Nós nos aproximamos da Semana Santa, a Semana Maior, em que contemplamos os sofrimentos de Jesus, sua Paixão, sua Morte e revivemos a graça da Ressurreição. Como oportuna preparação para essas celebrações, a Igreja consagra a chamada Semana da Paixão também às dores de Maria. Por isso, esses sete dias formam a Semana das Dores.
A devoção a Nossa Senhora das Dores é uma tradição bem antiga. Vem da Idade Média, começou na abadia de Schönau, na Alemanha. No século XIII, os sete fundadores da Ordem dos Servitas difundiram a devoção por meio da oração e meditação das sete dores da Virgem Maria.
Para nós, aqui no Brasil, a tradição de rezar para Nossa Senhora das Dores é também bastante antiga. Veio junto com os padres jesuítas e com os franciscanos, logo nos primeiros anos da colonização portuguesa. Em Minas Gerais, essa devoção se propagou profusamente e sua prática tornou-se um costume bastante salutar para os fiéis católicos. A Virgem Maria, Senhora da Piedade é a Padroeira do nosso Estado.
Nossa Senhora é aquela que “guarda tudo em seu coração” e, em silêncio, como nos diz a Sagrada Escritura. Ela meditava e perscrutava tudo em seu coração. Dessa forma, se cumpria a profecia de Simeão que disse à Virgem Maria que uma espada lhe atravessaria a alma. Por isso, a imagem de Nossa Senhora das Dores costuma ter uma espada cravada em seu peito. E um olhar contemplativo, meditando em tudo que estava acontecendo. De fato, a dor de perder um filho é como se uma espada atravessasse a alma, é uma dor que somente a mãe pode sentir.
A Semana das Dores são sete dias de oração e reflexão sobre todo o sofrimento da Mãe de Jesus, que o acompanhou no caminho do calvário. Segundo a tradição da Igreja, são sete as dores de Nossa Senhora e, em cada dia da Semana das Dores, podemos contemplar uma dor. Começa na segunda-feira da 5ª Semana da Quaresma e termina no Domingo de Ramos, quando se dá início à Semana Santa. Diversas ações litúrgicas, celebrações penitenciais e devocionais se multiplicam nas comunidades, especialmente nas cidades do interior.
Seguem as sete dores de Nossa Senhora para meditarmos durante os dias da semana das dores: Primeira Dor – Profecia de Simeão; Segunda Dor – Fuga para o Egito; Terceira Dor – Maria procura Jesus em Jerusalém; Quarta Dor – Jesus encontra Sua Mãe no caminho do Calvário; Quinta Dor – Maria ao pé da Cruz de Jesus; Sexta Dor – Maria recebe Jesus, descido da Cruz: Sétima Dor – Maria deposita Jesus no Sepulcro.
Dessa maneira, primeiramente, contemplamos as dores da Virgem Maria para depois contemplarmos o sofrimento do Filho. Um complementa o outro, e os dois se dirigem para o Pai. Nossa Senhora nos ajuda a refletir sobre o sofrimento de seu filho Jesus. Por isso, celebramos uma semana antes. Devemos compreender o momento da entrega de Jesus na cruz com o olhar da fé e, a partir disso, optar por uma mudança radical de nossas vidas.
Maria Santíssima, a Virgem das Dores, aos pés da Cruz, entrega toda a humanidade que sofre e que padece em suas dores. Jesus, ao entregar João a Nossa Senhora como seu filho, entrega a humanidade inteira à Virgem Maria. Ela se torna a Mãe de todos nós. Dessa forma, carrega nossas dores e angústias e não nos deixa esmorecer diante dos sofrimentos. Ela nos carrega no colo e ameniza nossa dor, intercedendo por nós junto a Deus. Nossa Senhora nos ajuda a passar pelo calvário, mas com o olhar da fé, contemplar a ressurreição.
O Papa Emérito Bento XVI, refletindo sobre a atualidade da piedosa e oportuna devoção em honra de Nossa Senhora das Dores, ensinou sobre o sofrimento que: “Queria, humildemente, dizer àqueles que sofrem e a quantos lutam e se sentem tentados a virar as costas à vida: Voltai-vos para Maria! No sorriso da Virgem, encontra-se misteriosamente escondida a força para continuar o combate contra a doença e a favor da vida. Junto d’Ela, encontra-se igualmente a graça para aceitar, sem medo nem mágoa, a despedida deste mundo na hora querida por Deus.” Voltemos, pois, para o Senhor: “Sem a ajuda do Senhor, o jugo da doença e do sofrimento pesa cruelmente. Recebendo o sacramento dos doentes, não desejamos levar outro jugo que não seja o de Cristo, fortalecidos pela promessa que Ele nos fez, isto é, que seu jugo será fácil de levar e leve seu peso (cf. Mt 11, 30).”
Como Igreja, somos convidados a vivenciar a bonita tradição da Semana das Dores, contemplando o sofrimento da Virgem Maria que nos indica para o Redentor. Os dias que se aproximam sejam de devoção e oração, pedindo a cura contra a Covid-19 e a paz para Ucrânia e Rússia. Peçamos a Nossa Senhora a cura para as dores da humanidade neste tempo. Caminhemos para a Páscoa, tendo a certeza de que a Virgem Maria nos acompanhará para testemunharmos, com os olhos da fé, o Ressuscitado. A graça divina nos permita chegar à Páscoa com os corações renovados e cheios de esperança em tempos novos. Amém.
“Se morremos com Ele, com Ele ressuscitaremos” (Rm 6,8).
Nossa Senhora das Dores, rogai por nós.
Padre Ricardo Alexandre Fidelis