Liturgia da Acolhida

  Olá!

  No dia 21 de setembro, toda a Igreja celebra a festa litúrgica de São Mateus, apóstolo e evangelista, padroeiro da comunidade paroquial de minha afinidade. Lá celebramos uma novena em preparação para o dia solene, retomando o hábito (anterior à pandemia) de convidar outra comunidade (uma a cada dia) para dirigir a celebração. Como de costume, todas as comunidades convidadas nos proporcionaram grande alegria, uma alegria represada nesse período pandêmico.

  Entretanto, uma frase dita pelo presidente da celebração do último dia da novena, Padre Otávio Henrique Spineli Silva, agradecendo a acolhida que recebeu e exaltando a importância de uma boa acolhida, tocou-me de modo especial e motivou este breve texto. Ele disse: “É como se você se emprestasse a Jesus para que Ele próprio acolhesse a quem o visita”. Em minha opinião, nossa novena não poderia ter melhor desfecho.

  Mais que uma frase, foi para mim uma lição que me levou a refletir: onde está a acolhida na liturgia eucarística?

  Bem, se quiséssemos uma resposta sob o foco ritualista, a Instrução Geral sobre o Missal Romano seria uma boa fonte de pesquisa. Nela, encontramos referência à saudação do sacerdote em seguida ao sinal da cruz, nos ritos iniciais, que “faz sentir à comunidade reunida a presença do Senhor” (n. 50). Sem dúvida, é uma forma de acolhida. Mas será que é só nesse momento?

  Na verdade, a acolhida começa bem antes, antes mesmo da equipe da Pastoral da Acolhida se posicionar junto às portas da igreja. Há toda uma preparação invisível aos olhos da maior parte de qualquer comunidade para que todos se sintam de fato acolhidos pelo Deus Uno e Trino que se coloca a nossa frente, a nosso lado, a nossas costas, antes, durante e depois da celebração da Santa Missa. São tantas pessoas, clérigos e leigos que se emprestam a Ele que nem me arrisco a enumerar.

  Isso não diminui a importância da Pastoral da Acolhida. Ao contrário, confere a ela uma grande responsabilidade: ser a primeira face visível de Jesus (e de toda a equipe litúrgica) para quem O procura na celebração eucarística.

  Chegada a hora, invertem-se os papéis, e a comunidade reunida (assembleia) acolhe Jesus na pessoa do sacerdote. Momento de alegria, que merece o acompanhamento de uma boa música, que seja também uma expressão de acolhida para todos. Em seguida à saudação inicial, o sacerdote convida para o ato penitencial, momento para sermos acolhidos nos braços do Pai, como filhos pródigos e arrependidos. Agradecemos Sua misericórdia com o canto de louvor, sentindo também a presença acolhedora do Espírito Santo e glorificando a Trindade Santa. Somos, então, convidados a rezar a oração do dia que chamamos de coleta – nada a ver com coleta de ofertas. Através dela, o sacerdote acolhe nossas intenções, nossos pedidos, nossos agradecimentos, não apenas o que foi anunciado no microfone pelo comentarista ou pelo próprio sacerdote, mas sobretudo o que trazemos no coração – a verdadeira oração que será acolhida pelo próprio Deus.

  Estamos prontos para mais um momento de acolhida: a Liturgia da Palavra. Nova inversão de papéis e a assembleia acolhe a Palavra de Deus, que é uma só, singular, mas que caminha em nossa direção, partindo da leitura do Antigo Testamento, passando pelo Salmo, seguindo a leitura do Novo Testamento até alcançar nossos corações para o Evangelho. E é assim, de coração aberto, que acolhemos também a palavra do sacerdote que atualiza para nós a Sagrada Escritura, palavra eterna. Como prova de nosso acolhimento à Palavra, professamos nossa fé, resumindo tudo em quem cremos, que nos foi fielmente transmitido pela Santa Igreja. Já havíamos apresentado nossa prece individual (na coleta) e agora apresentamos nossas preces como comunidade, uma vez que fomos todos acolhedores e acolhidos por Deus em sua Palavra.

  Podemos, então, preparar a mesa do grande encontro, trazendo nossos dons, ofertados com muito carinho, pois serão acolhidos por Deus, não importando a medida. Damos graças por tudo isso e aclamamos todos juntos o único e verdadeiro Santo, que se faz presença viva e atual no meio de nós. Por isso, antes de acolhê-lo definitivamente, acolhemos nossos irmãos, reconhecidos na oração do Pai Nosso e na fração do Pão. Assim, estamos prontos, mais uma vez acolhedores e acolhidos por Deus na Eucaristia.

  Enfim, recebemos a bênção, que não é final, pois nos envia para a missão de compartilhar tudo que acolhemos na celebração.

  Creio que você percebeu que a acolhida é muito mais que um momento da celebração e permeia toda nossa vida como seguidores de Cristo.

  A título de curiosidade: Padre Otávio ainda não havia completado dois meses de ordenação presbiteral naquela celebração da novena de São Mateus. Ele é o mais novo sacerdote “nascido” da Arquidiocese de Uberaba. Que suas palavras possam ser acolhidas em nossos corações e ecoar por dois meses, dois anos, duas décadas, quiçá dois séculos. Ou mais.

Luiz Villela

“in viam pacis”

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© Copyright Arquidiocese de Uberaba. Feito com por
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