Deus, ao longo de seu relacionamento com o ser humano, por toda a história da humanidade, permitiu guerras, doenças, desastres, injustiças, pobreza, epidemias, pandemias, conflitos, desuniões etc.
Deus permitiu. Ele nunca gerou nenhum desses sofrimentos em nossa vida, visto que Ele é puro amor e tanto nos amou que ofereceu seu Filho, Jesus, para nos salvar do pecado, da morte por seu sangue na cruz e assim restabelecer a aliança com o ser humano, eternamente.
Quem é e foi sempre o responsável por todos esses sofrimentos em nossa vida é o próprio ser humano que, recebendo o livre arbítrio, escolheu fazer diferente da Palavra que Deus, que nos diz como sermos e como nos comportarmos em nosso cotidiano e assim podermos ser felizes, já aqui na terra.
Entretanto, Deus nos ama tanto que Ele não desiste de nós e permite a pandemia do coronavírus, para que, na dor, possamos refletir, aprender e assim entender o que estamos fazendo com nossa vida para, então, exercermos mudanças e transformações.
Nas famílias, a pandemia do coronavírus colocou a todos nós dentro de casa, dentro do mesmo espaço físico em que as famílias vivem.
Até o momento, a maioria das “comunidades” que se intitulam famílias, vivem como se fossem repúblicas de estudantes.
Cada um tem seu quarto, alguns conseguem colocar um televisor em cada quarto e, se não conseguem, o celular de cada um cumpre também essa função.
Nas poucas vezes que nós sentamos à mesa para comer, nos reunimos na sala, recebemos visitas, visitamos alguém, vamos ao shopping, passeamos, viajamos, enfim, fazemos algo que chamamos de “atividades de família”, é cada um por si e Deus por todos, separadamente.
Muitas destas vezes, o celular é utilizado para ajudar nesta ausência de união, de fraternidade e de amor familiar, tendo como discurso a defesa da privacidade, da liberdade irrestrita e a manutenção da individualidade, o que é próprio do ser humano que vive sozinho e, assim, se enche de solidão, de depressão, chegando mesmo a pensar em tirar a própria vida.
É dado estatístico o aumento de divórcios, de violência familiar e contra a mulher, de casos de violência sexual, inclusive contra crianças.
Então, não estamos usando a pandemia que Deus permitiu que acontecesse em todo o planeta, como oportunidade de reflexão, aprendizado e de mudanças e melhorias. Oportunidade, visto que o ser humano aprende muito mais com a dor do que com o amor.
Aproveitemos esta imensa chance para tornar nossas famílias experiência de diálogo, de escuta, de acolhimento fraterno, de exercício e prática de união, de encontro, para que Cristo possa entrar nelas e nos tornar experiências concretas da Palavra de Deus e de Seu Corpo Eucarístico, como se em cada casa fosse um pedacinho do céu!
Lúcia Andrade
Psicóloga Clínica e MECE
Testemunho de uma família isolada pela pandemia
Desde março, a rotina de nossa família mudou drasticamente. Já havia mudado algum tempo atrás, com o diagnóstico do câncer de nossa mãe. Desde então, nos voltamos para cuidar e zelar pela saúde da pessoa que sempre cuidou de nós, desde os primeiros passos.
Com a pandemia do Coronavírus, nossos cuidados foram redobrados e nos voltamos para a convivência integral em casa, a fim de evitar qualquer tipo de contágio. Assim, descobrimos uma rotina de carinho que até então era vivenciada de um jeito diferente, com menos intensidade.
Ao acordar, mesmo que em horários diferentes, sempre vamos conferir se todos passaram bem a noite e se precisam de algo. Durante o dia, mesmo concentradas em alguma atividade específica, nos mantemos interligadas para qualquer necessidade que a outra precise.
O mais transformador foi vivenciar a Igreja dentro de nosso lar, de nosso jeito, conversando com Jesus em nosso coração, mas construindo nossa própria fé dentro de casa. A vontade de ir ao encontro de Jesus é grande, mas nossa preocupação e zelo pela saúde de nossa família é maior, muito maior. E assim, nossa rotina tem sido muito mais próxima, mais cuidadosa.
A cada gesto, a cada carinho e a cada “Como você está hoje?” descobrimos um jeito diferente de viver nossa família. E acreditamos que essa “pausa” foi necessária para muitas pessoas entenderem que a verdadeira família está a nosso lado, dia após dia, nos momentos bons e ruins, nas dificuldades e nas alegrias, fazendo o que for preciso.
É um momento delicado que vivemos, e o zelo que temos por nossa família é o mesmo que temos por todos aqueles que perderam entes queridos, nesse tempo de exceção. E é o que levaremos conosco quando tudo isso acabar: a união de nossa família vale muito mais do que qualquer outra coisa, porque nos piores momentos será a única sempre a nosso lado.
Ana Luísa Andrade e Isabella Maria
Filhas de Lúcia Andrade