Quaresma e Conversão

A Quaresma é o momento de conversão… Converte quem quer seguir o Evangelho. Evangelho que humaniza e faz da humanização uma ação concreta de amor e compaixão.

Quaresma é um tempo difícil. Tempo que aponta para o drama da paixão de Cristo, o Cordeiro de Deus imolado pelas mãos dos homens. Por isso mesmo, é um tempo de escuta, de atenção à dor humana. Dor humana que todos nós sofremos ou provocamos.

A alegria humana é necessária; equilibra a vida diante de tantos sofrimentos. O Deus de libertação é o Deus que quer a felicidade humana, mas esta não vem só em momentos de festa, de folia. O verdadeiro olhar cristão sobre nossos valores e nossas atitudes é exigente no modo como assumimos o outro como irmão a ser amado e este olhar às vezes nos chama à conversão. Precisa da conversão como reparo, como equilíbrio. Quaresma é tempo de renascer, mas não só o renascimento para este tempo quaresmal. É a profunda reinvenção de nossa própria vida. Não renasce quem não traz consigo o renascimento de teu irmão.

Quaresma é isso: preparo para melhor viver a dor como porta de libertação.  Libertação de muitas formas que chamamos de pecado: pecado social, pecado da omissão pessoal, pecado pelo desinteresse à causa alheia, pecado do desgoverno.

A Campanha da Fraternidade deste ano chama atenção para o tema: “Fala com sabedoria, ensina com amor”. Sendo assim, como anda nossa participação e nossa luta em defesa da educação pública e de qualidade? Infelizmente, na maioria das vezes, nossas ações estão pautadas numa ação educativa voltada para o silêncio e com ações autoritárias, respondendo às necessidades de uma formação sem permitir aos alunos o direito de trazer para o processo educativo suas histórias e suas dores.

Infelizmente, na maioria das vezes, a prática educativa se esquece de anunciar a educação como processo profundo de libertação. Ao fazermos isso, nos calamos e nos omitimos frente a tanta crueldade e profunda dor dos irmãos que sofrem por falta de um investimento mais radical, decisivo e justo na educação, no trabalho, na saúde, na preservação do meio ambiente, entre outras necessidades básicas para uma digna sobrevivência de nosso povo.

O texto-base da Campanha da Fraternidade de 2022 afirma que a realidade da educação interpela e exige profunda conversão de todos. “Verdadeira mudança de mentalidade, reorientação da vida, revisão das atitudes e busca de um caminho que promova o desenvolvimento pessoal integral, a formação para a vida fraterna e a cidadania”

A dignidade do bem viver é um presente divino que devemos vivenciar e preservar e a Campanha da Fraternidade deve se fazer presente no meio de nós, como proposta de abrir nossa consciência para que nos coloquemos a serviço, principalmente dos que sofrem, fruto da omissão, da crueldade e do abandono. O que temos a ver com tudo isso? O que justifica nossa omissão? Que nossas respostas não sejam idênticas à resposta de Caim sobre o desaparecimento de seu irmão Abel, quando afirmou: “Por acaso sou guarda de meu irmão”? (Gênesis 4:9) Num plano mais amplo: por acaso somos nós responsáveis pelo destino e pela democracia de nosso país?

A resposta ocorre à medida que nos acomodamos e não tomamos as ruas em defesa da vida, da educação, da saúde, do trabalho, do meio ambiente etc. Se o sofrimento do outro não doer em nós, permaneceremos parados numa Fé morta, neutra, sem compromisso, mesmo quando plena de orações e louvores.

Assumir de que lado estamos e a serviço de quem lutamos é o sentido de viver plenamente o Evangelho na Quaresma, com foco na efetivação da Fraternidade e Vida. Se desejamos encontrar DEUS, é preciso primeiro acolher e cuidar do outro, pois Deus se concretiza no outro. Ou será que o Cristo teria nos libertado com um “mero ideal” de fraternidade? Este é o grande sentido da Paixão que a Campanha da Fraternidade nos convida a celebrar.

 

 Maria Rita Nascimento Pereira
Coordenadora Arquidiocesana da Pastoral da Educação

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