SOBRE O SÍNODO DOS BISPOS – 2023: UM OLHAR SOBRE A NOSSA REALIDADE! SOBRE O SÍNODO DOS BISPOS – 2023: UM OLHAR SOBRE A NOSSA REALIDADE! (parte 1)

A Escuta sinodal, um olhar retrospectivo e prospectivo

“Sinodalidade, caminhar juntos é uma vocação fundamental para a Igreja e, somente neste horizonte, é possível descobrir e valorizar as diversas vocações, carismas e ministérios” (Papa Francisco).

   À luz da convocação do Papa Francisco, a Arquidiocese de Uberaba, abrindo o coração das paróquias, quase-paróquias, áreas pastorais, pastorais e movimentos eclesiais, aproximando-se da sociedade civil, dos movimentos populares, dos movimentos sociais organizados, de pessoas à margem na estrada eclesial, colocou-se à escuta da vida e missão da Igreja no mundo.

   Como o ouvido é um dos órgãos mais próximos do cérebro, escutar com profundidade e reverência nos leva não só à compreensão e entendimento, como também amplia o próprio olhar e dilata o coração. Quando o coração arde, os pés se movem!

   Este artigo deseja partilhar a boa notícia que foi o processo sinodal na Arquidiocese de Uberaba, enquanto as diversas sínteses foram organizadas para um agir sinodal.

Um olhar retrospectivo

    A Arquidiocese de Uberaba situa-se numa região muito privilegiada, nas plagas formosas das Gerais, onde as Minas são muitas. A abundância e o brilho de suas águas deram origem a seu nome – Yberab -, a mãe terra de grandiosa fertilidade, e o entrelaçamento a diversas regiões da Nação faz nossa região ser de suma importância para todo o país. Parece que o salmista descrevia a nossa terra: “Armou no alto uma tenda para o sol; ele desponta no céu e se levanta… De um extremo do céu põe-se a correr e vai traçando o seu rastro luminoso…e nada pode fugir ao seu calor”!   (Sl 18 A, 6-7). É, ainda, um torrão constituído por uma riqueza sem par que é a sua gente, sua religiosidade e suas culturas. Tudo isso e muito mais, obra de uma arquitetura divina.

   No ditado popular “Deus escreve certo por linhas tortas”, assim se deu, no nascedouro da Diocese e depois Arquidiocese de Uberaba, território que pertencia à Diocese de Goiás, GO. Dom Eduardo Duarte Silva deixou a sede da Diocese, na cidade de Goiás, em fins do século XIX, passando a residir numa de suas mais longínquas paróquias, há exatos 574,4 km de distância, a cidade de Uberaba.

   O bispo diocesano deve residir na sede da diocese, mas agora, com o bispo ausente de sua sede, instalou-se um problema. Para resolvê-lo, o Papa São Pio X criou a Diocese de Uberaba, desmembrando-a da Diocese de Goiás. Feliz solução, pois da Diocese, e depois Arquidiocese de Uberaba, nasceram as Dioceses de Paracatu, Patos de Minas, Uberlândia e Ituiutaba.

  Zelosos pastores, entre eles, um Servo de Deus, a caminho dos altares, Dom Antônio de Almeida Lustosa, não mediram esforços para evangelizar e criar comunidades cristãs neste vasto território.

  A Devoção a Nossa Senhora da Abadia, oriunda do Estado de Goiás, plasmou a identidade católica de todo Triangulo Mineiro e Alto Paranaíba, ganhando destaque com a presença e missão do Bem-aventurado Pe. Eustáquio, SSCC.

   Caminhar segundo o Concilio Vaticano II se deu mais pela convicção e determinação de seus padres, religiosos e religiosas, do que pelo incentivo de seu Arcebispo Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, homem de reto caráter, de larga cultura e oratória sacra. Talvez por isso, temos um catolicismo mais devocional e ligado à espiritualidade devocional do que fruto da articulação pastoral, nascida sob inspiração do mesmo Concílio.

   Nosso povo, em sua sabedoria, sempre diz: “Deus tarda, mas não falta”. Foi assim que aconteceu com a chegada de Dom Benedito Ulhôa Vieira, Dom Aloisio Roque Oppermann, prosseguindo com Dom Paulo Mendes Peixoto, acolhendo as genuínas inspirações do Concílio Vaticano II, o Magistério dos Papas, as orientações do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM) e as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Todas essas inspirações vêm paulatinamente criando raízes na Arquidiocese, através das Assembleias Pastorais, dos organismos arquidiocesanos, dando rosto a uma nova evangelização.

O processo da escuta sinodal

   A escuta do Espírito Santo, através da Sagrada Liturgia, da oração, e do diálogo aberto e amoroso com todo povo de Deus, pedido pelo Papa Francisco para o bom entendimento de que a sinodalidade (caminhar juntos) é o querer de Deus para a Igreja no terceiro milênio, trouxe-nos um belo sentimento de alegria e bem-estar. Afinal, a Igreja quer escutar a todos e está aberta para caminhar com todos. “Sinodalidade, no contexto da eclesiologia do povo de Deus, indica o específico modus vivendi et operandi da Igreja, que manifesta e realiza concretamente o ser comunhão no caminhar juntos, no reunir-se em assembleia e no participar de todos os seus membros na missão evangelizadora” (Comissão Teológica Internacional – CTI).

   Uma comissão arquidiocesana foi constituída para dinamizar o que ficou conhecido como “escuta sinodal”. Todo material para a divulgação, animação, formação e a execução do processo sinodal foi amplamente divulgado, oferecido e enviado às paróquias, que foram chamadas a ser as dinamizadoras nas bases eclesiais e sociais.

   Quarenta paróquias, quase-paróquias e áreas pastorais da Arquidiocese, a Vida Religiosa Consagrada, pastorais, movimentos eclesiais e tantos outros abraçaram, no espírito de obediência – “quem tem ouvidos para ouvir ouça o que o Espirito diz às Igrejas (Ap 3,13), – vivenciando a escuta sinodal. Tanto grupos da Igreja como fora da Igreja promoveram encontros para oferecerem suas contribuições, seguindo um roteiro facilitador para o diálogo.

   Num processo de abertura tão amplo, era de se esperar tensões, mas o bom espírito se encarregou da superação dos entraves humanos. Ainda que os subsídios oferecidos tenham sido adaptados à realidade arquidiocesana, alguns grupos acharam de difícil entendimento, e mesmo assim, se propuseram ao trabalho indicado.

   Ficou bastante evidente, dentre os muitos estragos que a pandemia da covid19 tem deixado nas pessoas e comunidades, a passagem do medo à acomodação. Houve queixas da falta de apoio de alguns padres, os primeiros animadores do processo sinodal. Todavia, mais surpreendente foi que a iniciativa do Papa Francisco em realizar um Sínodo dos Bispos que se propõe a ouvir toda a Igreja, tendo o batismo como nossa carteira de identidade e igualdade cristã, despertou a convicção de que somos, de fato, um povo, o povo de Deus!

 Esta experiência provocou abertura de coração e vontade de partilhar sobre o modo como vivenciamos o seguimento de Jesus como comunidade eclesial. Falhas e embaraços no caminho foram nomeados; ainda assim, prevaleceu em todo processo de escuta a confiança que “o Espírito de Deus faz novas todas as coisas” (Ivone Brandão de Oliveira).

  A novidade traz consigo o temor e isso foi notado. Parece ser mais fácil fazer o que sempre se fez, sem muitos questionamentos, do que abrir-se ao novo. O novo desinstala, provoca, convoca a posturas, caminhos e métodos novos. A isso chamamos de conversão pastoral. Quem entrou no processo da escuta sinodal, de coração aberto, pôde vislumbrar desafios, urgências, necessidades, tendo como imperativo encarnar o Evangelho do Senhor. “Na história do homem, sempre haverá resistência ao Espírito Santo, oposições às novidades com algo novo e original. Às novidades do Senhor que sempre vêm a nosso encontro” (Papa Francisco).

  Se há realidades humanas, eclesiais e sociais fecundadas pelo Evangelho, há igualmente realidades de esterilidade, onde a Boa Nova de Jesus é uma letra formal, intimista, desconectada da realidade, como também, constatamos realidades em que o Evangelho é abortado, ou seja, a vida provocada por ele é jogada fora, como se faz com um abortivo. O desafio da escuta está posto, é preciso melhorá-lo e levá-lo adiante como uma Igreja serva e aprendiz.

 

Equipe de síntese sinodal, Arquidiocese de Uberaba, MG

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