Liberdade com integridade

A realidade dos fatos presentes na sociedade brasileira dos últimos tempos, que também não é muito diferente em outros países, tem marcas profundas que afetam a dignidades da população. É até difícil entender o que significa liberdade com integridade. A marca do “pecado”, do mal praticado, perpassa por todas as repartições, ferindo profundamente a esperança do povo brasileiro.
No entendimento cristão, Jesus olhava para as pessoas com um rosto de misericórdia e agia para proporcionar a elas uma condição de liberdade e de integridade. Ele era preocupado com a normalidade física, por isso realizava curas, mas não deixava de chamar a atenção sobre a realidade interior. É muito desconfortante carregar sentimentos de revolta, de ódio, de pecado.
A pessoa humana é formada de corpo e alma. Os dois fatos necessitam de harmonia. Por isso, não basta ter conforto material, riqueza, acúmulo, e conviver com um coração vazio, carente de amor na dimensão sobrenatural. Muitos ricos são totalmente infelizes, porque não conhecem a grandeza do amor de Deus, que se revela no perdão, na misericórdia e no reconhecimento das fraquezas humanas.
Amar a Deus e ao irmão supõe relações justas e fraternas, essenciais para que a pessoa tenha reais condições de integridade, geradora de verdadeira liberdade. Isso não é fato somente humano, adquirido com nossas próprias forças, mas fruto também do dom de Deus, que chamamos dom da graça, dimensão divina nos atos humanos. Sem isso, o se humano estará sempre insatisfeito.
Muitas pessoas se deixam levar pela luxúria, pelo orgulho e pela vaidade e não percebem a gravidade de muitos de seus atos. Ficam com a consciência obscurecida, incapaz de amar o irmão e capaz de práticas injustas contra os outros. Esse não é o caminho proposto pela Palavra de Deus, Palavra de acolhida e de misericórdia, que chega até o íntimo da vida de quem se deixa acolher por Ele.
Não existe verdadeira liberdade onde reina a discriminação e o desrespeito pela pessoa do outro. Por exemplo, no caso preciso das mulheres, que continuam sendo tratadas com total desprezo, afrontadas por companheiros machistas e despreparados para uma convivência saudável. A prática de Jesus foi outra. Foi de acolhida, de perdão e de valorização da pessoa humana.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba

Compartilhe: