O Tempo da Quaresma – Caminho de Penitência e Conversão

Imitando Cristo no seu deserto de 40 dias que foi, por sua vez, a realização plena da imagem do povo que caminhou por 40 anos no deserto até chegar à terra prometida, a Igreja realiza a sua Quaresma: 40 dias nos quais ela se deixa, a exemplo de Jesus, conduzir para o deserto, lugar da tentação, mas também do encontro com Deus, para aí se preparar para a grande festa da Páscoa.

Este itinerário de 40 dias que conduz ao Tríduo Pascal, memória da paixão, morte e ressurreição de Jesus, coração da salvação, é um tempo de mudança interior e de arrependimento que anuncia e realiza a possibilidade de voltar ao Senhor com todo o coração e com toda a vida.

A Quaresma surgiu a partir de uma dupla necessidade: a prática da penitência para que os fiéis pudessem participar da Páscoa do Senhor e a necessidade da preparação mais intensa dos catecúmenos (pessoas convertidas que se preparavam para o Batismo) que recebiam, na Vigília Pascal, os sacramentos da Iniciação Cristã.

A Quaresma é vivida por muitos cristãos, na maioria das vezes, como um fardo demasiadamente pesado. Muitos vivem as práticas da Quaresma – notadamente, a oração, o jejum e a esmola – como se elas significassem a satisfação do desejo de Deus em ver-nos sobrecarregados de sacrifícios que servem para expiar os nossos muitos pecados. Esta é uma forma errada de ver a Quaresma. O que na Quaresma começamos, devemos continuar no decorrer do ano litúrgico.

Os assim chamados “exercícios quaresmais” não seriam propriamente “exercícios” se não tivessem como finalidade criar em nós disposições e atitudes que estimulem a vida cristã durante todo o ano litúrgico. O que vivemos na Quaresma, então, deve produzir frutos maduros em nós. Os exercícios que aqui começamos não podem terminar neste tempo.

O jejum nos ensina uma nova forma de lidar com os alimentos, vendo-os não como uma fonte de prazer somente, mas como dom de Deus. Através do jejum, aprendemos a controlar a nossa sede de prazer e a não sermos mais dominados pelo instinto. Aprendemos que o prazer é benéfico, é também dom de Deus, mas nós é que devemos controlá-lo e não ele a nós. A experiência que fazemos com o jejum redunda em todas as outras áreas da nossa vida, inclusive na própria sexualidade.

A oração, por sua vez, nos faz sair da ilusão de que nós somos capazes de resolver tudo com as nossas próprias mãos. Ela nos tira da nossa autossuficiência e nos projeta para o Deus verdadeiro, Aquele que é realmente onipotente. Este é o tempo favorável para, através da oração diária, nos tornarmos mais íntimos de Deus.

A esmola, ou a caridade, como quisermos chamá-la, nos faz quebrar a idolatria do ter. Pela esmola, aprendemos a dividir com o próximo aquilo o que Deus confiou a nós para que o administrássemos. Pela prática da esmola, entendemos que não somos donos de nada, mas meros administradores dos bens de Deus. A esmola tira-nos do perigo de sermos possuídos pelos bens. Às vezes, pensamos tanto em ser donos dos bens que Deus nos confiou, que no final eles é que se tornam nossos donos, pois acabamos sendo possuídos pelas coisas. A esmola nos liberta dessa possessão e deixa o nosso coração livre para Deus.

A cor do tempo quaresmal é roxa. Omite-se completamente o Aleluia, e o Glória só se canta nas festas dos Santos. Os altares são despojados dos seus enfeites. No domingo Laetare, pode-se usar o róseo, ornar o altar com flores e utilizar instrumentos musicais para sustentar o canto. O tempo quaresmal se estende até a tarde da Quinta-feira santa. Com a Missa da Ceia do Senhor, tem início o Tríduo Pascal. (cf.: Diretório da Liturgia – CNBB).

Padre Ricardo Alexandre Fidelis
Pároco da Paróquia Basílica do Santíssimo Sacramento Apresentado pelo Patrocínio de Maria

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