Maria Pilar de Vasconcellos nasceu em Passos-MG, aos 12 de outubro de 1937, de família muito católica, tradicionalmente católica tanto materna como paterna.
Claro – como ela diz – que a fé e fidelidade aos princípios cristãos católicos dos pais influenciaram sua vocação religiosa, ainda que nos anos de criança e princípio de adolescente não fosse muito piedosa e bem ‘arteira’. Todavia, ao estudar com as Irmãs Concepcionistas Missionárias do Ensino no Colégio Imaculada Conceição – Passos-MG, sentiu-se chamada a uma entrega maior ao Senhor. E a vocação religiosa brotou com muito vigor.
Em fevereiro de 1953, portanto, com 15 anos, entrou para o Noviciado das Concepcionistas em Mococa-SP.
Desde o início, sua vocação foi sustentada por um grande amor à Fundadora de sua Congregação, Carmen de Jesus Sallés (hoje Santa Carmen Sallés, canonizada em 2012), sobre a qual escreveu os livros “Mulher de Coragem” e “A Serviço do Amor”, além de algumas reflexões sobre duas de suas cartas, nas quais encontrava muita semelhança com as conclusões do Concílio Vaticano II.
Como Concepcionista e formada com o curso Superior de Línguas Neolatinas, na Sedes Sapientiae da PUC-SP, Ir. Pilar morou e lecionou em várias casas da Congregação, como São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e sobretudo Machado-MG, onde esteve durante muitos anos. Também morou em Fronteira-MG, mais voltada para o trabalho pastoral paroquial, embora lecionasse na Escola Estadual João Kopke e em Mococa-SP, no Lar Maria Imaculada.
O trabalho pastoral paroquial em Fronteira-MG despertou-lhe o desejo de se dedicar mais a esse trabalho que à missão pastoral do ensino.
Como a Congregação das Concepcionistas Missionárias é especificamente do “Ensino”, Irmã Pilar pediu aos Superiores uma licença especial para dedicar-se à Pastoral Paroquial em alguma cidade necessitada de ajuda neste sentido. Tendo recebido a autorização, ofereceu seu trabalho ao então Bispo de Uberaba Dom Benedito de Ulhoa Vieira que a acolheu com carinho e pediu-lhe que ficasse em Veríssimo, onde Irmã Terezinha de Jesus das Apóstolas dos Sagrados Corações havia estado uns anos e feito um trabalho maravilhoso, mas precisara sair por problemas de saúde.
Era 1987, Irmã Pilar aceitou o desafio. E em Veríssimo iniciou seu trabalho na Paróquia São Miguel e na Escola Estadual Geraldino Rodrigues da Cunha. Foram dez anos em Veríssimo. Anos marcantes em vários sentidos.
Um padre ia, às vezes, em finais de semana para celebrar a Eucaristia e nas festas tradicionais de São Miguel, São Sebastião, Nossa Senhora do Rosário e São Benedito; quando podia, um diácono permanente ia celebrar casamentos. E nos demais dias, orientada por Dom Benedito, Ir. Pilar pôde reunir grupos de crianças para a catequese, grupos de jovens e realizava as Celebrações e demais atividades próprias de uma Paróquia.
Com a ajuda de membros da comunidade, fundou a creche Larzinho Menino Jesus e construiu o Salão paroquial (com o auxílio da Misereor da Alemanha), a Rádio Comunitária, a reforma e pintura da igreja de São Miguel. Ir. Pilar também deu algumas aulas para os Seminaristas da época, tanto do Seminário como um ano com os do Propedêutico. Segundo o Padre Jaime (q.e.p.d.), gostavam da aula, mas não aprenderam nem uma palavra do francês que ela tentava ensinar (rsrsrsrs).
Foram anos que marcaram a vida de Ir. Pilar, como ela mesma confessa: em 1992 venceram os cinco anos da licença permitida pela Congregação. Deveria voltar aos trabalhos próprios da Congregação em uma das Casas-colégio da mesma. Momentos muito difíceis de discernimento, de lutas internas, de desafios: voltar ou continuar em Veríssimo, no trabalho pastoral, sendo, então, desligada da Congregação? Ir. Pilar faz questão de deixar claro que amava a Congregação, que nunca perdeu sua vocação concepcionista (até hoje) e que deixava a Congregação por amor à missão pastoral paroquial em Veríssimo.
E assim foi, apesar de até o próprio Dom Benedito ter requerido a Roma uma licença especial para que ela permanecesse na Congregação e continuasse sua missão em Veríssimo, pois ali era uma paróquia necessitada de presença pastoral católica. Como as normas da Congregação não o permitiam, Ir. Pilar desligou-se e permaneceu em Veríssimo.
Questionada como avalia o catolicismo hoje em dia, Irmã Pilar respondeu:
“Não me sinto capaz de fazer uma avaliação objetiva. Subjetivamente, às vezes, me perco em sentir que mais que nunca o Papa Francisco tem profundas razões para pedir tanto que nossa Igreja seja uma “Igreja em saída”, mais voltada para os pobres, os marginalizados, com uma vivência prática do Evangelho nos dias de hoje, vivendo mais profundamente a fé com obras e as obras com espiritualidade e doação. Que haja mais unidade e um ecumenismo na prática e não apenas em palavras ou eventos de vez em quando. Somos um só ‘povo de Deus’, chamados a ‘viver no mundo, sem ser do mundo’.”
Quanto ao que mais a preocupa no mundo, ela disse:
“O que mais me preocupa: o excesso de materialismo… as verdades de fé e os valores morais relegados a segundas ou até últimas opções. A influência nefasta de alguns meios de comunicação sobre as crianças, os jovens e matrimônios até cristãos e a falta de preparo de pais e responsáveis, mesmo religiosos, para guiá-los na vivência do Evangelho, de Jesus que é o Caminho, Verdade e Vida.”
Por fim, que mensagem gostaria de passar para os cristãos de Uberaba e região?
“Que não desperdicem essa fonte espiritual que a Arquidiocese oferece, desde seu Brasão tão rico em espiritualidade como nos Bispos e Arcebispos que Deus, através de seu representante, o Papa, nomeia para a Arquidiocese; nas fontes de “Água Viva” através das realizações de retiros, encontros, cursos, catequeses, obras sociais e tantas outras realizações seja na Sede, seja nas Paróquias e a dedicação de seus Párocos. São bênçãos do dia a dia que, muitas vezes, deixamos passar e, como disse Santo Agostinho: “Tenho medo da graça que passa”. Que não percamos tempo em criticar aquilo de que não gostamos, mas saibamos aproveitar todas as gotas que podem nos ajudar a caminhar para a verdadeira realização de nossa vida que é tornar Deus presente entre nós.
Que Nossa Senhora da Abadia abençoe a todos.”
Paróquia São Miguel Arcanjo de Veríssimo