 anos de fundação. Muitas são as memórias que se acumulam nestes mais de cem anos e que se misturam com as próprias lembranças e suspiros de seu povo e cidade.

Esta história começa no período colonial, inserida no processo de exploração e expansão territorial pelos sertões promovido pelos bandeirantes. A bandeira de Castanho Taques, que passou por Desemboque e Araxá, em busca de um caminho mais curto para Paracatu, atingiu as terras que se tornariam Nova Ponte. Os fazendeiros Manoel Pires de Miranda e Antônio Lúcio de Resende receberam uma sesmaria, dividida pelo rio Araguari, e doaram uma gleba, onde foram construídas as igrejas de São Miguel e São Sebastião, nos arredores das quais desenvolveram-se dois povoados. As pontes que foram sendo construídas ao longo da história com o propósito de ligar as duas margens do rio deram à cidade de Nova Ponte o nome como hoje é chamada.

Mais adiante, em 1882 (fim do período imperial) foi criada a freguesia de São Miguel da Ponte Nova. A inversão do nome para Nova Ponte justificou-se posteriormente por conta da quantidade de municípios brasileiros com o mesmo nome. Sua elevação a município se daria um pouco mais tarde, em 1938, desmembrando-se de Sacramento.

Um rico histórico de pastores

O primeiro pároco foi Pe. Joaquim Severino Ribeiro, cuja provisão se deu em 1884. Ele também atendia a Paróquia de Dores de Santa Juliana. Seguiram a ele outros três padres diocesanos quando, em 1899, assumiu o governo da paróquia Frei Agostinho Cristóbal OSA. Os freis agostinianos permaneceram na paróquia até 1908 sendo que passaram ao todo cinco párocos desta ordem religiosa. Em 1908 reassumiu a condução paroquial o clero diocesano na pessoa de Pe. José Sanroman (1908-1912), sendo seguido pelo Pe. Domingos da Silva (1912-1917) e pelo Pe. Albino Figueiredo de Miranda (1917-1925).

A chegada de nosso segundo bispo, Dom Antônio de Almeida Lustosa SDB em fevereiro de 1925, coincidiu com a anexação da Paróquia de São Miguel de Nova Ponte à Paróquia de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja (Romaria) e a entrega de ambas aos recém-chegados padres da Congregação dos Sagrados Corações, dentre os quais o Beato Pe. Eustáquio van Lieshout que certamente marcou presença, como os demais padres de sua congregação, em Nova Ponte. Mas aquele que deixaria contribuição mais significativa, seja por ser o primeiro a de fato residir na cidade, como pelo tempo em que lá permaneceu, foi o holandês Pe. Panfílio van den Broek SSCC. Chegou em Nova Ponte em 1953 e durante os trinta e três anos em que foi pároco foi responsável pela construção de várias capelas rurais, pela remodelação da antiga matriz e por um eficaz trabalho pastoral e missionário.

Em 1986, todavia, a Paróquia haveria por mais uma vez, e de forma definitiva, retornar à condução do clero diocesano diante do desejo do então arcebispo Dom Benedito de Ulhoa Vieira, após prestados os devidos agradecimentos aos Padres dos Sagrados Corações que ali colaboraram por mais de sessenta anos. O primeiro pároco desse período de transição foi o Pe. José Lourenço da Silva Júnior.

A construção da represa: uma “nova” paróquia?

Em 1952, quando Juscelino Kubitschek era governador de Minas Gerais, várias pequenas usinas hidroelétricas foram reunidas numa única empresa energética que serviria como propulsora do crescimento industrial de todo o estado: a Cemig. Desse momento em diante, vários pontos hidrográficos do estado passaram a ser cogitados para ampliar nosso fornecimento de energia elétrica e, desde a década de 1970, começaram a serem feitos estudos no rio Araguari, que cortava Nova Ponte.

Quando se anunciou, no início da década de 1990, que a cidade seria inundada por ocasião da construção de uma usina hidroelétrica no local, e que a Cemig indenizaria os danos sociais causados por meio da construção de uma nova cidade, muita foi a relutância do povo. Neste sentido, vale destacar que muitas reuniões entre representantes da empresa e moradores novapontenses aconteceram na antiga matriz de São Miguel, tendo, pois, servido aquela comunidade eclesial a um importante propósito social naquele momento histórico.

Quando se deu a inundação da antiga cidade, em meados de 1993/1994, nos relatos de muitos moradores, o momento mais sofrido foi quando a cabeça da grande imagem de São Miguel, feita de pedra, que ornava a grande torre externa da matriz, caiu por chão. Mais tarde, este patrimônio histórico e religioso seria transferido para a praça da nova matriz como símbolo de continuidade do novo templo que foi construído com aquele que permanecera debaixo d’água.

Em muitos sentidos a história da Paróquia de São Miguel de Nova Ponte é didática em nos ensinar que o maior patrimônio de uma paróquia, aquilo que de fato é indissolúvel ao tempo, é justamente o produto da evangelização que geração após geração vai edificando na fé e na virtude toda uma comunidade de pessoas reunidas no amor e no seguimento a Jesus Cristo. Pois assim como o povo de Israel, cativo no Egito e na Babilônia, peregrino no deserto, perdidos por vezes no culto a outros deuses, não perdeu sua identidade e seu compromisso, assim também somos nós em nossas paróquias: pequenas parcelas do povo eleito por Deus que encontram sua identidade Nele próprio.

Continuidade de um longo trabalho

Desde janeiro de 2016 é Pároco de São Miguel de Nova Ponte o Revmo. Pe. Rone Carlos da Silva que vem se esforçando na elevação do patrimônio espiritual e material desta paróquia. Desde sua posse muito tem sido feito: a Capela de São Sebastião, símbolo resistente da época em que a cidade se dividia em dois povoados separados por um rio, teve portas trocadas, bancos restaurados e o telhado foi todo colocado. Na capela de São José foi construído um banheiro e uma pequena secretaria. Na capela de Nossa Senhora da Medalha foram colocadas rampas de acesso para portadores de necessidades especiais.

Em relação à matriz, agora um templo com quase vinte e cinco anos, foram reformadas as portas laterais e o pórtico central e está sendo concluída a troca total do telhado e das calhas. No interior da matriz está sendo ampliada a sacristia e uma capela para o Santíssimo. Foram adquiridos vitrais para a parte inferior da nave com o propósito de dotá-la de maior encanto.

Para o futuro, o pároco diz ter como projeto readequar o presbitério, pintar toda a igreja, construir armários na secretaria e na sacristia e buscar, junto à Prefeitura de Nova Ponte, uma parceria para revitalização da praça onde se encontra a matriz de São Miguel.

Por Seminarista Vitor Lacerda

No dia 11 de fevereiro, celebramos a festa de Nossa Senhora de Lourdes. A origem desse título dado a Virgem Maria vem das aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadete, em uma gruta localizada na cidade de Lourdes, na França. Fazemos memória dessa festa, tão importante para os fiéis devotos da Mãe de Deus, principalmente por confirmar o dogma da Imaculada Conceição, proclamado quatro anos antes das aparições da Virgem em Lourdes.

Nesta edição, vamos falar um pouco da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, localizada na cidade de Conquista. Foi criada pelo primeiro bispo De Uberaba Dom Eduardo Duarte Silva, em 19 de dezembro de 1908. No início do século XX, a região do Triângulo Mineiro passava por um momento de crescimento econômico, advindo principalmente da presença da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que se instalou inicialmente na cidade de Uberaba, trazendo um rápido desenvolvimento econômico para a cidade e, consequentemente, para a região do Triângulo Mineiro.

A cidade de Conquista, por localizar-se próxima a Uberaba, também se beneficiou do momento de crescimento do Triângulo Mineiro. Inclusive, sua estação ferroviária foi instalada em 25 de abril de 1889. Com essa movimentação econômica, a cidade se expandiu, e assim a região foi recebendo novos moradores, que expressaram o desejo de ter um templo dedicado a Nossa Senhora.

A primeira capela de Nossa Senhora de Lourdes foi construída em 1895, sob a orientação do coronel Domingos Vilela de Andrade, conhecido popularmente como “Coronel Mingote”, fazendeiro e latifundiário, nascido em Monte Alegre. Antes de se instalar na futura cidade de Conquista, Domingos Vilela residia em Ribeirão Preto, onde era grande produtor de café. Após a aquisição de extensiva área às margens do Rio Grande, construiu a sede de sua fazenda que, segundo a memória popular, era chamada de Fazenda da Conquista, dando assim o nome à cidade.

No processo de tombamento da Paróquia, consta que a primeira festa religiosa foi celebrada em louvor ao Senhor Bom Jesus da Lapa, em 1902, por ser de origem baiana a maioria dos habitantes da região.

Em 1905, Alexandre Palatti construiu a capela de Santo Antônio e, em 1907, o coronel Aurélio Cordeiro, a capela de São José. Alguns anos após a criação da Paróquia, Dom Eduardo aprovou a planta da nova (atual) Matriz, pois a antiga capela se encontrava em estado precário de conservação, impossibilitando até mesmo a participação dos fiéis nas celebrações.

Em 1917, a construção da nova Matriz foi iniciada por Monsenhor José João Perna, e também por Monsenhor Eduardo Antônio dos Santos, vigário à época. Com a decadência econômica da região, advinda principalmente pela extensão da Companhia Mogiana para as cidades de Uberlândia e Araguari e pelo fato da construção ser administrada por meio de doações, só foi inaugurada em 1927, pelo padre José de Mello Rezende.

Apesar da dificuldade financeira enfrentada, percebe-se nitidamente a riqueza dessa construção por meio dos detalhes de sua arquitetura. A paróquia localiza-se no centro da cidade, defronte à Praça Central, onde se encontra uma fonte dedicada à Nossa Senhora de Lourdes.

Ao lado da Paróquia, foi inaugurado o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, inicialmente administrado pelas irmãs Franciscanas Missionárias do Egito. Contudo, devido à não-adaptação das religiosas à cidade, logo abandonaram o Colégio e em 1938 as irmãs da Congregação Nossa Senhora do Amparo o assumiram. Também essas não deram continuidade ao trabalho e, já na década de 1980, abandonaram o Colégio, assumindo trabalhos na Santa Casa de Misericórdia.

Pela riqueza arquitetônica e, evidentemente, pelo significado religioso e cultural da cidade de Conquista, a igreja foi tombada pelo IPHAN em 2003, momento em que a política local incentivou e fortaleceu a identidade local e o processo de tombamento. A Igreja de Nossa Senhora de Lourdes passou, então, a ser considerada patrimônio histórico e cultural da cidade. Evidentemente, tal procedimento de tombamento ganhou forças depois de 1999, que marcou a reinauguração da igreja Matriz de Conquista, após uma reforma conduzida pelo pároco da época Padre José dos Reis Naves, que obteve ajuda da Usina Hidrelétrica de Igarapava, no financiamento de boa parte das reformas necessárias. A cerimônia foi presidida pelo então arcebispo metropolitano de Uberaba.

Atualmente, a Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, além da Comunidade da Matriz, conta com as capelas urbanas de Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora de Lourdes, Santos Reis, no Asilo São Vicente, São Jorge, na casa das Irmãs de Nossa Senhora do Amparo, além de três capelas rurais: a de São Francisco, São José e a de Santo Expedito. Tem como pároco desde 2013 Padre Sandro Dalmolin.

Amanda Oliveira

Criação da Paróquia

O povoado de Veríssimo começou a se formar em meados do século XIX estimulado pelo desenvolvimento comercial e agrícola de Uberaba que estava a menos de 50 quilômetros daquele núcleo urbano. Neste período histórico, todo o território que hoje compreende os estados de Goiás e Tocantins e as regiões mineiras do Triângulo e Alto Paranaíba compunham o vastíssimo território da Diocese de Goiás, cuja sede diocesana era a capital da província de mesmo nome: Cidade de Goiás (hoje também conhecida como Goiás Velho). Em 1871 o Bispo de Goiás, Dom Joaquim Gonçalves de Azevedo, estava em visita pastoral em nossa região e passando pelo povoado de São Miguel de Veríssimo concedeu licença para que se construísse ali uma capela dedicada ao padroeiro do povoado bem como um cemitério.

Durante todo esse período o povoado era um distrito do Município de Uberaba conforme a Lei Estadual n.º 332 de 1891 e consequentemente estava vinculada à Paróquia Matriz de Uberaba de Santo Antônio e São Sebastião (hoje nossa Catedral Metropolitana). Seria somente em 2 de junho de 1896 que a capela de São Miguel de Veríssimo seria elevada à condição de Paróquia através de um decreto episcopal de Dom Eduardo Duarte Silva, ainda como Bispo de Goiás. Curiosamente a Paróquia de São Miguel de Veríssimo foi a primeira criada por D. Eduardo em nossa diocese, mas quando ainda fazíamos parte da diocese de Goiás. Podemos assim considera-la um marco em nossa história eclesiástica. Vejamos:

Paróquias criadas quando integrávamos a Diocese de Goiás (em nosso território arquidiocesano atual)

Paróquia de São Domingos de Gusmão – Araxá (1791) Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus (1820) Paróquia de Nossa Senhora do Carmo – Prata (1840) Paróquia de Nossa Senhora das Dores – Campo Florido (1846) Paróquia de Nossa Senhora do Desterro – Sacramento (1857) Paróquia de Nossa Senhora do Carmo – Frutal (1870) Basílica do Santíssimo Sacramento Apresentada pelo Patrocínio de Maria – Sacramento (1872) Paróquia de Nossa Senhora da Abadia – Romaria (1872) Paróquia de Nossa Senhora das Dores – Santa Juliana (1875) Paróquia da Imaculada Conceição – Conceição das Alagoas (1878) Paróquia de São Miguel – Nova Ponte (1882) Paróquia de São Miguel – Veríssimo (1896)

Paróquias criadas por Dom Eduardo como Bispo de Goiás (em nosso território arquidiocesano atual)

Paróquia de São Miguel – Veríssimo (1896)

Paróquias criadas por Dom Eduardo como Bispo de Uberaba (em nosso território arquidiocesano atual)

Paróquia do Santíssimo Sacramento – Uberaba (1908) Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes – Conquista (1908) Santuário de Nossa Senhora da Abadia – Uberaba (1921)

Reformas e Ampliações

No começo do século XX dois párocos se destacaram nos melhoramentos da igreja matriz de Veríssimo: o  Pe. Ângelo de Féo e depois dele o Pe. Júlio de Ras que também era engenheiro. O primeiro reconstruiu a igreja a partir de 1914 e o segundo a partir de 1934 até 1937 finalizou definitivamente as obras e construiu a torre. De 1937 até 1982 aquela centenária matriz dedicada a São Miguel permaneceu sem passar por qualquer tipo de reparos ou obras de expansão. Foi quando a Irmã Teresinha de Jesus Gonçalves planejou e executou novas reformas substituindo o forro de madeira por laje e trocando todo o piso da igreja. Nos anos 2000 foi realizada uma pintura externa em azul que devolveu o charme não só à igreja mas à toda cidade de Veríssimo.

Paróquia São Miguel e Religiosos

Estreitos são os laços entre a Paróquia de São Miguel com duas ordens religiosas que ao longo da história auxiliaram no processo de evangelização e conversão daquele povo: a Ordem dos Pregadores e a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Logo em 1899 os dominicanos assumiram a condução da Paróquia em fevereiro e entre outubro de 1899 e outubro de 1900. Tornariam posteriormente entre abril de 1911 e dezembro de 1912 perfazendo quase três anos de trabalho missionário. Os capuchinhos por sua vez lá estiveram pela primeira vez em 1940 e alternando ocasionalmente com padres diocesanos lá permaneceram até 1984. Passaram por lá onze freis em vinte e cinco anos de administração capuchinha. Atualmente os Dominicanos novamente assumiram a administração paroquial sendo hoje responsável pela Paróquia o Revmo. Frei Cristiano Amaral Bhering de Lacerda OP.

Por Vitor Lacerda

Dando prosseguimento à nossa pretensão de percorrer a História Eclesiástica da Arquidiocese de Uberaba por meio das mais antigas igrejas ainda existentes, falaremos este mês da igreja de São Domingos. Alguns poderiam acreditar, confusamente, que esta sequência de artigos sobre tais igrejas se trata simplesmente de uma história material que procura datar construções, reformas e estilos arquitetônicos destas senhoras centenárias de pedras e tijolos. Ao contrário, nosso objetivo é tomar essas igrejas-templo, igrejas-edifício, igrejas-espaço em sua relação intrínseca à Igreja-Povo, Igreja-Comunidade, Igreja-Ação. Não acreditamos que essa introdução seria mais pertinente do que num artigo que tem como estrela a orgulhosa igreja de São Domingos. Isto porque as histórias da igreja dedicada a São Domingos se confundem com as histórias dos seguidores deste santo – os dominicanos.

Sendo o cristianismo uma religião essencialmente vinculada à esperança de se construir um futuro melhor onde todos estejam cada vez mais em comunhão com o ser cristão, é natural que a reação da Igreja em seus momentos de crise seja o olhar adiante, isto é, a esperança confiante num futuro melhor mediante sobre própria ação. Entre 1869 e 1870 aconteceu o Concílio Vaticano I que trouxe como resposta à crise da modernidade – representada principalmente pela tríade racionalismo, materialismo e ateísmo – a certeza na autoridade da Igreja e a proposta de, tal como acontecera anteriormente diante da Reforma Protestante, contemplar o horizonte e redescobrir que é somente pelo espírito missionário que se justifica a perenidade da Igreja. Foi neste contexto que, em 1881, os primeiros dominicanos vieram da França a Uberaba sob o convite do então bispo de Goiás, D. Cláudio Poncé de León – ele próprio um estrangeiro e religioso.

A Ordem dos Pregadores – OP foi fundada por São Domingos em 1216 (neste ano se comemora o jubileu de 800 anos de fundação) em Toulouse, na França, num contexto conturbado de transição entre o mundo medieval e o mundo moderno. Visto que parte de seu carisma se dedica a uma busca incansável da verdade é correto dizer que se tornaram sujeitos históricos ativos desde seu surgimento. Em 1881, os poucos sacerdotes dominicanos que se instalaram em Uberaba realizavam os ofícios religiosos e os trabalhos pastorais na igreja de Santa Rita, que tratamos no artigo do mês anterior. Por conta do aumento do número de pessoas que ingressaram naquela comunidade, iniciou-se em 1889 a construção de uma igreja dedicada a São Domingos que seria inaugurada em 1904, ainda que inacabada (sem as torres e abóbadas centrais). Importante destacar que a igreja foi construída após a abolição da escravidão (1888) e praticamente após a proclamação da República – com o melhor do espírito livre e republicano próprio dos dominicanos. É sintomático que sua inauguração tenha sido feita sob o canto do Hino Brasileiro, da Marcha Pontifical e da Marselhesa (hino da França, mas sobretudo do espírito de liberdade, igualdade e fraternidade).

Com a criação da Diocese de Uberaba, realiza-se, em 1908, a posse de nosso primeiro bispo, D. Eduardo Duarte Silva, entre as paredes e sob o patrocínio de São Domingos. Ambos sacerdotes, peregrinos e servos neste vasto mundo.

Tempos depois, enquanto torres eram derrubadas pelo ressoar dos canhões em vários cantos da Europa a partir de 1914 por conta do início da Primeira Guerra Mundial, neste canto do Brasil Central eram inauguradas as duas torres da igreja de São Domingos.

Na década de 1940 a população urbana em Uberaba superou aquela ainda residente na zona rural, processo dez anos prematura quando comparado à média nacional. Isso explica, em grande parte o crescente número de criações de paróquias pelo bispo D. Alexandre G. Amaral que tomara posse em 1939. Deste referido processo, a primeira paróquia que viria a ser criada seria justamente a de São Domingos em 1941 que haveria de permanecer sob o pastoreio dos dominicanos e que aglutinaria também a histórica igreja dedicada a Santa Rita.

Destacamos também uma grande reforma em 1963 sob a administração de Frei Domingos Maria Leite e do Arquiteto Carlos Millan: foram instalados novos altares, recolocado o telhado e repostos os vitrais. Em 1981 – ano do centenário da missão dominicana no Brasil – o Prefeito Silvério Cartafina apoiou uma nova reforma na Igreja que substituiu estruturas de madeira por outras mais resistentes de metal.

Atualmente a Paróquia de São Domingos serve também como Casa do Noviciado da Ordem dos Pregadores e possui como pároco Frei Luís Antônio Alves.

Por Vitor Lacerda.

Vamos tentar evitar o surgimento de quaisquer dúvidas sobre nossa protagonista deste mês esclarecendo que o que chamamos de Igreja do Santíssimo Sacramento – a Senhora das Mercês – trata-se da mesma igreja que no passado também foi chamada de igreja de Santo Antônio e São Sebastião e também de igreja da Adoração Perpétua. Pensamos ser importante igualmente fazer a distinção entre dois conceitos muito comuns e frequentemente utilizados por nós: igreja e paróquia.

Entendemos por paróquia todo um conjunto territorial (que tem a tendência de diminuir com o passar do tempo, na medida em que a população aumenta e a cidade cresce) que engloba uma comunidade paroquial, que disponibiliza um conjunto orgânico de serviços pastorais e sacramentais e que finalmente possui uma matriz e bem possivelmente algumas capelas filiares. Assim, a paróquia é a instituição-base da vida cristã. Já a palavra igreja pode ao mesmo tempo designar (como já havíamos refletido no mês anterior) o edifício, isto é, o templo religioso onde realizam-se os ofícios sacramentais, e que por sua vez tem uma nomenclatura própria (basílica, catedral, sé, matriz, igreja, capela, ermida) como também pode significar uma ideia geral de igreja muito própria da etimologia desta palavra – ekklesía, que significa “chamado”. Para não restar dúvidas, todas as vezes que usarmos a palavra com letra minúscula estaremos nos referindo a igreja-edifício, enquanto que as vezes que usarmos a letra maiúscula subentende-se que falamos da Igreja-Povo.

Com essa introdução, apresentamos que a igreja do Santíssimo Sacramento não é a mais antiga igreja de nossa arquidiocese e nem mesmo de Uberaba, sendo posterior à Catedral, à capela de Santa Rita ou à igreja de São Domingos, mas é, como demonstra decreto de 2 de março de 1820 do Bispo de Goiás, a mais antiga paróquia de nossa Arquidiocese.

Quando D. Eduardo, ainda como bispo de Goiás, transferiu sua residência para Uberaba em 1896, por ser esta cidade um centro urbano mais desenvolvido e com maiores possibilidades de irradiação da missão evangélica do que a Cidade de Goiás (hoje Goiás Velho), então sede diocesana, mandou iniciar, no mesmo ano, a construção de uma outra igreja para ser a matriz da Paróquia de Santo Antônio e São Sebastião. Terminada a construção em 1905, D. Eduardo mandou inscrever no frontispício da nova igreja a frase que até hoje se pode vislumbrar: DIVO CORDI POSUIT EDUARDUS EPISCOPUS GOYAS – 1905, que significa: “Eduardo, Bispo de Goiás, construiu ao Sagrado Coração – 1905”.

Com a criação da Diocese de Uberaba em 24 de maio de 1908 essa igreja do Sagrado Coração passou a ser a catedral da nova diocese, e assim permaneceria até 1926, quando D. Antônio de Almeida Lustosa fez a troca com a atual catedral. Também os padroeiros se inverteram, ou seja, o Sagrado Coração acompanhou a igreja-catedral à Praça Rui Barbosa e os padroeiros de Uberaba – Santo Antônio e São Sebastião – subiram para a igreja no alto das Mercês.

Durante o episcopado de D. Eduardo construiu-se paralelamente à igreja outro prédio ao lado para servir-lhe de residência, o Palácio Episcopal, e que futuramente destinar-se-ia ao Seminário Diocesano. Ao longo do tempo foram feitos acréscimos e adaptações. Destaca-se a construção do salão paroquial na década de 1960 bem como duas salas de catequese e duas cozinhas já na década de 1980.

Em agosto de 1960 os padres da Congregação Sacramentina assumiram o governo da paróquia a pedido de D. Alexandre e tiveram atuação decisiva no sentido de fortalecer o espírito de adoração pelo Santíssimo Sacramento. Mesmo com a saída desta congregação da administração da paróquia nos anos 2000, os frutos de sua presença ainda são percebidos como, por exemplo, a partir da existência de um Grupo de Leigos Sacramentinos.

A paróquia foi desmembrada em 1978 durante o arcebiscopado de D. Benedito com a criação das paróquias de Santa Maria Mãe da Igreja e Ressurreição. Possui também ainda hoje várias capelas filiares das quais destacamos a Capela do Colégio Marista. Atualmente seu pároco é o Revmo. Pe. Ricardo Luiz.

 Por Vitor Lacerda

A história do Santuário da Medalha Milagrosa confunde-se com a história do clero e do povo católico uberabense e indubitavelmente com a própria caminhada na fé das irmãs concepcionistas. Desta forma, o início desta memória vai até o século XV, na Espanha, onde uma jovem chamada Dona Beatriz da Silva, de origem lusitana e nobre, se recolhe em vida monástica após perseguições sofridas na corte castelhana. Transcorridos os trâmites eclesiásticos, em 1498 o Papa Inocêncio II através da Bula Inter Universa autorizou o funcionamento da Ordem da Imaculada Conceição – OIC. Esta ordem, que possui no silêncio adorante e na experiência contemplativa marcas indeléveis de sua identidade religiosa, e nos exemplos da Virgem Maria e de Santa Beatriz inspirações para o seguimento a Jesus Cristo chegou a Uberaba – no Planalto Central do Brasil – em junho de 1949. Ainda que estivessem separadas por milhas e milhas daquele primeiro mosteiro em Toledo e séculos e séculos daquelas primeiras irmãs que ouviram o chamado de Cristo na pessoa de Santa Beatriz, as irmãs que chegaram a Uberaba estavam àquelas unidas através de uma profunda e ininterrupta história de amor a Deus.

Tendo chegado em junho de 1949, sob a condução de Madre Maria Virgínia do Nascimento, as irmãs concepcionistas fixaram-se em dois endereços distintos antes de, finalmente, se mudarem para onde, ainda hoje, se encontram localizadas. Primeiro formaram o Mosteiro na Rua Gonçalves Dias, em 1951 mudaram-se para a Rua Afonso Rato e definitivamente em 1961 o Mosteiro foi estabelecido na Rua Medalha Milagrosa. Em 1957 foi lançada a pedra fundamental do Santuário da Medalha Milagrosa e desde 1955 tem se rezado a Novena Perpétua de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, infundindo esta devoção mariana tão presente em nossa Igreja Particular através das gerações.

Os leigos tiveram papel central no desenvolvimento material e espiritual do Santuário, visto que contribuíram desde o princípio seja com a realização de festas e campanhas seja na participação piedosa nas santas missas e novenas. Lembramos de forma particular o dr. Nicolau Laterza e o sr. Orlando Bruno, respectivamente autor do projeto arquitetônico e presidente da Comissão Construtora do Santuário; o Prof. Djalma Alvarenga de Oliveira, fundador e entusiasta da Novena Perpétua, as sras. Arethusa Fernandes Brasil e Esperança Ribeiro Borges, respectivamente responsáveis pela Comissão Feminina Pró-Construção e difusora da devoção à Medalha Milagrosa através do Correio Católico e da extinta rádio PRE-5.

Quanto à participação do clero, destacamos a figura sempre altiva de D. Alexandre Gonçalves do Amaral, então bispo de Uberaba e incentivador constante da presença religiosa no território arquidiocesano; também haveria de proclamar Nossa Senhora da Medalha Milagrosa como Rainha da Diocese de Uberaba. Foram capelães e reitores das irmãs concepcionistas: Mons. Genésio Borges (1955 a 1994), D. Benedito de Ulhôa Vieira (1997 a 2005) – na condição de arcebispo emérito – tendo sido auxiliado por Pe. Sebastião Ribeiro (2002 a 2003) e Pe. Roberto Oliveira (2004) na condição de pró-reitores, Pe. Geraldo Maia (2005 a 2007) e atualmente o Reitor é Pe. Ricardo Fidélis. O Mosteiro da Imaculada Conceição, da Divina Providência e de São José é atualmente conduzido pela Abadessa Madre Maria dos Anjos do Santíssimo Sacramento – OIC.

Fonte: “Preservando a Memória” da Irmã Maria Antônia de Alencar – OIC. “Memória da Arquidiocese de Uberaba” de Pe. Thomaz de Aquino Prata.

Por Vitor Lacerda

Em 1925 o papa Pio XI canonizou Tereza de Lisieux, a jovem carmelita que havia morrido aos vinte e quatro anos em 1897 e deixado uma marca indelével na espiritualidade dos católicos por meio de seu testemunho tornado amplo principalmente através da popularidade atingida por seu livro A História de uma Alma. O papa Pio XI considerou a canonização da jovem como “a estrela de seu pontificado”. No Brasil a devoção a Santa Terezinha foi desde muito cedo cultivada e em Uberaba, de forma particular, tornou-se notadamente visível em 1927 quando o bispo D. Antônio Lustosa abençoou a pedra fundamental de uma capela dedicada à “santa das rosas” na então Praça Aristides Borges (atual Praça Santa Terezinha) no bairro Fabrício. O pedido para a construção de uma capela no local partiu dos moradores da região que já se reuniam para rezar num cruzeiro colocado na praça. A inauguração oficial da capela é datada de 31 de março de 1929 denotando a relativa rapidez com que foi construída, considerando também suas modestas proporções.

Nos dezessetes anos seguintes a esta inauguração, a Capela de Santa Terezinha esteve vinculada ao Curato da Sé (atual Catedral Metropolitana) até que em 1946 o bispo D. Alexandre do Amaral – cujo episcopado foi marcado pelo incentivo à vinda de ordens e congregações religiosas no território diocesano – confiou a capela aos Padres Capuchinhos e em 20 de agosto de 1949 decretou a criação da Paróquia de Santa Terezinha. O primeiro pároco foi Frei Davi de Bronte, um jovem sacerdote de trinta e um anos nascido na Itália e vindo de Belo Horizonte.

Os padres religiosos se esforçaram durante toda a década de 1950 para arrecadar recursos para construir uma matriz mais ampla e um convento capuchinho. Os Livros de Tombo registram várias campanhas e tentativas de obtenção de terrenos junto ao poder público municipal. Após muito esforço em outubro de 1960 o bispo diocesano benzeu o lançamento da pedra fundamental da construção da nova matriz. Tendo a parte de alvenaria demorado três anos, em 1966 já se tinha completa a parte interna enquanto a parte externa só seria completamente finalizada em 1986. A antiga capela foi demolida em dezembro de 1961.

Muitos nomes de destaque da sociedade uberabense tomaram parte na construção da igreja, demonstrando a ação da providência divina em todos os períodos da história por meio da caridade e benevolência dos cristãos. O engenheiro João Laterza supervisionou a construção, a planta foi desenhada por Nicolau Baldassare, a aprovação técnica foi dada pelo engenheiro Tomás Bawden e os trabalhos de decoração e pintura foram realizados pelos artistas espanhóis Carlos Sanchez e Antônio Dias. Os vitrais foram encomendados à Casa de Vitrais Conrado Sorgenicht S.A. de São Paulo e os bancos feitos de imbuia foram trazidos de Castro (Paraná) tendo sidos patrocinados por famílias paroquianas.

Na construção da atual igreja de Santa Terezinha, de aproximadamente 3.500m², foram gastos 900 mil tijolos, 150 caminhões de pedra britada, 16 mil telhas (que foram recentemente trocadas) e 34 toneladas de pedra. A igreja atualmente é patrimônio histórico reconhecido pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Conphau).

Os Padres Capuchinhos estiveram responsáveis pela comunidade paroquial de Santa Terezinha por quatro décadas tendo sido dezesseis párocos dessa ordem religiosa e dezenas de freis e noviços que deixaram seu testemunho na vida dos uberabenses e levaram certamente consigo a devoção à Santa Terezinha. Em 1987 retiraram-se da Paróquia durante o episcopado de D. Benedito de Ulhoa Vieira tendo assumido o Cônego Henrique Fleury Curado. Desde então encontra-se sob os cuidados do clero arquidiocesano sendo atualmente pároco o Reverendíssimo Monsenhor Célio Lima.

Por Vitor Lacerda 

 

Processo de criação da Paróquia

Em 24 de maio de 1959, foi constituída uma Comissão Pró-Elevação a Paróquia da Capela de São Benedito, sob a presidência do Pe. Olímpio Olivieri, naquela ocasião Cura da Catedral e, consequentemente, responsável pelo território no qual estava localizada a Capela de São Benedito. Para além dele, também participavam dessa Comissão Pe. Antônio Fialho e dezenas de leigos e leigas comprometidos com a causa. O território que se pretendia para a futura paróquia foi setorizado e os leigos foram incumbidos de percorrer residências e comércios à procura de contribuições que foram registradas num Livro de Ouro. Foram também organizadas rifas de eletrodomésticos e anualmente se realizavam no mês de outubro quermesses por ocasião da Festa de São Benedito. Em junho de 1960, Pe. Olímpio informou aos demais membros da Comissão que, após solicitar a Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, bispo diocesano, a criação da Paróquia, este havia argumentado que estava ocupado com o processo de desmembramento e criação da Diocese de Uberlândia, de forma que poderia analisar cuidadosamente aquela solicitação apenas no ano seguinte.

Finalmente, no dia 17 de fevereiro de 1961 foi criada a Paróquia São Benedito por decreto do Bispo Diocesano, sendo localizada no coração do bairro uberabense de mesmo nome. Poucos dias depois, Pe. Vicente A. dos Santos tomou posse como primeiro pároco.

Histórico das Obras

A antiga matriz de São Benedito ficava localizada na atual Praça Dr. Jorge Frange e sua demolição se deu em outubro de 1968, a pedido da Prefeitura Municipal e com anuência da Igreja no sentido de que fosse construído um Terminal Rodoviário, o que de fato aconteceu. Imediatamente foi improvisada uma capela de madeira na Rua Francisco Pagliaro onde os ofícios litúrgicos ocorreriam temporariamente enquanto as missas dominicais seriam celebradas no galpão do Colégio Nossa Senhora das Graças. A partir de fevereiro de 1973, foram iniciadas as obras da nova matriz no mesmo local onde hoje se encontra. Apenas a partir de dezembro de 1975 os ofícios litúrgicos passaram a ser ordinariamente celebrados na nova matriz, por ocasião da colocação da cobertura, embora as obras ainda não tivessem terminado. Finalmente, no dia 3 de dezembro de 1978, foi celebrada festivamente pelo arcebispo Dom Benedito de Ulhoa Vieira uma missa de inauguração da nova matriz.

Em maio de 1996, foi inaugurado um Complexo Paroquial que contava com um Salão de Festas, um apartamento para residência do pároco e um conjunto de cinco salas de catequese.

Em setembro de 2002, foi erguida a torre de sustentação do sino e construídas as rampas e grades laterais.

Nos últimos anos foram construídos banheiros, modernizado o sistema de som e instalado um eficiente sistema de refrigeração. Recentemente, foi incorporado ao patrimônio paroquial um terreno adjacente cujo propósito será de expandir o Salão de Festas.

Paroquiatos

Entre a criação da paróquia em 1961 até 2001, foi o primeiro pároco MONSENHOR VICENTE AMBRÓSIO DOS SANTOS. Durante algum tempo, contou com Padre Eddie Bernardes como vigário paroquial.

Entre 2001 até 2010, foi o segundo pároco DOM ANTÔNIO BRAZ BENEVENTE, atualmente Bispo Diocesano de Jacarezinho (Paraná). Durante seus últimos anos de paroquiato, contou com a colaboração de Padre Roberto Francisco de Oliveira como vigário paroquial.

Entre 2010 até 2012, foi o terceiro pároco PADRE SEBASTIÃO JOSÉ APARECIDO RIBEIRO.

E desde 2012, é o quarto e atual pároco PADRE MARCELO LÁZARO PINTO.

Por Vitor Lacerda

No próximo dia 14 de abril, nossa Arquidiocese comemora 56 anos de criação. Foi criada em 1962 pelo papa João XXIII, através da bula Qui tanquam Petrus. É composta atualmente por quatro dioceses: Uberaba, Patos de Minas, Uberlândia e Ituiutaba. No ano de sua criação, a composição da Arquidiocese de Uberaba era outra: Uberaba, Paracatu, Patos de Minas e Uberlândia.

Antes de narrar um pouco sobre a história de nossa Arquidiocese, chamo a atenção para a origem do termo Arquidiocese. No Império Romano, o imperador Diocleciano (284 – 305 d.C.) dividiu o Império em províncias administrativas, chamadas de Dioceses. Em cada uma, havia um vigário governante em nome do imperador. Com a queda do Império Romano, após a invasão dos bárbaros, a Igreja adotou a divisão e território que era chamado de Diocese passou a ser administrado por um bispo.

No Concílio Vaticano II, esse conceito de Diocese passou a ser caracterizado como “porção do povo de Deus para o pastoreio de um Bispo”. Contudo, com o crescimento da Igreja e também o crescimento territorial e, consequentemente, o aumento populacional, as Dioceses foram dividindo-se e formando novas Dioceses. Entre elas, a mais antiga é chamada de Arquidiocese, em razão do termo “arqui”, que em grego significa “primeiro”.

Nessa perspectiva hierárquica da Igreja Católica, a divisão de Arquidiocese e Diocese recebe também o nome de Província Eclesiástica, junção das dioceses sufragâneas e da Arquidiocese. Em nosso caso, nossa província recebe o nome de Província Eclesiástica de Uberaba.

A primeira diocese criada entre as quatro atuais componentes de nossa Província foi a nossa, elevada a Diocese em 1907 pelo Papa Pio X, seu primeiro bispo foi Dom Eduardo Duarte Silva (1907 – 1923) e recebeu como padroeiro o Sagrado Coração de Jesus. Inicialmente, todo o território do Triângulo Mineiro e também o do Alto Paranaíba foram administrados pelo bispo de Uberaba.

Em 1956, a segunda Diocese foi criada pelo Papa Pio XII, a Diocese de Patos de Minas, cujo primeiro bispo foi Dom José André Coimbra (1956 – 1968), tendo recebido como padroeiro Santo Antônio.

A Diocese de Uberlândia foi criada em 1961 pelo Papa João XXIII. O primeiro bispo nomeado para administrar a diocese foi Dom Almir Marques Ferreira (1961 – 1977), que havia sido pároco de nossa Catedral Metropolitana. Recebeu como padroeira Santa Teresinha do Menino Jesus.

A Diocese de Paracatu, que inicialmente pertenceu a nossa Província, foi primeiramente elevada à categoria de Prelazia. Prelazia territorial ou Abadia territorial é uma determinada porção do povo de Deus, territorialmente delimitada, cujo cuidado, por circunstâncias especiais, é confiado a um Prelado ou Abade que governa como seu próprio pastor, à semelhança do bispo diocesano” (Cân. 370)). Foi administrada pelos padres da Ordem Carmelita da Antiga Observância e, em 1962, na mesma bula de criação da Arquidiocese de Uberaba, a prelazia foi elevada a Diocese, sendo seu primeiro bispo Dom Raimundo Luí, O. Carm, e a padroeira escolhida foi Nossa Senhora do Carmo. Entretanto, a Diocese de Paracatu em 1966 tornou-se sufragânea da Arquidiocese de Brasília, a pedido do Arcebispo de Brasília.

A elevação a Arquidiocese, bem como a criação das Dioceses de Patos de Minas e Uberlândia, evidentemente partiu do esforço inicial do primeiro arcebispo Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, que administrou nossa Arquidiocese por quase quarenta anos (1939 – 1978). O processo de criação de uma Diocese exige longas pesquisas, reflexões, não apenas no âmbito territorial, mas envolve a cultura, a religiosidade e, consequentemente, a organização eclesiástica do local, além da própria administração econômica.

Em 1970, Dom José Pedro de Araújo Costa foi nomeado bispo coadjutor da Arquidiocese de Uberaba e permaneceu à frente da Arquidiocese com Dom Alexandre até 1978, ano em que ambos renunciaram.

Após a renúncia de Dom Alexandre em razão de sua longevidade, acompanhada pela de Dom José Pedro, quem assumiu a Arquidiocese de Uberaba foi Dom Benedicto de Ulhôa Vieira, nomeado pelo Papa João Paulo II. Durante seu governo, a Diocese de Ituiutaba foi criada, sendo a última, portanto, entre as quatro dioceses de nossa Província. Isto ocorreu em 1982 pelo papa João Paulo II e o primeiro bispo nomeado foi Dom Aloísio Roque Oppermann que, em 1996, seria nomeado o terceiro Arcebispo de Uberaba. A Diocese de Ituiutaba recebeu como padroeiro São José, titular da Catedral.

Assim, nestes 56 anos de Arquidiocese tivemos como Arcebispos: Dom Alexandre Gonçalves do Amaral (1939 – 1978), Dom Benedicto de Ulhôa Vieira (1978 – 1996), Dom Aloísio Roque Oppermann (1996 – 2012). Atualmente, temos Dom Paulo Mendes Peixoto, nomeado em 2012 pelo Papa Bento XVI.

Amanda Oliveira

A construção da capela de Nossa Senhora Aparecida foi idealizada por frei Gabriel de Frazzanó. Em 1971, quando a capela ainda estava inacabada, a imagem da padroeira do Brasil foi trazida pelos frades capuchinhos para a inauguração do templo. A comunidade foi crescendo em participação e em espiritualidade, bem como em sua estrutura material com a generosa doação de todo o povo, principalmente dos mais simples.

O decreto de ereção da paróquia deu-se em 19 de março de 1984, por Dom Benedito de Ulhôa Vieira, Arcebispo Metropolitano de Uberaba. Desmembrada da paróquia de Nossa Senhora do Carmo, foi instalada no dia 08 de abril de 1984, tendo como primeiro pároco Frei Vicente da Silva Pereira, da ordem dos frades menores capuchinhos. Os frades ficaram responsáveis pela paróquia até o final de 1989. A partir daí, foi designado para administrar a paróquia o então padre Antônio Braz Benevente.

Em fevereiro de 1991 assumiu a paróquia padre Luís Claudio Santos Silva. Em 1994, padre Márcio Antônio Resende Ruback. Já em 1996, padre Márcio foi transferido, sendo padre Bernardino Martinez Villa nomeado novo pároco. Em janeiro de 2004, tomou posse como pároco padre Gilberto Carlos Araújo, conduzindo a paróquia até junho de 2007, quando foi nomeado pároco Padre Márcio André Ferreira Soares que pastoreou a paróquia até final de 2012. Em janeiro de 2013, padre Eliseu Pereira de Carvalho assumiu a paróquia e permanece até o presente momento.

Ao longo dos anos, o templo passou por várias pequenas reformas necessárias. No ano de 2008, no entanto, deu-se início a uma reforma que o remodelou totalmente em seu espaço interno, bem como em sua fachada, ganhando um estilo contemporâneo, permanecendo apenas duas paredes laterais pelo fato de terem sido construídas com tijolos feitos por frei Gabriel. Essa grande reforma teve sua conclusão no ano de 2017.

Nesta trajetória é possível perceber que a paróquia cresceu muito. Teve momentos difíceis, mas muito maiores foram os momentos de vitórias e conquistas em sua missão evangelizadora. Junto à Igreja Matriz de Nossa Senhora Aparecida, a paróquia conta com duas comunidades urbanas, Santa Rita de Cássia e Mãe da Esperança, e duas rurais, Sagrado Coração de Jesus e São Bento, e diversas pastorais e movimentos que dinamizam a evangelização em seu território.

Pastoral do Batismo Fundada em setembro de 2007 pelo Pároco Marcio André. Hoje é composta por 20 membros (10 casais). Nosso trabalho visa à evangelização da família que busca o Sacramento do Batismo, procurando despertar a necessidade de viver este Sacramento no dia a dia da família, na sociedade.

Pastoral da Acolhida A Pastoral da Acolhida da Paróquia Nossa Senhora Aparecida existe há cerca de 15 anos.Nós nos reunimos uma vez por mês para rezar, aprimorar nossa missão e avaliar nosso trabalho.

Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística A Pastoral dos Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística conta no momento com mais de 40 ministros. São assistidos quase 50 enfermos.

Grupo de Oração Maranatha O grupo de Oração Maranatha surgiu de alguns integrantes do grupo de jovens, Jovem Unido no Amor de Cristo (JUNAC). Foi no mês de maio de 2001 que houve a primeira reunião do Grupo de Oração Maranatha que tem hoje 17 anos de existência. Temos de quarenta a sessenta participantes. As reuniões ocorrem todos os sábados das 20h às 21h30, na Casa de Retiro Maria Santíssima.

Pastora da Saúde Aproveitando o Ano do Laicato, no dia 05 de abril deste ano, novos e antigos voluntários da Pastoral da Saúde da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, de Frutal/MG reuniram-se no centro Pastoral da Paróquia com o objetivo de traçar novas ações para a Pastoral. Na oportunidade, padre Eliseu Pereira Carvalho apresentou a nova coordenadora, Senhora Evanilda Alves Silveira Costa. Nossa Pastoral da Saúde (em processo de reorganização) está buscando sistematizar seu trabalho de forma a atender mais e melhor as pessoas que dela necessitam. Em nossa dimensão solidária, damos assistência aos enfermos. A pastoral realiza visitas na Transnefro Clínica de Hemodiálise e Nefrologia Ltda. As famílias também solicitam a presença da Pastoral da Saúde em suas casas.

Processo de Iniciação à Vida Cristã A Paróquia Nossa Senhora Aparecida tem tido uma ótima participação das famílias e muitas bênçãos já foram alcançadas. As famílias estão entusiasmadas com o novo método de Catequese, agora com inspiração Catecumenal. Contamos com a participação: Eucaristia – 73 famílias; Mistagogia – 21 famílias; Crisma – 70 famílias e Catequese de Adultos – 25 famílias.

Pastoral do Dízimo Nossa Pastoral teve início em 2009 com catorze integrantes. Hoje, somos vinte e cinco participantes. Nosso trabalho junto à Igreja é o de levar a conscientização de como ser um dizimista fiel a Deus. E o fazemos por meio de palestras, testemunhos, com missa no segundo domingo do mês voltada para o dízimo, quando fazemos sorteios aos aniversariantes do mês de uma Bíblia e, aos que devolverem no dia seu dízimo, sorteio de uma lembrança. Em todas as missas, temos o plantão do Dízimo.

Equipe de Eventos A Equipe de Eventos foi criada em 2014 e é formada por doze paroquianos. Tem como principal finalidade planejar e coordenar, juntamente com o Padre, as festas realizadas pela Paróquia.

Ministros Extraordinários da Palavra O Ministério da Palavra iniciou seus trabalhos na paróquia em março de 2008. É um ministério de serviço prestado à comunidade e realizado por amor a Deus e ao próximo. Um ministério de entrega, motivado pela fé e sustentado pela esperança.

Pastoral Missionária (Grupos de Reflexão) É uma pequena comunidade de cristãos reunidos nas áreas missionárias, nas próprias casas para rezar, refletir e partilhar a realidade que os cerca à luz da Palavra de Deus. Esta Pastoral é chamada a inculturar a mensagem cristã.

Clube de Mães O Clube de Mães é realizado semanalmente, com duração de três horas, e tem como finalidade ensinar trabalhos artesanais. É considerado uma Pastoral das Artes dentro da Igreja. Por meio de nossos encontros, procuramos levar alegria, ânimo e acolhimento. A cada final de encontro, ocorre uma evangelização através de orações espontâneas.

Pastoral Litúrgica Em 1995, teve início a Pastoral Litúrgica com representantes das diversas pastorais. No ano de 2008, foi reorganizada a equipe e, atualmente, conta com seis membros que trabalham na organização das missas e momentos importantes da paróquia.

Pastoral do Canto Atualmente é composta por trinta e dois agentes com idade entre 12 e 60 anos, divididos em cinco corais menores que doam seu tempo para evangelizar através da música.

Acólitos, Coroinhas e Marianinhas Em nossa paróquia, a pastoral dos Acólitos, Coroinhas e Marianas conta no momento com mais de trinta membros, incluindo crianças, adolescentes e jovens da comunidade.

Apostolado da Oração Estamos hoje com trinta e cinco zeladores que participam do grupo. Nosso Apostolado é muito presente nas missas e festividades da paróquia. Já existe há mais de vinte anos em nossa paróquia. Reunimos sempre uma vez por mês. Toda primeira sexta-feira do mês ocorre a Hora Santa com roteiro de O Mensageiro, seguida da Missa em louvor ao Sagrado Coração de Jesus. Sempre comemoramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus no mês de junho com celebrações do tríduo, procissão e a Santa Missa solene do dia com participação muito animada de nossas associadas.

Da Secretaria da Paróquia

No dia 08 de dezembro de 1994, Dom Benedicto de Ulhôa Vieira assinou o decreto de Ereção de Paróquia e a Capela de Santa Maria Dos Anjos tornou-se Paróquia, na cidade de Delta – MG. Esse acontecimento trouxe transformações que presentemente continuam a ocorrer na comunidade católica de Delta.

Uma vez constituída Paróquia Santa Maria Dos Anjos, dois sacerdotes foram enviados para que assim se pudesse dar continuidade ao desenvolvimento da Igreja Matriz. Atualmente, o cargo de Pároco é ocupado pelo Padre Hélio Marcelo da Silva, que há dois anos e nove meses está atuando na Matriz e nas seis comunidades da cidade. Durante esse tempo, unido a toda a comunidade, ele vem desenvolvendo um belíssimo trabalho de fé e ação.

Muitas mudanças vêm acontecendo na Paróquia e comunidades, entre elas, mudanças na estrutura física. A Igreja Matriz, recentemente, passou pelas seguintes reformas: Capela do Santíssimo – reinaugurada em 13/12/2015 – presbitério, sala do Padre, trono da Padroeira, fachada, colocação do vitral de Santa Maria dos Anjos, pintura, restauração do jardim entre outras modificações trazendo maior acolhimento e satisfação a todos os fiéis que, com apoio e incentivo do Padre Hélio Marcelo, concretizam essas e outras benfeitorias.

A Matriz conta com missas todo 2º dia de cada mês em honra a Santa Maria dos Anjos e também missas às quintas-feiras e domingos.

A primeira igreja construída na cidade de Delta foi a Capela de São Sebastião, em 1960. Com o passar dos anos, a igreja precisou de grandes reparos, tais como: forro, piso, novas instalações elétricas, reforço das paredes e outros. Em março de 2014, deu-se início às reformas e em 22 de abril de 2016 ocorreu a reinauguração da Capela, que atualmente atende aos fiéis com missa semanal todos os sábados às 17 horas. No mês de janeiro, todos os fiéis se unem na organização da festa de São Sebastião.

No bairro Bela Vista, está localizada a Capela de Nossa Senhora Aparecida; sua construção começou no ano de 2013 e o caminho para a concretização desse projeto vem acontecendo com a atuação da comunidade. Muitos avanços foram conquistados até o momento. Entre eles estão: a construção de salas e coro (2017), sala do Padre, piso na sacristia e sala da futura Capela do Santíssimo. Outros progressos, com empenho, serão consolidados.

Na comunidade de Nossa Senhora Aparecida, há missas todos os sábados, às 19h30. No mês de outubro, é organizada a festa de Nossa Senhora Aparecida, Todos os fiéis organizam e participam do novenário, procissão e quermesse.

Além dessas comunidades citadas acima, a cidade de Delta tem outras comunidades: Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Mãe Rainha, São João Batista e a comunidade Santa Rita de Cássia. A Capela desta comunidade ainda está em processo de documentação e finalização. Para as demais, ainda não há igreja construída. Todas as comunidades têm celebrações de missa ao menos uma vez por mês. Nos demais dias, os fiéis se reúnem para rezar o terço em família; no tempo quaresmal e advento se propõem a fazer Vias Sacras, Novena de Natal e Celebração de seus Padroeiros.

A Paróquia Santa Maria dos Anjos se alegra e está aberta a todos que, com seus dons, participem e contribuam com as pastorais e grupos que existem atualmente: Pastoral do Batismo, Pastoral Bíblico-Catequética, Pastoral do Dízimo, Pastoral da Liturgia, Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão, Pastoral da Criança, Vicentinos, Pastoral da Acolhida, Pastoral do Canto, Pastoral dos Coroinhas, Acólitos e Marianas, Pastoral da Esperança, Terço dos Homens e Grupo Bíblico de Reflexão. A ação do leigo é de suma importância para que a igreja obtenha sucesso em sua missão, como nos fala o Papa Francisco, em sua primeira Exortação Apostólica, reportando-se às pastorais: “Agradeço o belo exemplo que me dão tantos cristãos que oferecem a sua vida e o seu tempo com alegria. Este testemunho faz-me muito bem e me apoia na minha aspiração pessoal de superar o egoísmo para uma dedicação maior”.

Maria Priscila Ribeiro Lima

Memória dos Parócos

Já tivemos a oportunidade de tratar com todos nossos caríssimos leitores um pouco sobre a biografia e as realizações de todos os curas da sé, ou párocos da Catedral, articulando o período em que estiveram à frente de nossa igreja referencial com a história brasileira, uberabense e da própria Igreja Católica em todos os seus níveis. Pudemos assim percorrer um longo caminho de 90 anos de história, iniciando em 1897, e finalizando em 1987. Pudemos percorrer nesses noventa anos todos os períodos políticos da história republicana brasileira e acompanhar toda a história eclesiástica moderna a partir de São Pio X (o papa que criou nossa diocese), bem como todos os bispos de Uberaba desde D. Eduardo Duarte Silva. Retomemos todos os sacerdotes dos quais tratamos brevemente: 1) primeiramente Mons. Inácio Xavier de Souza (1897-1929) e os desafios por ele enfrentados na estruturação tanto doutrinal quanto material logo no começo do século; 2) Pe. Alaor Porfírio de Azevedo (1929-1934) e sua coragem ao enfrentar os modernismos que considerava prejudiciais à fé; 3) Mons. Joaquim Tiago dos Santos (1934-1935), considerado braço direito de D. Luís Maria Sant’Ana no governo da diocese de Uberaba; 4) o mais jovem de todos a assumir a Catedral: Pe. Jacinto Fagundes (1935-1941), com apenas 31 anos; 5) Mons. Almir Marques Ferreira (1941), futuro primeiro bispo de Uberlândia; 6) Mons. Saul Amaral (1941-1946/1948-1949), mais reconhecido por seus longos anos na condição de vigário de Sacramento; 7) Côn. Isaías Lagares (1946-1948), importante reorganizador do Seminário Diocesano; 8) Côn. José Armênio Cruz (1949-1954), reconhecido por seu diligente trabalho à frente do jornal Correio Católico, tornado diário; 9) e, finalmente, Mons. Olympio Olivieri (1954-1987), o mais longo pároco a frente de nossa Catedral Metropolitana. Que o conhecimento histórico nos sirva de fomento para nossa identidade de cristãos católicos confiados ao Sagrado Coração de Jesus e inscritos na Arquidiocese de Uberaba.

Por Vitor Lacerda.

Dando prosseguimento à nossa pretensão de caminhar pela história conduzidos pelas biografias dos sacerdotes que em algum momento de suas vidas tiveram a dignidade de serem párocos da Catedral Metropolitana, ou Curas da Sé, como então eram referidos, propomos uma discussão preliminar que aponte as possibilidades de crescimento cultural que este estudo histórico em particular propicia aos nossos caros leitores. A matéria-prima da história, por excelência, são as relações humanas estabelecidas ao longo do tempo ou como afirma o padre e historiador francês Michel DeCerteau, “sobre o corte entre um passado, que é seu objeto, e um presente, que é o lugar de sua prática, a história não para de encontrar o presente no seu objeto, e o passado, nas suas práticas”. Partindo então do pressuposto de que a Igreja Católica está condicionada a Cristo cujos exemplos e ensinamentos estão repletos do sentido de coletividade – em detrimento de qualquer espírito individualista – como quando ele afirma que onde estiverem reunidos dois ou três em Seu nome, aí Ele se fará presente (Mt 18, 20) ressaltando a necessidade apostólica de comunhão e união entre os homens, entendemos também que a história da Igreja e daqueles que a integram é também, de certo modo, parte da história de todas as cidades, países e continentes em que ela se faz presente. Assim sendo, quando da saída de Pe. Alaor Porfírio para Uberlândia em 1934, a autoridade diocesana decidiu que o então Secretário do Bispado, Mons. Joaquim Thiago dos Santos, nascido em 06/08/1881 e ordenado em 19/09/1909, iria assumir interinamente a Catedral até que um nome apropriado fosse encontrado, o que somente aconteceria um ano depois, em 1935. A escolha por Mons. Joaquim não era de se surpreender, visto que o experiente sacerdote que contava com seus 53 anos, já ocupava diversas funções administrativas no episcopado de D. Luiz Maria de Sant’Ana, como Diretor e Redator-Chefe do jornal diocesano, o Correio Católico, como Diretor Espiritual e Ecônomo do Seminário Menor e finalmente como Chantre do Cabido Diocesano (assessor para questões pertinentes à música sacra e litúrgica). Após servir um ano interinamente na Catedral, Mons. Joaquim haveria de ter seu bom trabalho reconhecido com sua nomeação simultânea como Vigário-Geral e Juiz Oficial do Tribunal Ordinário. O próximo titular da Catedral haveria de assumir ainda em 1935 após ser transferido da Paróquia de São Pedro Alcântara em Ibiá (MG). O Pe. Jacinto Fagundes nasceu em 12 de setembro de 1904 e foi ordenado aos 27 anos em 06/12/1931 sendo portanto um dos mais jovens párocos da Catedral, com apenas 31 anos. Sua juventude não impediu que o bispo lhe confiasse o governo da Catedral e o nomeasse também para ser o mestre de cerimônias diocesano, diretor da Federação Mariana em Uberaba e Promotor de Justiça do Tribunal Eclesiástico. Como fatos notáveis que ocorreram enquanto Pe. Jacinto foi o pároco da Catedral, destacamos a trágica situação da saúde pública em Uberaba que vivia verdadeira situação de caos com surtos generalizados de tuberculose, tifo e febre amarela. Como tentativa de conter essa questão, o governo diocesano em parceria com a sociedade civil, inaugurou em 1935 a Santa Casa de Misericórdia, contribuindo decisivamente para a contenção do adoecimento da população. Foi igualmente notável a missa campal realizada em 22 de fevereiro de 1936 na Praça Rui Barbosa marcando a participação da Igreja na comemoração do centenário de Uberaba. Em abril de 1938, dá-se a notícia da transferência do bispo D. Luís Sant’Ana para Botucatu (SP) e a chegada em dezembro de 1939 de D. Alexandre Gonçalves do Amaral, o que naturalmente implicava numa reestruturação da administração diocesana e na transferência de sacerdotes das paróquias em que se encontravam. Quando Pe. Jacinto é transferido da Catedral, em 1941, deixa um legado de aproximadamente 5.500 batizados e 1.000 casamentos. Apontamos também que foi durante este período que o presidente Getúlio Vargas suspende as liberdades democráticas e instaura a Ditadura do Estado Novo (1937-1945) e que em 1939 eclodiria a II Guerra Mundial na Europa com a invasão da Polônia pela Alemanha, trazendo muitos imigrantes dos países envolvidos para o Brasil e consequentemente para Uberaba.

Vitor Lacerda – Historiador.

Após termos percorrido quase um século da história eclesiástica e regional a partir de um critério consciente, isto é, a vida e obra dos párocos da Catedral, nos foi permitido ao longo dos últimos meses simultaneamente compreender o processo histórico que os conteve, mas também nos inspirarmos pelas biografias destes homens devotados no amor à Deus e à Igreja. Trataremos nesta edição daquele que por mais anos permaneceu na condição de pároco da Catedral (33 anos) e que foi o último desta saudosa e eminente lista que decidimos contemplar que retornou para a morada do Pai.

Nascido fora dos limites geográficos diocesanos, na cidade paulista de São José do Rio Pardo, no dia 26 de julho de 1915, era filho do sr. Luiz Olivieri e da sra. Carmela Miceli, ambos imigrantes italianos. Aos dezoito anos fez sua iniciação na Congregação Estigmatina na cidade de Rio Claro, onde permaneceu por apenas dois anos, quando, egresso dessa formação inicial no clero religioso, transferiu-se para o clero diocesano uberabense em 1934, indo portanto concluir seus estudos no Seminário do Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Sua ordenação sacerdotal aconteceu em 8 de dezembro de 1941, quando Olympio contava com 26 anos, tendo como celebrante o bispo D. Alexandre Gonçalves Amaral. Sua primeira missa, celebrada no dia seguinte à ordenação, foi justamente no lugar do qual futuramente seria o pastor por mais de três décadas: nossa Catedral.

Logo após sua ordenação, foi nomeado vigário-cooperador da Catedral entre 1942 e 1944, durante o paroquiato por nós já analisado de Mons. Saul Amaral. Em 1945, afastou-se de Uberaba após convite para ser professor no Seminário do Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte onde permaneceu por pouco tempo visto que em 1946 tornou-se vigário de Ibiá, cidade no interior do Triângulo. Permaneceu em Ibiá por oito anos, entre 1947 e 1954. Neste período, destacou-se pela construção de uma Santa Casa na cidade bem como pela profunda reforma realizada na igreja matriz de São Pedro de Alcântara. Em 1954 foi chamado para servir na condição de pároco – ou cura da sé – da Catedral Metropolitana de Uberaba, onde haveria de permanecer até sua morte, em 1987.

Esse longo período em que esteve à frente de nossa catedral foi marcado por profundas transformações a nível eclesiástico, social, político e econômico, seja no Brasil como em todo o mundo. Podemos exemplificar este argumento no fato de que mons. Olympio conviveu com três arcebispos (D. Alexandre Amaral, D. José Pedro Costa e D. Benedito Ulhôa Vieira), cinco papas (Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II) e dez presidentes da República (de Getúlio Vargas até José Sarney). Foi neste período que Uberaba foi elevada a arquidiocese (1962) e que ocorreu o Concílio Vaticano II (1962-1965) que acarretou profundas mudanças no cotidiano eclesiástico. Em nosso país e consequentemente na conjuntura mineira e uberabense na qual está inserida ao mesmo tempo em que incide sobre este espaço temporal do paroquiato que nos colocamos a analisar, viveu-se um profícuo período democrático interrompido em 1964 com o advento da Ditadura Militar, período de grandes desafios e tristezas que somente haveria de ser superado com a redemocratização iniciada em 1985.

De forma geral, este período foi marcado por uma profunda laicização da sociedade e pelos desafios que daí surgem. Em Uberaba, trazemos três pontos que ilustram este novo panorama: o fim do informativo Correio Católico em julho de 1972 convertendo-se no atual Jornal da Manhã; o gradual afastamento dos irmãos maristas das atividades de docência e administração do Colégio Marista a partir de 1975; e a incorporação das Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino (Fista) das dominicanas pelas Faculdades Integradas de Uberaba (Fiube), atual Uniube, em fevereiro de 1981. De certa forma o Concílio Vaticano II já havia revigorado a Igreja e fornecido os instrumentos de atuação e fortalecimento pastoral pelos quais se devia agir dali em diante prevendo, em grande medida, esse cenário apresentado.

O tão saudoso mons. Olympio Olivieri faleceu no dia 23 de novembro de 1987 e seus restos mortais encontram-se, atualmente, na Catedral Metropolitana da qual foi por tantos anos dedicado e zeloso pároco.

Vitor Lacerda.

Em 1938 se deu a nomeação do 3º Bispo de Uberaba, D. Luiz Maria de Sant’Ana, para a Diocese de Botucatu (SP) e apenas no ano seguinte viria a nomeação de que caberia a D. Alexandre Gonçalves do Amaral ocupar a sede vacante deixada na diocese uberabense. Como de costume em transições episcopais, os primeiros anos são dedicados ao conhecimento tanto da região quanto da cidade em que a diocese está inserida mas também da estrutura governativa eclesiástica e de uma gradual aproximação com o clero local. Exatamente neste período de transição que se dá em fevereiro de 1941 a transferência do pároco da Catedral, Pe. Jacinto Fagundes, que então inteirava seis anos de paroquiato.

Para assumir a importante missão de conduzir a principal e maior paróquia da cidade naquele momento, foi escolhido Mons. Almir Marques Ferreira, que durante o episcopado de D. Luis Sant’Ana havia sido Diretor do Seminário Menor e Juiz Pró-Synodal do Tribunal Eclesiástico de Uberaba, o que demonstrava evidentemente sua profunda formação sacerdotal tanto em direito canônico quanto em teologia. Ele havia nascido na cidade de Patrocínio (MG) em 18 de novembro de 1911 e contava com seus 30 anos no momento em que se tornara pároco – ou cura, como se dizia na época – da Catedral Metropolitana.

No curto espaço de nove meses em que Mons. Almir permaneceu a frente da Catedral, Uberaba se deparou com três importantes inaugurações. A primeira delas foi a do primeiro arranha-céu do Brasil Central, o Grande Hotel na Av. Leopoldino de Oliveira, em fevereiro de 1941, agora na iminência de ser demolido. Em outubro do mesmo ano, a Empresa Telefônica de Uberaba passava a oferecer serviços automáticos de telefonia. Esses dois eventos demonstram o processo de modernização em pleno desenvolvimento no período.

Por fim, no mês de maio, o presidente da República, sr. Getúlio Vargas, veio a Uberaba de modo a participar de eventos da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (entidade que futuramente se converteria na atual ABCZ) e inaugura um monumento-obelisco na Praça Rui Barbosa em homenagem ao governador-interventor de Minas Gerais, sr. Benedito Valadares. Quanto a esta inauguração, escreve Marcelo Prata dos Santos que a praça foi “remodelada, tendo sido demolido o coreto de cimento armado e derrubadas as belas palmeiras imperiais e todas as suas árvores, dando lugar a um novo tema paisagístico”. Não podemos ignorar, todavia, o conjunto simbólico que se inscreve nas entrelinhas deste ato. Se foram não somente as palmeiras imperiais, mas com algumas décadas de atraso, os últimos símbolos de um passado monarquista e confessional que representava o passado, o arcaico, o retrógrado – enfim aquilo que se pretendia superar. Remodelar a praça central retirando-lhe a imagem em bronze do Cristo que hoje figura na escadaria central de nossa Catedral e colocar-lhe no lugar um obelisco em homenagem a uma figura do Estado significa pois este processo lento de laicização que se inicia desde a proclamação da República.

Como muitos que o antecederam e que haveriam de sucedê-lo, Mons. Almir M. Ferreira se viu diante de um tempo em que as mentalidades pareciam estar se transformando e que o conjunto pétreo de valores cristãos não parecia se encaixar diante de tanta modernidade. A fé permanente de que esses mesmos valores é que deveriam conduzir tais transformações é que mantem a Igreja Católica a mais de dois milênios em estreita sintonia com o tempo em que se insere sem abrir mão de seus mais valiosos princípios e sem negligenciar a missão a ela relegado pelo próprio Cristo. Reconhecer esse desafio sempre enfrentado com altivez pela Igreja e pelos homens e mulheres que a compuseram é sinal de confiança e coragem de que permanecemos em comunhão.

Finalmente, em outubro de 1941, Mons. Almir haveria de ser novamente realocado pela autoridade episcopal à qual permaneceria a serviço até o ano de 1961, ou seja, por mais 20 anos. Neste ano, o papa João XXIII, através da bula Animorum Societas, criava a Diocese de Uberlândia e pelas mãos do núncio apostólico no Brasil, D. Armando Lombardi, que o ordenou bispo, D. Almir Marques Ferreira se tornaria o primeiro pastor a conduzir a recém-criada diocese de Uberlândia permanecendo até 1977, quando se tornou bispo-emérito. Em 1 de janeiro de 1984, aos 73 anos, faleceu em Uberlândia retornando definitivamente à morada celeste.

Por Vitor Lacerda.

É importante introduzirmos este artigo ressaltando a inseparável associação que se estabelece entre o que podemos chamar de história da Igreja particular de Uberaba com a própria história desta cidade e por conseguinte de todo o Brasil. Analisar como os diversos sujeitos se influenciam e transformam as realidades nas quais se inserem é nosso desafio ao olhar para a vida desses padres e religiosos que marcaram, cada qual a seu modo, mas todos movidos pelo mesmo amor cristão, nossa trajetória social. Os acontecimentos específicos que fundamentam o alvorecer da Igreja uberabense como a construção da primeira ermida no começo do século XIX confundem-se com o processo de povoação desta cidade; bem como o desenvolvimento da Igreja com a fundação de um bispado e a chegada de D. Eduardo, nosso primeiro bispo, coincide com a expansão econômica e política de Uberaba. É preciso, assim, compreender que o exercício de lembrança da vida de homens piedosos como a de Pe. Alaor, servem, para além de exemplo de uma vida dedicada a Deus e à Igreja, como instrumento de compreensão de nossa fé, de nossa Igreja e de nossa cidade.

Antes de assumir a administração do Curato da Sé – denominação que então se usava para se referir à Catedral –, Pe. Alaor Porfírio destacou-se no auxílio prestado em Patos de Minas na condição de coadjutor de Mons. Manoel Fleury Curado. Foi então convidado pelo Vigário Capitular da Diocese, Cônego José João Perna, para assumir a Catedral de Uberaba o que acontece por provisão do bispo uberabense D. Frei Luiz Maria de Santana em 17 de dezembro de 1929. É preciso pontuar que foi durante o mesmo ano de 1929 que a quebra da bolsa de Nova York impôs uma gravíssima crise econômica no Brasil, gerando como consequência a falência de muitos, o encarecimento geral dos produtos, a carestia de alimentos e um desemprego acentuado. A atuação caridosa por parte de Pe. Alaor, num período que a circunscrição eclesiástica da Catedral abrangia as capelas de Santa Terezinha, São Sebastião (em Itiguapira), N. Sra. Da Conceição (na Baixa) e São Sebastião (em Ponte Alta), foram certamente decisivas, e sua capacidade para arrecadar a excepcional quantia de quatrocentos contos de réis num momento de crise e dificuldades para o início da reforma na catedral que, segundo Pe. Prata, em seu livro Memória da Arquidiocese de Uberaba, de acordo com “testemunhas da época, era ‘o maior pardieiro da cidade’. O reboco caia das paredes, as colunas de madeira, como também as grades e o soalho, tudo estava roído pelos cupins”. Deste modo, o cumprimento de seus deveres sacerdotais num momento de acentuada crise e a capacidade de apesar disso alcançar resultados extraordinários são dignos de nota.

Permaneceu como cura da Catedral de Uberaba até o dia 10 de maio de 1934 sendo então substituído interinamente pelo cônego Joaquim Tiago dos Santos. Seguiu então para Uberlândia, onde em 1935, por conta de seu envolvimento político, foi vítima de evento assim descrito por inquérito policial: “os comunistas prenderam-no, certa noite, despindo-o completamente e pixando-lhe o corpo, o amarraram em praça pública, para escárnio e desprestígio da Igreja Católica” demonstrando assim o clima de tensão política que se vivia na época entre forças políticas antagônicas e o inevitável envolvimento da Igreja em ambos os lados desse enfrentamento. Finalmente, Pe. Alaor Porfírio retirou-se definitivamente na cidade de Araxá a partir de 1936.

Por Vitor Lacerda.

Mons. Saul Amaral nasceu na cidade goiana de Ipameri em 04 de abril de 1931 – dia de Santo Isidoro -, uma ilustre cidade situada entre dois rios e de cujo estado nasceu nossa diocese e que também se encontra sob os cuidados de padroeira de Nossa Senhora da Abadia. Lá nasce mas cria-se na cidade de Coromandel donde recebe a mineiridade que o acompanharia até o final de seus dias. Seus estudos são iniciados em Uberaba, tanto no Colégio Marista como no Seminário São José donde é por fim encaminhado ao Seminário Coração Eucarístico de Jesus, na capital mineira. No dia 08 de dezembro de 1940 – com seus vinte e sete anos de idade – é ordenado sacerdote pelo bispo de Uberaba D. Alexandre G. Amaral em missa solene na Catedral.

Torna-se coadjutor do já conhecido D. Almir M. Ferreira até sua nomeação para Vigário de Coromandel, cidade de sua infância, onde também permaneceu por apenas um ano até seu retorno a Uberaba para assumir o governo da pérola diocesana na Praça Rui Barbosa. Seu paroquiato em nossa Catedral Metropolitana se estendeu primeiramente entre os anos de 1941 e 1946 e posteriormente entre os anos de 1948 e 1949, somando-se cerca de sete anos no total.

O tempo em que foi pároco – ou cura da sé – marcou-se principalmente pelos anos centrais da Segunda Grande Guerra, conflito que contou com a participação de vários pracinhas uberabenses na Força Expedicionária Brasileira que foi à Europa lutar. Da mesma forma, o ano de 1945 marcaria o fim do extenso período de quinze anos em que Getúlio Vargas esteve à frente da política nacional. A redemocratização ocorrida neste ano abrangeria o direito de voto às mulheres e permitiria por mais uma vez a criação de partidos políticos. Após seguidos anos com prefeitos indicados arbitrariamente pelo governo-interventor mineiro, o povo uberabense elegeu em 1947, pela primeira vez em sufrágio universal, um prefeito – Dr. Boulanger Pucci – e vereadores. Seguindo o exemplo de outras dioceses, o bispo de Uberaba instituiu nesse momento a Liga Eleitoral Católica (LEC) que formava uma lista dos candidatos aprovados pela autoridade diocesana provenientes de diversos partidos que estivessem em consonância com a moral cristã e poderiam ser votados pelo eleitorado católico.

Após sua saída da Catedral, permanece brevemente em Uberlândia até que a autoridade diocesana determinasse de forma definitiva sua atividade sacerdotal na egrégia cidade de Sacramento, donde seria vigário e pároco e à qual dedicou-se por 31 anos, constituindo-se em parte fundamental da história recente do município que eterniza-lhe o nome numa de suas praças. Retorna à morada celeste no dia 21 de maio de 1980.

Vitor Lacerda – Historiador.

Maria Zélia de Vasconcelos nasceu no dia 27/11/1920 em Agrestina/PE, e estudou no internato no Colégio das Damas Cristãs, em Recife, onde se formou em Contabilidade. Aos 22 anos, passou em primeiro lugar em Concurso da Caixa Econômica Federal, fazendo carreira, tornando-se Gerente. Frequentava o Mosteiro Beneditino de Olinda, e certo dia deslumbrou-se com a beleza das celebrações litúrgicas, passando a desejar ser monja.

Transferida para o Rio de Janeiro, continuou freqüentando o Mosteiro Beneditino, e logo solicitou sua entrada no Mosteiro de São Paulo. Foi aconselhada a esperar mais um pouco, e soube da fundação de um Mosteiro em Uberaba, sendo a segunda a candidatar-se – as fundadoras dinamarquesas do Mosteiro chegaram em Uberaba em 13/05/1948. Em 1950, chegou Maria Zélia, em companhia de seu pai, e durante 02 anos residiu no antigo prédio do Externato Cristo Rei, residência provisória das monjas. Em 10/04/1951, adotando a alcunha de Irmã Cecília Vasconcelos, recebeu o hábito beneditino, na companhia de Irmã Maria, e, em 14/04/1952, fez votos de estabilidade, conversão dos costumes e obediência – estabilidade é prometer que sempre vai morar no mesmo Mosteiro; por isso, Irmã Cecília sempre viveu no Mosteiro da Rua Visconde do Rio Branco.

Em 14/03/1983, foi eleita abadessa do Mosteiro Nossa Senhora da Glória, e recebeu a bênção abacial em 24/04/1983, permanecendo no cargo até 02/12/1991. Madre Cecília faleceu em 06/04/2010, aos 89 anos.

Depoimento sobre a vida monástica Na Igreja Católica há freiras de vida ativa dedicando-se a orfanatos, asilos, hospitais ou escolas. As monjas beneditinas, em vida monástica, só se ocupam de Deus, na solidão e no silêncio de uma vida simples e escondida de contínua oração e intensa penitência pela intercessão em prol da Igreja e do mundo. As monjas do Mosteiro Nossa Senhora da Glória levantam-se às 4h40 e ficam em recolhimento e oração até às 9h, momento em que iniciam suas atividades ocupacionais. Vivem do próprio trabalho de ateliê, hospedarias, horta, cerâmica, prestação de vários serviços e obra social.

Por ocasião de seu aniversário de 80 anos, Madre Cecília revelou o seu entusiasmo pela vida monástica:

Costumo dizer que uma jovem pode perceber se tem vocação para a vida monástica se seriamente se entusiasmar pelo desejo de viver uma vida de contínua vigilância para, com lealdade e equilíbrio, conseguir a maturidade humana, sempre se reeducando na capacidade de adaptação a uma dócil e simpática convivência em comunidade.

As virtudes indispensáveis a toda jovem vocacionada para a vida religiosa são: otimismo, alegria e inteligente senso de crítica. Mesmo que tenha tais virtudes em grau mínimo, assim mesmo a jovem pode fazer experiência de vida monástica, pois o Espírito Santo, como bom Educador de almas, vai ensinando aos poucos. No mundo moderno da técnica e da informática, não há contradição alguma em uma jovem escolher a vida monástica, porque o desejo de sempre se colocar, em primeiro lugar, o plano de Deus e os valores espirituais da vida cristã, é uma verdadeira bênção. O silêncio, a vida disciplinada e a vida de oração fazem muito bem não só ao espírito, mas são umas ótimas terapias também para a saúde física.

Não me pesa o voto de obediência, pois o voto é feito a Deus. São Bento repetia que “a obediência prestada à pessoa da superiora é endereçada a Deus.” Sempre para uma religiosa pode haver crises de obediência, mas todo dia, em coerência ao que se prometeu, deve ser atualizado aquele “sim” dado no dia da profissão religiosa.

Ovoto de pobreza é o despojamento total e livre de todo e qualquer bem material. A monja nada possui de próprio. Tudo é comum. Tudo da comunidade. A monja não pode dar ou receber presentes sem licença. Presta conta de tudo que lhe for entregue e contenta-se com um teor de vida simples, na alimentação e nas vestes. Pelo voto de pobreza, nada se pede porque, de quem está à frente da comunidade, a consagrada espera receber tudo o que precisa. Vivendo assim, toda monja vive imitando a vida de Cristo que se fez pobre por Amor.

Nos meus 80 anos não quero perder a oportunidade de afirmar que sou uma monja muitíssimo feliz. Agradeço muito a Deus pela graça de vocação religiosa. Sinto toda alegria do mundo ao me ver consagrada a Deus e em contínuo crescimento humano, comunitário, moral e espiritual.

Por Carlos Pedroso.

Ivone de Camargos Rocha, nasceu em 18 de setembro de 1915 no Prata / MG, em uma fraternidade de 3 filhos e 3 filhas do casal cristão, Sr. Homero Rocha e Sra. Zulmira Camargos Rocha. Foi batizada a 10 de outubro com o nome de Ivone. Seu pai era farmacêutico e pela dedicação cristã invejável, na lembrança da filha era assim descrito: “Aos doentes na farmácia meu pai era médico, o farmacêutico e o doador dos remédios”. Todas as noites nossos pais nos ensinavam a rezar conversando com o Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora. E davam exemplo: “Minha mãe se levantava todos os dias às 5h00 para ir à missa. Aos sábados meus pais faziam distribuição de mantimentos aos pobres”.

Desde cedo a menina Ivone, infantilmente, se sentia enamorada por Jesus e sentia que Jesus era apaixonado por ela. Em sua mocidade “dançava, passeava, cantava mas nunca teve outro namorado a não ser Jesus. Eu cantava o dia inteiro de cor as músicas de rádio. Quando entrei  para o convento, meu pai, saudoso, comprou um rádio para continuar escutando as músicas de meu repertório. Minha vocação nasceu num dia, pelos meus 4 anos, ao ouvir uma senhora amiga da família conversando em nossa casa contando que tinha duas freiras dominicanas nas missões. A mulher contava: Fui visitar minhas duas filhas freiras. A vida delas é linda. Trabalham muito nas Missões de índios. Lavam suas roupas no rio e vivem alegres em uma choupana no mato. Naquela mesma noite, na conversa de toda a noite com o Sagrado Coração de Jesus eu rezei: Jesus, quando crescer quero ser freira para viver alegre e feliz para cuidar do próximo. Mas nunca contei isso a ninguém. Minhas irmãs viviam dizendo que queriam ser freiras. Mas não foram. Só eu, a silenciosa, é que fiquei freira”.

Ivone fez sua primeira comunhão e primeiros estudos no Prata. Formou-se Normalista no Colégio Nossa Senhora das Dores de Uberaba onde amadureceu sua vocação religiosa. No Natal de 1936 recebeu o hábito religioso e assumiu na Congregação de Nossa Senhora do Rosário de Monteils o novo nome de Maria Virginita do Rosário. Em 1937 foi para a França, onde fez o noviciado por 2 anos. Professou seus votos de pobreza, castidade e obediência no Natal de 1938. Voltando ao Brasil completou seus estudos universitários no Rio de Janeiro, onde se licenciou em Pedagogia Plena. Tem ainda licenciatura em Pedagogia e fez Cursos de Especialização em Psicologia do Desenvolvimento e Psicologia da Personalidade entre outras especializações na linha humana e pastoral. Trabalhou em Torres / RS, entre Colégio e Hospital, 14 anos; Belém / PA, 2 anos; Caxias do Sul / RS, 4 anos; Frutal / MG, 5 anos; São Leopoldo / RS, 1 ano; Itanhaém / SP, 1 ano; Uberaba / MG, ao todo, 32 anos.

A cidade de Uberaba deve a Irmã Virginita e a Madre Angela da Eucaristia a fundação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino – FISTA – que funcionou adita ao Colégio Nossa Senhora das Dores, na Rua Governador Valadares e finalmente em 1961 com a bela sede própria no Jardim Induberaba. Entre seus trabalhos apostólicos coordenou por 4 anos toda a Pastoral Diocesana em Caxias do Sul / RS; e, por toda a vida, concomitante com o magistério,  prestou inestimáveis serviços de orientação pastoral em movimentos de Igreja em Frutal / MG, por 5 anos no Bairro Tutunas em Uberaba; por 6 anos na Paróquia Santo Inácio de São Leopoldo / RS; por 1 ano na Paróquia de Itanhaém / SP, atuando em todas as cidades entre os movimentos de Igreja, especialmente Cursilhos de Cristandade e Catequese de Adultos. Irmã Loreto, sua colega desde o noviciado, testemunha: “Como Professora, Diretora, Superiora de comunidade e Coordenadora de Pastoral, Irmã Virginita sempre testemunhou grande devoção a Nossa Senhora e muito zelo em seu trabalho pastoral. Procurando aliar Ciência e Fé, foi a primeira a tomar a iniciativa de fundar em Uberaba, a Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino, em 1949. Seu amor à Ordem a faz trabalhar até o momento, animando a Fraternidade Leiga de São Domingos, nesta cidade”.

A respeito da vida religiosa Irmã Virginita alegremente comenta: “Vale a pena ser freira. É da minha realidade, é de meu hoje. Você já pensou, eu conversar com Deus e apresentar toda a multidão dominicana e dizer assim: Escuta Meu Deus; são seus irmãos que estão todos rezando, se sacrificando e fazendo isto e aquilo, na medida que eu vou sabendo das notícias, e Você deixar os outros irmãos, do lado de cá, pobrezinhos assim sem ter remédio? A coisa mais linda que eu descobri é que a vida religiosa não é nada mais nada menos do que a vida de Deus que Ele deu a nós. “Não fostes vós que me escolhestes. Eu vos escolhi”, conforme João 15, 16. Na vida religiosa eu passo para os outros tudo o que me foi repassado pela Misericórdia do Bom Deus. Pela intercessão de Maria, eu sou feliz neste caminho de vida que não quero sair.”

Por Carlos Pedroso.

Natural de Santa Juliana, no interior de nossa arquidiocese, Teresinha Lira nasceu em 1943 e foi uma das personalidades mais decisivas para o desenvolvimento do grupo de leigas consagradas ainda atuante e indispensável para a realização de trabalhos pastorais em diversas paróquias de nossa diocese.

Neste sentido, no final dos anos 1970 com a chegada de D. Benedito de Ulhôa Vieira, este incumbiu Teresinha (cuja vocação naquele momento se dava no âmbito das monjas concepcionistas) para que cuidasse de participar da gênese das leigas consagradas em nossa Arquidiocese. A partir de então desenvolveu atividades em diversas cidades do interior como Planura, Campo Florido, Pedrinópolis e Romaria. Destacou-se como formadora em grupos de reflexão, como atuante Ministra Extraordinária da Comunhão Eucarística e como catequista – chegando a ser inclusive coordenadora da CAC.

Tendo sido atuante em prol da comunidade e do povo de Deus até o último momento, faleceu em 16 de setembro de 2013. Agradecemos pessoalmente ao Mons. Geraldo Magela – amigo de infância da Ir. Teresinha Lira – pelas valiosas informações prestadas.

Por Vitor Lacerda.

Vaticano II e as crises pós-conciliares Atualmente, 50 anos depois do Vaticano II, a vitoriosa Igreja de Cristo já não vive mais aquele ultrapassado clima dos primeiros anos após o Vaticano II, quando até o título da Constituição “Lumen Gentium” ou “A Igreja que é a Luz para todos os Povos” era ridicularizado por políticos e economistas. Na antiga tridentina liturgia da Missa, Leigas e leigos nada entendiam o Latim e por isso rezavam o terço durante as Missas. Só silenciavam durante a consagração. Leigas e leigos depois do Concilio ficaram cheios de honrosos méritos passando a participar ativamente como “POVO DE DEUS”. Alguns católicos latino-americanos criticavam a Igreja por não apoiar a Teologia da Libertação. No Brasil, acelerava-se o doloroso êxodo rural do catolicismo popular sem assistência pastoral.

Duas notórias mudanças culturais completamente circunstanciais: o êxodo rural e as mudanças na Igreja Católica pós-conciliar. Anexas a essas duas influências completamente circunstanciais chegaram ao Brasil também novas bem orquestradas influências cristãs bíblicas anunciadas ao povo de maneira quase igual à usada no tradicional catolicismo romano. Tais novas influências foram inicialmente muito apoiadas por países nórdicos. Antes do Vaticano II, só padres e bispos podiam “pregar” ou ensinar o Evangelho. Após o Vaticano II, pela novidade participativa, leigas e leigos dotados de sólida evangelização, já pregavam o Evangelho. Entusiasmados pelo desejo de se adaptarem bem aos costumes das cidades, os católicos vindos do êxodo rural, facilmente aceitavam com muita honra os convites para frequentar a Igreja mais próxima, a Igreja Evangélica. É muito comum que em todo modernismo o povo se deixe influenciar pela arte de marketing. Por marketing, não usar batom foi considerada essencial prática cristã. Orar em lugar de rezar. Por que repetir muitas Ave Marias? (Lc. 1, 28) A nomenclatura de “protestante”, que trazia em si uma ideia opositora, devia ser abolida, mesmo porque, politicamente, o evangelismo importado dos Estados Unidos nunca poderia ser considerado opositor ao catolicismo brasileiro. Em lugar de Igrejas Protestantes; Igrejas Evangélicas. Em São Paulo, era aberta uma nova Igreja Evangélica a cada semana, quase a prenunciar o fim da Igreja Católica. Nesse clima negativista, não é de se estranhar que em dezembro de 1972 foi fechado o Seminário São José, por absoluta falta de candidatos e que muitos padres abandonaram o sacerdócio.   

Arcebispos heróicos

Não se mantém tradição por 2.000 anos sem enorme paixão. Em todas as adversidades históricas, a Igreja manteve o seu tradicional heroísmo apostólico, forte pois que movido à Graça Divina. Dom José Pedro Costa e Dom Alexandre foram dois heróis de uma mesma época. Maior herói foi o Senhor Dom Alexandre, fiel, obediente, silencioso ao suportar a subtração de suas prerrogativas arquidiocesanas. Inteligente, entendeu que as decisões “administrativas” da Nunciatura Apostólica, eram igualmente decisões pontifícias. Incondicional seu amor à Igreja e ao Papa. Dois Arcebispos, participantes do Vaticano II, entendiam, cada um a seu modo, o aguardado “aggiornamento”. Dois nobres bispos de liderança comprovada na Igreja e na Sociedade Civil.

Dom José foi Bispo, Arcebispo Coadjutor, Professor, Escritor, Jornalista. Nasceu no Serro, em 19 de outubro de 1913, e estudou no Grupo Escolar João Pinheiro. No seminário de Diamantina, em 06 de dezembro de 1936, ordenou-se padre. Residiu mais de 30 anos em Diamantina, onde lecionou no Seminário e no Colégio Diamantinense, que veio a dirigir. Trabalhou em Tribunal Eclesiástico.

Sempre considerado um intelectual de grande cultura e um dos maiores oradores sacros do Brasil, D. José Pedro tomou posse na Academia de Letras do Triângulo Mineiro, em 22 de dezembro de 1972, e na Academia Municipalista de Letras de MG, em 07 de setembro de 1980, representando a cidade de Serro. É apontado como o único Bispo brasileiro que teve uma Carta Pastoral reeditada em Roma, a qual trata de decisões conciliares. Publicou diversos escritos, sendo autor de artigos, biografias, interessantes pesquisas históricas, discursos e sermões.

Em Diamantina-MG, foi Capelão Tenente do 3.º Batalhão da Polícia Militar, Diretor do Museu do Diamante, Diretor do jornal “Estrela Polar” e Cônego do Cabido Metropolitano. E lá, em 15 de setembro de 1957, foi sagrado Bispo de Caitité-BA. Em 30 de março de 1969 foi nomeado Arcebispo Titular de Marceliana e Arcebispo Coadjutor e Administrador Apostólico “Sede Plena” de Uberaba, com direito à sucessão. Posse em Uberaba a 10 de maio de 1970.

Vinda de Dom José Pedro a Uberaba

Em Uberaba não havia ainda vacância na Sede Arquidiocesana. A Bíblia revela a Exemplar SABEDORIA que administrada a eternidade, toda a Criação e a religião. Ter amor à Bíblia é também crer que o livro da Sabedoria já testemunhava a implacável Vontade de Deus contra as crises pós-conciliares: “Enquanto um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite estava pela metade, a tua Palavra todo-poderosa VEIO do alto do céu, do teu trono real, como um guerreiro implacável, e se atirou sobre uma terra condenada ao extermínio”. (Sab. 18, 14). Em clima de Sabedoria, em 2013, a Igreja de Uberaba pode perfeitamente bem entender aquela inusitada participação “auxiliar” de Dom José Pedro Costa em nossa Arquidiocese, porque a Sabedoria Bíblica não é só do espaço etéreo, mas é terrena, humana, societária e se repleta das prerrogativas da “Graça”. Ouso justificar a decisão da Nunciatura, em 30 de maio de 1969, Arcebispo Coadjutor e Administrador Apostólico “Sede Plena”, através de 4 vinculados antecedentes.

1º – Dom José Pedro Costa tinha sido admiradíssimo capelão militar do 3º Batalhão da Polícia Militar de Diamantina/MG, amigo de militares e bem visto pela Revolução 64. Por seu turno, Dom Alexandre se indispôs com o Comandante do 4º Batalhão de Uberaba, porque a Polícia prendera um jornalista do Jornal Correio Católico, por suposição a injustificadas ligações “comunistas” a padres dirigentes do Jornal Católico.

2º – Em sua ordenação episcopal, o bispo de sua sagração foi o Senhor Núncio Apostólico Dom Armando Lombardi.

3º – Seu padrinho de Ordenação Episcopal foi o então Presidente Juscelino Kubistscheck. Seria o candidato ideal para melhorar o diálogo com o Governo Mineiro.

4º – A Nunciatura Apostólica avaliou a repercussão negativa da publicação em jornal uberabense do “Manifesto” dos Sacerdotes de Uberaba, a 4 de junho de 1956, solicitando nova disciplina para o uso da batina e da tonsura. Dom Alexandre teve dificuldade ao planejar o aguardado “aggiornamento” em sua Arquidiocese.

Hoje só nos resta aprovar todos os atos da Nunciatura. Afinal das contas, a Prudência é uma virtude eminentemente eclesiástica e apostólica.

Realizações em Uberaba

Na Circular de 23 de junho de 1970, Dom José Pedro anuncia a dispensa do uso do manípulo nas Missas – aquele enfeitado bordado pendurado ao braço esquerdo do celebrante eucarístico, que era símbolo de nobreza a antigos nobres romanos ao presidir a solenidades –, mas exigiu o uso da casula em todas as Missas. Introduziu o uso de Ministros da Eucaristia. Os 10 primeiros Ministros da Eucaristia do mundo tinham sido nomeados pelo Bispo de Luz-MG, a 1º de janeiro de 1967, e Dom José Pedro foi um dos primeiros Bispos a nomear Ministros da Eucaristia. Em 21 de dezembro de 1972, houve a solene apresentação dos 4 primeiros Ministros da Eucaristia na Catedral. Recomendou a Comunhão só de joelhos, e que durante o “abraço da paz”, o sacerdote permanecesse parado ao altar, abraçando somente só os ajudantes da Missa, a fim de evitar “teatralizações”. Já a Circular de 23 de junho de 1970 permitia a padres o uso do “clergyman”.

Em 5 de abril de 1972, dá licença para a Arquidiocese vender todas as máquinas impressoras do Jornal Correio Católico para “Rio Grande Artes Gráficas Limitada” do ilustre empresário Dr. Edson Gonçalves Prata, e saldou as dívidas da Arquidiocese. Disposições semelhantes estavam sendo adotadas em outras Dioceses do globo.

Renúncia e morte

Em 1978, com seus 72 anos, Dom Alexandre não demonstrava nenhuma intenção de renunciar, tão cedo, mas a Nunciatura aconselhou a Dom José Pedro Costa a renúncia. Em resposta, condicionou-a à renúncia também de Dom Alexandre. Em 19 de Julho de 1978 chegou a notícia das duas renúncias dos Arcebispos e a nomeação de D. Benedicto de Ulhoa Vieira.

Dom José Pedro Costa se recolheu à cidade do Serro-MG, em família. Apesar de ainda exercer nobres funções pastorais, sua saúde debilitava-se, e veio a falecer a 27 de julho de 1996. O Senhor Arcebispo  Dom  Aloisio Roque Oppermann, representando a Arquidiocese de Uberaba, chegou ainda em tempo de oficiar as exéquias.

Por Carlos Pedroso.

Trataremos de Cônego José Armênio Cruz, popularmente conhecido por seu segundo nome e oitavo cura da Catedral.

Quando de seu nascimento e durante sua preparação sacerdotal, sua cidade natal, a vizinha Patos de Minas ainda compunha geograficamente a Diocese de Uberaba que só viria a se constituir enquanto sede diocesana em 1955 o que justificou seu ingresso no clero secular uberabense após sua ordenação sacerdotal. Nascido em 28 de setembro de 1915 e filho de Armênio Camillo da Cruz e Judith Moraes da Cruz, fez seus estudos teológicos no Seminário do Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte e recebeu o diaconato nesta mesma cidade por meio de D. Fr. Sebastião Thomaz, OP, no dia 06 de agosto de 1939. Naquele tempo, a ordenação presbiteral costumava acontecer logo em seguida à ordenação diaconal, todavia o bispo de Uberaba D. Luiz Sant’Ana havia sido enviado para Botucatu e Uberaba vivia um período de sede vacante. Pouco tempo após a posse de D. Alexandre Gonçalves do Amaral, o jovem Armênio Cruz que contava com seus vinte e quatro anos foi ordenado sacerdote junto com outros dois seminaristas: os futuros Pe. Ângelo Casagrande e Mons. Genésio Borges que chegaria ao cargo de vigário-geral arquidiocesano.

Após sua ordenação foi enviado para sua cidade natal para ser vigário-coadjutor de Patos enquanto o vigário era Mons. Manoel Fleury Curado. Permanece em Patos por pouco tempo, entre fevereiro e abril de 1940. Em 21 de abril de 1940 assume o paroquiato da então Igreja de Santo Antônio e São Sebastião, atual Adoração Perpétua, no alto das Mercês. De forma concomitante a essa posição, ainda em 1940 e, portanto, no ano seguinte a sua ordenação, assume a posição de diretor-editor do informativo diocesano, o jornal Correio Católico, posição que manteria por mais de uma década e que, sob sua direção, se converteria de semanário para diário, aumentou consideravelmente o número de assinantes e tiragens e foi modernizado tanto no quesito técnico da impressão e distribuição do jornal como no seu formato mais jornalístico mais profissional e abrangente e menos restrito aos assuntos religiosos. Como um de seus editoriais argumentava, tratava-se de informar a população católica uberabense sobre assuntos políticos, religiosos, esportivos e culturais que aconteciam tanto em Uberaba, no Brasil ou no mundo sob o crivo teológico e cristão – seriam os primórdios do chamado jornalismo cristão.

Em 1949 foi instituído pároco da Catedral e estendeu seu paroquiato até 1954 – exatamente o período em que o Correio Católico torna-se diário exigindo-lhe maior disponibilidade. Durante este período de cinco anos, muitos acontecimentos transcorreram a vida religiosa e política uberabense, muitos em grande parte diretamente relacionados à abnegada atuação de D. Alexandre. Em 1949 as irmãs concepcionistas chegam a Uberaba e se instalam na rua Afonso Rato enquanto em dezembro deste mesmo ano realizou-se o I Congresso Eucarístico na cidade. Nas eleições municipais de 1951, através da Liga Eleitoral Católica – LEC, elegeu-se pela primeira vez uma vereadora mulher, a jovem liderança católica, Helena de Brito. Também neste período o eminentíssimo cardeal-arcebispo de São Paulo, D. Carlos Motta, visita Uberaba por duas ocasiões: a primeira em 1951 por conta das comemorações de São Marcelino Champagnat, fundador na Congregação Marista e em 1952 na formatura da primeira turma da FISTA de quem foi paraninfo. Finalmente, é deste período o famoso embate através dos órgãos da imprense entre D. Alexandre e o médio Dr. Benjamim Pável, diretor do Centro de Saúde de Uberaba sobre surto de febre tifoide no Colégio N. Sra. das Dores.

Retirou-se da Catedral em 1954 para dedicar-se ao Correio Católico, seu grande legado. Seu substituto será o tema de nossa reflexão no próximo mês.

Vitor Lacerda – Historiador

Cônego Isaías Lagares nasceu no dia 4 de novembro de 1907 – curiosamente dia de São Carlos Borromeu, cardeal-arcebispo de Milão que no século XVI foi um dos primeiros bispos a fundar e instituir a necessidade dos seminários para a formação intelectual e pastoral de futuros sacerdotes; vale destacar, desta forma, que cônego Isaías seria reitor de seminário. Procedia da cidade de Carmo do Paranaíba, localizada na fronteira leste do extenso território que compreendia a Diocese de Uberaba no despertar de sua vocação, e tinha como pais o sr. Avelino Lagares e a sra. Maria Luiza Lagares.

Ingressou como aluno do Seminário São José em Uberaba aos 19 anos e seria ordenado sacerdote por D. Luiz Sant’Ana em 25 de maio de 1933 quando contava com 26 anos. Pouco após sua ordenação (1934) até a chegada de um novo bispo a Uberaba (1940) e consequentemente o rearranjo geográfico do clero, permaneceu na condição de Vigário de Veríssimo por seis anos. Em 1940, o bispo D. Alexandre G. Amaral o transfere para Presidente Olegário para lá exercer o vicariato até que, em 1941, o chama de volta a Uberaba para assumir a reitoria do Seminário São José e uma posição no Cabido Diocesano (o que lhe garantia o título de cônego). Todavia os seminaristas acabaram sendo todos transferidos para Belo Horizonte a partir de fevereiro de 1944 por determinação episcopal de modo que o Seminário de Uberaba pudesse ser reestruturado e reformado. Colocando-se novamente à disposição da diocese para cumprir seus deveres pastorais, cônego Isaías recebeu o governo da Catedral Metropolitana em 1946.

Os anos que esteve na Catedral foram marcados por transformações políticas importantes como o fim do governo ditatorial de Getúlio Vargas terminado em 1945 e o início de um período democrático onde, pela primeira vez na história brasileira, a cidadania seria majoritariamente exercida pela população em geral (incluídas as mulheres até então marginalizadas). Assim, Uberaba passava a ter prefeito e vereadores eleitos por voto direto, o clima democrático fez surgir diversas associações civis como a União Estudantil Uberabense (UEU) e de ensino como a Faculdade de Odontologia na Av. Guilherme Ferreira e a extinta Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino (FISTA) pelas irmãs dominicanas.

O início do episcopado de D. Alexandre foi coincidente com os acontecimentos a pouco apresentados, foi marcado por sua intercessão para a vinda de diversas ordens religiosas a Uberaba, como as monjas beneditinas que fundaram um mosteiro na R. Visconde do Rio Branco em setembro de 1948 bem como a fundação do Carmelo do Coração Eucarístico de Jesus na Av. da Saudade em dezembro deste mesmo ano. A diocese recebeu ainda a ilustre visita do Superior-Geral da Congregação dos Irmãs Maristas, Ir. Leônidas François Garrigue, em janeiro de 1948, de modo a inspecionar as atividades da congregação no Colégio Marista Diocesano.

Adendo: diante da colaboração preciosa nos fornecida por Mons. Geraldo, acrescentamos a importante informação de que D. Almir Marques Ferreira, tema de nossa pesquisa na edição do mês de julho, após ter sido Cura da Catedral e antes de ter assumido a diocese de Uberlândia, foi bispo-auxiliar de Sorocaba entre os anos de 1957 e 1961.

Vitor Lacerda – Historiador.

Assine nossa News

Seja o primeiro a receber nossas novidades!

© Copyright Arquidiocese de Uberaba. Feito com por
© Copyright Arquidiocese de Uberaba. Feito com por