É fato que em Deus tudo começa e em Deus tudo continua. Eis que está novamente aberto o chamado para o ‘tempo’ Dele. Nos últimos tempos, é forçoso experienciar a dimensão ‘fora do tempo’; afinal, tudo pode parar num repente. É na calmaria que se vê o que é mais preciso, certo, necessário e urgente. Será que o coração em tempo de advir terá ‘tempo’ para O encontrar na fragilidade de uma criança? É assim na singeleza do coração capaz de perceber algo novo, dentro de si enxergar ao longe, que novamente o mesmo Deus, sempre presente, se deixa encontrar. Qual o caminho para ser capaz de O encontrar?! Simples, seguindo o jeito que Ele mesmo propõe. Ele, existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo, e tornando-se semelhante ao ser humano. E encontrando em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente… (Fl 2, 6-8a).
Há disposição para fazer o caminho contra a corrente?! Aqui não é o status, o mais importante, o mais valioso, eis que se está construindo caminho. É o jeito de Deus em tudo fazer. Celebrar o Natal, um nascimento que se renova e atualiza perenemente a todos aqueles que de dentro permitem que haja algo novo, uma presença renovada… Na fatia de vida atual, neste momento, quanto tem em meu coração de uma criança autêntica que acolhe a Criança, um Menino Deus? É possível, eis o tempo de espera, de preparação, advento. Deixar ser encontrado por Ele é a fonte para experimentar a graça do tempo presente, kayrós.
O mistério da encarnação de Deus, entrando e rasgando o tempo da humanidade, traz a certeza da marca salvífica Daquele que não desiste dos seus. É na Revelação da vida de Cristo que se encontra a marca que completa, mas não finda a aliança de Deus que não tem princípio nem fim, pois ele mesmo é o autor do início sem fim e este se encontra Nele mesmo. Assim, a presença do Cristo se revela missionária da vontade do Pai que continua através da Igreja esse itinerário, atualizando a presença permanente de Deus na história.
Serão celebrados momentos importantes da fé cristã após a solenidade do nascimento do Salvador. No Advento, há dois momentos distintos: o primeiro, desde o primeiro domingo deste tempo de espera até o dia 16, em que a Liturgia da Palavra nos conduz a melhor entender a segunda vinda de Cristo. Já do dia 17 até a véspera do Natal, o coração poderá auscultar sobre a primeira vinda do Redentor.
A solenidade do nascimento, o Natal, é marcada pela simplicidade da manjedoura, num lugar de abrigo dos animais, na noite escura e fria. A humanidade experimenta a intensa luz e o calor de Deus que arde de amor pela humanidade, onde o Verbo se faz carne. Aquele que sempre existiu, o Verbo, pela ação do Espírito Santo cumprindo a vontade do Pai entra e transforma a história, o rumo e o caminho do homem.
Esse acontecimento passa pelo sim de uma mulher. Será celebrada no dia 1º de janeiro, encerrando os oito dias da oitava de Natal, pelos quais são prolongadas a alegria e a festividade da solene ação do amor divino tornado presente como homem, no meio da humanidade. Deus conta com o humano da Virgem Maria para sua obra se cumprir. Como não reverenciar e venerar a Mulher que com seu sim permite que o jugo do pecado possa ser extirpado do coração humano. Há que celebrar e render-lhe a devida gratidão e entrega de si para que ela possa ser o auxílio certo que continua levando os seus até seu Filho.
No intervalo entre os dias 26 e 31, tendo como marca o dia 30 de dezembro, pode reafirmar-se o modelo perfeito de família, a Sagrada Família de Nazaré. O maior exemplo dessa família está justamente em cada um tendo claro seu papel, todos se submeterem e cumprirem a vontade divina. A mãe, ouvindo o anúncio do anjo, diz: “eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra.” O pai José, modelo de santidade, através do sonho, se deixa conduzir e faz com que a vontade de Deus não seja interrompida por seus anseios. Do Filho nem se precisa dizer, basta olhar para a cruz. Não há amor maior.
Encerrando esse tempo forte, ainda será possível participar de dois momentos fundamentais para a fé: a solenidade da Epifania ou da manifestação de Deus, o facho de luz que envolve toda a terra e extrapola em cada coração que se deixa orientar e ser iluminado pela presença Dele. Todos os povos reconhecem que Ele é o único Salvador e Redentor, a presença dos magos confirma isso. Ele, o próprio Deus se manifesta.
Findando o ciclo natalino, há a festa do Batismo do Senhor que marca o início da vida pública e missionária de Cristo. Somos batizados Nele, Com Ele e por Ele. Assim, na vida Dele, fazendo parte da nossa, somos convidados a assumir como nossa a missão iniciada por Ele. O Reino de Deus deve e precisa continuar sendo dilatado através de nosso seguimento.
Coração aberto, digamos Maranatha. Vem, Senhor Jesus! Feliz Natal e santas festas a todos!
Diác. Peterson Marques de Oliveira