Olá!
Gostaria de continuar seguindo com você a “trilha” que temos percorrido sobre as solenidades, festa e memórias litúrgicas. E para esta nossa conversa busquei inspiração no dia 15 de agosto, data particularmente importante para a comunidade arquidiocesana de Uberaba.
Conforme o Calendário Litúrgico Romano Geral, no dia 15 de agosto a Igreja celebra universalmente a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Mas, como já conversamos, as Conferências Episcopais têm competência para promover adaptações necessárias ao melhor aproveitamento celebrativo do povo de Deus a elas confiado. Nesse sentido, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) estabeleceu que no Brasil tal solenidade seja celebrada no domingo seguinte ao 15 de agosto (exceto se esse dia for um domingo). Então, o dia 15 de agosto é um dia liturgicamente comum em todo nosso país, certo? Não é bem assim.
Como você sabe, há muitas devoções a Nossa Senhora, sob muitos títulos. No século IX, havia uma imagem da Virgem Santíssima em um mosteiro localizado na freguesia do Bouro, distrito de Braga, em Portugal. Quando a região foi invadida pelos mouros, os monges abandonaram o mosteiro, mas antes esconderam a imagem para evitar sua profanação. Séculos depois a imagem foi encontrada por monges eremitas, depois de verem uma luz bastante forte que brilhava nas proximidades da ermida onde viviam, no mesmo distrito. Lá foi construída uma simples ermida, iniciando-se uma devoção que se espalhou por todo o país, levando o bispo local a ordenar a edificação de uma igreja, posteriormente elevada a abadia – título dado a um mosteiro, ou seja, uma comunidade de monges ou monjas, dirigido por um abade ou abadessa. Assim, a imagem de Nossa Senhora do Bouro passou a ser conhecida como Nossa Senhora d’Abadia, cuja festa é celebrada no dia 15 de agosto.
No Brasil, a festa em louvor a Nossa Senhora d’Abadia mais antiga que se tem registro acontece desde o ano de 1750, no distrito de Muquém, em Goiás. Já na Arquidiocese de Uberaba destacam-se as celebrações nas cidades de Romaria (desde 1870), Sacramento e Uberaba, inclusive sendo feriado municipal.
E nas localidades brasileiras onde não é tradição festejar Nossa Senhora d’Abadia?
Você se lembra que eu citei (em texto anterior) que há celebrações de santos inscritos ou não no Calendário Geral? Pois é! Para avançarmos um pouco mais em nossa “trilha”, temos que conversar sobre outro documento da Igreja: o Martirológio.
Trata-se de um livro litúrgico que relaciona todos os santos e beatos honrados pela Igreja Católica Romana, ordenados segundo o dia de nascimento para a glória celeste. Originalmente listava apenas os mártires – daí seu nome – e mesmo após a ampliação de sua abrangência continuou a ser chamado de Martirológio. Ocorre que nem todos os que têm seu nome incluído no Martirológio estão incluídos nos calendários litúrgicos (geral e nacionais), por motivos citados em texto anterior.
Se você consultar, por exemplo, a “folhinha” do Coração de Jesus, no dia 15 de agosto encontrará o nome de São Tarcísio, mártir, padroeiro dos coroinhas e acólitos. Entretanto, não o encontrará no Calendário Litúrgico do Brasil, nem nos livros de oração da Liturgia das Horas. Entretanto, em Belo Horizonte (e possivelmente em outras cidades) existe uma paróquia dedicada a São Tarcísio, onde sua memória deve ser celebrada por seus paroquianos e devotos como solenidade no dia 15 de agosto.
Parece complicado? Seja como for, essa organização busca contribuir para a unidade em meio à diversidade na Igreja, respeitando as devoções do povo de Deus.
Para encerrar, uma curiosidade: embora o dogma da Assunção de Maria tenha sido proclamado apenas no ano de 1950, a comemoração de sua subida gloriosa ao céu tem raízes nos primórdios da Igreja, sendo conhecida como a festa do “Memorial de Maria” até o século VIII.
Luiz Villela
“in viam pacis”