Ficamos reclusos por mais de dois anos sem celebrações presenciais por causa da pandemia do coronavírus. Os momentos celebrativos da Semana Santa foram prejudicados, mas tudo isto por uma questão fundamental, isto é, evitar a contaminação de um vírus tão agressivo. Milhares morreram, como um verdadeiro fato de paixão, mas a vacina foi um ato de defesa da vida.
Neste ano as coisas vão ser diferentes. Estamos superando os momentos críticos da pandemia, apesar de ser ainda necessário certo cuidado, mas já possibilitando o retorno às atividades normais da Semana da Paixão do Senhor. A abertura será no Domingo de Ramos e o coroamento da Semana na morte de Cristo na cruz, selando com toda a humanidade os passos para a salvação.
Os ritos da Semana Santa são uma verdadeira fonte de educação nos caminhos do Senhor. Jesus assume o processo da Aliança de Deus com o povo e entrega sua vida até a morte e vence a morte com a ressurreição. A vida triunfou no meio de tantas situações de sofrimento e abandono. Cristo nos motiva a superar as dificuldades com a certeza de que a vida vence a morte.
Inúmeras pessoas passam por verdadeiros momentos de paixão. Dizemos que o sofrimento faz parte da vida humana, mas pode ser a grande oportunidade de elevação espiritual e de contato com Deus. Jesus esteve sempre do lado dos pobres e sofredores para lhes dar dignidade e vida. Ao contemplar a paixão de Cristo, nosso pensamento se volta para as realidades do céu e o encontro com Deus.
A Paixão e a Páscoa formam dois ciclos litúrgicos, que se complementam na vida dos cristãos. A Paixão de Cristo e nossa paixão significam sofrimento, esvaziamento que têm seu cume na ressurreição eterna de Jesus Cristo. A vida não termina nas cruzes diárias, nas dificuldades, mas na vida eterna, na plenitude do encontro final com o Pai, selando para sempre o verdadeiro amor.
O importante é intensificar nossa adesão a essas riquezas da vida cristã. A Semana Santa é momento trágico na vida de Jesus, que nos faz lembrar os sofrimentos dos flagelados pela pobreza, pelo desprezo da cultura, pela guerra injustificável etc. Cabe-nos não deixar passar despercebida a riqueza da Semana Santa e da Páscoa, porque são momentos pedagógicos de auxílio a nossa espiritualidade.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba