Nas origens de um culto muito popular que inspirou igrejas, universidades, oratórios. Das visões de Santa Margarida Maria Alacoque ao Papa Francisco: não uma pequena imagem, mas o coração da revelação.
Jesus aparece a Santa Margarida Maria Alacoque
Não é uma imagem para os devotos, mas “o coração da revelação, o coração de nossa fé, porque Cristo se fez pequeno, escolhendo o caminho de humilhar-se e aniquilar-se até a morte” na Cruz, dizia o Papa Francisco, na homilia da Missa da manhã, na casa Santa Marta, no Vaticano, em 2017, por ocasião da Solenidade do Sagrado Coração. Neste ano, a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus acontece no dia 24 de junho.
São João e a Última Ceia
De fato, é uma festa móvel que cai na sexta-feira depois da solenidade de Corpus Christi e está intimamente ligada ao dia seguinte, isto é, o sábado, dedicado ao Imaculado Coração de Maria. Embora a primeira celebração remonte ao século XVII, provavelmente em 1672, na França, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem origens bem mais antigas. O ponto de partida é, por assim dizer, a figura de São João Apóstolo que muitas iconografias retratam na Última Ceia com a cabeça apoiada no coração de Jesus. Um impulso notável também veio na Idade Média de figuras como Matilde de Magdeburgo (1207-1282), Matilda de Hackeborn (1241-1299), Gertrudes de Helfta (1256-1302) e Enrico Suso (1295-1366).
As visões de Santa Margarida Maria de Alacoque
No entanto, a verdadeira difusão do culto pode ser atribuída a São João Eudes (1601-1680) e sobretudo a Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690). Esta última, freira visitandina do mosteiro de Paray-le-Monial, teve aparições de Jesus durante dezessete anos que lhe pediram uma devoção particular a seu coração.
A primeira visão data de 27 de dezembro de 1673, festa de São João Evangelista, e Santa Margarida relata em sua autobiografia (Loyola, pág. 56-57): E assim, parece-me, as coisas aconteceram. Ele me disse: Meu coração divino é tão apaixonado de amor pelos homens e por você em particular, que, incapaz de conter em si as chamas de seu amor ardente, sente a necessidade de espalhá-las através de você e se manifestar aos homens (…) enriquecê-los com os preciosos tesouros que vou descobrir para vós e que contêm as graças para a santidade e salvação necessárias para retirá-los do precipício da perdição. Para levar a cabo este meu grande desígnio escolhi-te, abismo de indignidade e ignorância, para que fique claro que tudo se realiza por mim.
O Culto universal e a Basílica de Montmartre
No centro de um acalorado debate teológico, a festa do Sagrado Coração foi autorizada em 1765 apenas na Polônia e na Arquiconfraria Romana do Sagrado Coração. Foi somente com Pio IX, em 1856, que a festa se tornou universal, acompanhando imediatamente a dedicação de congregações, universidades, oratórios e igrejas, sendo a mais famosa, provavelmente, a Basílica de Montmartre, em Paris. Recolhendo, ou melhor, reunindo as teses do debate sobre o sentido teológico no Sagrado Coração de Jesus, o coração é celebrado junto como órgão humano unido à divindade de Cristo e ao amor do Senhor pelos homens, do qual o coração é um símbolo.
A Jornada de santificação dos sacerdotes
Tradicionalmente, o dia da santificação sacerdotal é celebrado na solenidade do Sagrado Coração de Jesus. O Cardeal Beniamino Stella, então prefeito da Congregação para o Clero, em 2018, sublinhava que: a Igreja e o mundo precisam de sacerdotes santos! (Papa Francisco, na Exortação Apostólica sobre a santidade, Gaudete et exsultate n. 138), lembrando aos sacerdotes apaixonados por comunicar, de anunciar o Evangelho, afirmando que a Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a vida verdadeira. Os santos surpreendem, deslocam-nos, porque a vida deles nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiante.
A oração ao Sagrado Coração
São muitas as orações dedicadas ao Sagrado Coração de Jesus, a começar pelo ato de consagração, inspirado em Santa Margarida Maria Alacoque. Abaixo, o texto da oferta do dia, que muitos fiéis repetem todas as manhãs:
Divino Coração de Jesus, por meio do Imaculado Coração de Maria, mãe da Igreja, em união com o Sacrifício Eucarístico, ofereço-vos as orações, as ações, as alegrias e os sofrimentos deste dia em reparação pelos pecados e pela salvação de todos os homens, na graça do Espírito Santo, para glória do Divino Pai. Amém!
Arquidiocese de Uberaba
A Igreja Particular de Uberaba, desde sua criação em 1907, foi dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, conforme a bula de criação da mesma. Também no frontispício da Igreja do Santíssimo Sacramento, bairro Mercês, há uma expressão em latim que pode ser vislumbrada ainda hoje: DIVO CORDI POSUIT EDUARDUS EPISCOPUS GOYAS – 1905, cuja tradução é: Eduardo, Bispo de Goiás, construiu ao Sagrado Coração – 1905. Quando Uberaba foi elevada à dignidade de sé episcopal, foi a primeira catedral até 1926, quando Dom Antônio de Almeida Lustosa transferiu a catedral para a antiga Paróquia de Santo Antônio e São Sebastião, no centro da cidade.
Em nossa Arquidiocese, na maioria das paróquias, há o Apostolado da Oração que vive intensamente a espiritualidade oriunda da devoção ao Sagrado Coração de Jesus Cristo e em toda primeira sexta-feira do mês é celebrada missa votiva. No mês de junho, no dia 24, celebrará a Solenidade da Festa do Sagrado Coração de Jesus, padroeiro da Arquidiocese de Uberaba.
Padre José Rinaldo da S. Trajano