Com os votos de feliz Páscoa e que a graça do Ressuscitado esteja sempre com todos nós. Nossa paróquia de São Benedito acolheu o convite do Jornal Metropolitano para partilhar um pouco da experiência da Semana Santa. Foram muitos momentos significativos onde revivemos na paixão, morte e ressurreição de Jesus nossa própria caminhada de fé cristã. Dentre esses momentos, um que já é tradição na paróquia de São Benedito é a Via dolorosa, a caminhada bíblico-celebrativa que nós fazemos toda sexta-feira santa pela manhã. Saímos às sete e trinta do Mosteiro Nossa Senhora da Glória, onde fomos acolhidos pelas irmãs, para que ali pudéssemos nos reunir e caminhar a grande subida, recordando a caminhada de Cristo para o Calvário. É uma via dolorosa do ponto de vista bíblico, porque buscamos reviver todos os momentos, contemplando as estações que a Sagrada Tradição nos coloca da vida de Cristo, mas principalmente tentando reviver os momentos. Nossa caminhada começa na verdade à noite, depois da vigília que fazemos diante do Santíssimo, recordando Jesus na agonia do horto para que então ali a gente faça a reflexão de tudo o que aconteceu naquela madrugada, naquela noite em que Jesus foi condenado. Depois, pela manhã recordamos a presença de Jesus em Pilatos e vamos subindo, contemplando todas as estações. Este ano, diferente dos outros, fizemos uma via dolorosa debaixo de chuva, mas com a chuva que caía, nós sentíamos na presença de todos que ali estavam o fervor, a fé, o amor a Jesus Cristo. E estavam de forma numerosa este ano. Nós quisemos recordar não só a caminhada de Jesus, mas a caminhada da humanidade, a caminhada de nossa Arquidiocese, de nossa cidade de Uberaba. Por isso, durante o trajeto dessa via dolorosa contamos a cada estação com quatro pessoas diferentes para conduzirem a cruz, uma cruz grande de madeira e rezamos pelas mães, rezamos pelos filhos, rezamos pelos avós, rezamos por aqueles que sofrem de qualquer tipo de doença, rezamos por aqueles que estão em momentos difíceis de queda. Ainda recordamos em cada estação dessa via-sacra todas as famílias enlutadas devido à Covid-19. Pedindo e contemplando com Jesus Cristo nossa própria realidade, buscamos suplicar ao Senhor que nos sustente de pé e que o sacrifício redentor Dele, de seu sangue derramado na cruz possa vir como um banho regenerador, não apenas de nossa salvação, mas também a cada ano de nossa confiança e a esperança na ação do Cristo ressuscitado em nossas vidas.
A via dolorosa de Cristo que nós celebramos na sexta-feira pela manhã culmina na igreja. Ali, como nós sabemos, não se celebra a décima-quinta estação por ser Sexta-feira da Paixão. No momento da décima-quarta do sepultamento de Jesus fazemos um momento de oração na porta da igreja e adentramos o salão, onde durante a noite ficamos em vigília com Jesus Cristo e encerramos carregando a cruz na presença de Jesus eucarístico, mostrando que a Sexta-feira Santa é um convite a subir no calvário com Cristo. A cruz, não como símbolo de derrota, mas como a árvore da vida, a mesma árvore da vida do Jardim do Éden e que nós somos chamados a comungar do sacrifício redentor de Cristo, Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
A caminhada que fazemos pela manhã, carregando a cruz de Cristo e nos unindo ao sofrimento e ao sacrifício de Jesus, não se encerra pela manhã. Partimos em silêncio e todos retornam às quinze horas para que, além da celebração da adoração do Cristo na cruz, a Paixão do Senhor, nós possamos também, no momento em que veneramos o Cristo na cruz, confeccionarmos uma cruz de flores. Toda Sexta-feira da Paixão, às quinze horas, nós que caminhamos com Cristo pela manhã, viemos adorá-lo em seu sacrifício na cruz e montamos uma cruz em forma de jardim pra manifestar nosso amor, nossa fé, nossa gratidão, tudo aquilo que o Cristo nos concede e que nós queremos retornar, unindo nossas vidas à cruz de Cristo na expectativa da Ressurreição. É um marco da paróquia de São Benedito, a caminhada penitencial, dolorosa pela manhã com Cristo Jesus e essa cruz de flores que nós montamos para Cristo no momento de sua paixão e morte.
Padre Marcelo Lázaro Pinto