Olhando além da dor

O título deste breve artigo foi “emprestado” de outro, escrito pelo Padre Rafael André (Revista Brasil Cristão, abril 2020) e inspirado na experiência de uma pessoa que teve sua casa assaltada, fato doloroso que posteriormente se mostrou como grande livramento de um mal maior.

Quando li aquele artigo, era uma bela manhã ensolarada, mas eu estava deitado, buscando alívio para a dor física provocada por uma irritação no nervo ciático que me aprisionava havia uma semana – como se não bastasse o necessário isolamento social. Mas, assim como a dor daquela mulher assaltada, pareceu-me que minha dor também poderia servir para livrar de um mal maior. Não a mim, mas minha amada esposa, que estava na iminência de viajar para atender uma demanda familiar e suspendeu a viagem para me assistir. E sabe pra onde ela iria? Para o Rio de Janeiro, um destino indesejado num momento em que a cidade estava à beira do caos na área da saúde em face da pandemia do coronavírus. Teriam nossos anjos da guarda “conspirado” para evitar uma tragédia?

Ressalvadas as devidas proporções, ambas as experiências nos remetem ao sacrifício da Santa Cruz em que Jesus, em seu infinito amor, suportou todas as dores, oferecendo-se em sacrifício para salvar-nos de todo mal.

No calvário, um soldado romano feriu Jesus no peito, donde saiu sangue e água. Esse fato motivou a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que recebe especial dedicação da Igreja no mês de junho.

Sua origem remonta à época dos “Padres da Igreja”, assim chamados os grandes formadores da tradição católica, e que combateram muitas heresias nos primeiros séculos do cristianismo. A devoção teve grande impulso no século 17, com as visões de Santa Margarida Maria Alacoque, uma freira enclausurada que viveu na França. Eram tempos difíceis para a Igreja, especialmente no enfrentamento de heresias difundidas por uma corrente de pensamento chamada jansenismo. Certo dia, Irmã Margarida estava em oração diante do sacrário, de onde saiu uma fumaça que aos poucos tomou a forma de um homem que, levantando a túnica sobre o peito aberto, lhe mostrou o coração ardendo em chamas e disse algumas palavras. Assim, Jesus expressou sua tristeza pelas ofensas a Ele, mas também sua promessa de abençoar os lares que o acolhessem.

Celebramos solenemente o Sagrado Coração de Jesus na segunda sexta-feira após Corpus Christi, quando exaltamos a Eucaristia, cuja instituição na Quinta-Feira Santa fica um pouco ofuscada pelas demais celebrações do Tríduo Pascal. As duas solenidades nos remetem, cada uma a seu modo, ao Sangue de Jesus, o sangue que Ele deu a seus discípulos e a nós para celebrarmos sua memória, o sangue que brotou de seu Coração na cruz. E em ambas as situações, seu Sangue nos foi dado com a água, como sinal de comunhão conosco, povo de Deus, que assim unidos formamos sua Igreja.

O sangue derramado na flagelação é o mesmo sangue que sustenta nossas vidas. Lembre-se disso quando celebrar a Eucaristia e também quando passar por alguma experiência dolorosa.

Luiz Villela

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