Vocação e Missão do Sacerdote: desafios e graças em tempos de pandemia

“Vou lhes dar pastores de acordo com meu coração,

e eles guiarão vocês com ciência e sensatez”    (Jr 3,15)

 

Estamos convencidos de que a missão é tarefa específica da Igreja que a recebeu de seu Fundador: “Vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos” (Mt28,19). A Igreja confia a missão às comunidades compostas pelos leigos e aos ministros ordenados. Aqui queremos falar especificamente da vocação do sacerdote.

Deus chama, confirma e ajuda: é a base que sustenta a abundância de carismas e ministérios na igreja e, especificamente, a vocação de um presbítero chamado a ser de acordo com o coração de Deus.

A missão profética do sacerdote é, antes de tudo, anunciar o amor entranhável do Pai para com todos e, em modo especial, para com os mais necessitados. A vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo com que Ele salvou o ser humano são sinais desse amor anunciado e testemunhado pelo presbítero. Na luz desse anúncio (querigma), há no compromisso atento aos sinais dos tempos uma constante tentativa de renovar a Igreja, constituindo comunidades de cristãos reformados que tenham como modelo as comunidades de Jerusalém e de Antioquia (At 2,42-47; 4,32-37; 11,19-30), numa modalidade própria, segundo a especificidade da Igreja particular guiada pelo bispo e seu presbitério e, no caso dos padres religiosos, acrescentaria o “colorido” do carisma específico de sua Ordem Religiosa.

Assim, nossa vocação e missão é ajudar o povo de Deus em nossas comunidades a pôr em ação as diversas articulações da fé, ou seja, “da fé rezada à fé celebrada; da fé estudada e compreendida à fé vivida; da fé sofrida-provada à fé partilhada e anunciada,”[1] a fim de que o cristão possa amadurecer em sua caminhada e torná-la serviço.

Como temos vivido nossa fé nesses tempos novos de pandemia do coronavírus? Para nós, sacerdotes, têm sido momentos duros, desafiantes em nossa missão profética.

Quais são os desafios e graças que esse tempo nos tem trazido? Como está a saúde física e mental de nossos presbíteros? Como está nossa preocupação com o “rebanho” que nos foi confiado? Se o arriscar faz parte de nossa essência sacerdotal, temos recuado por medo? Ou temos arriscado com sensatez, buscando através da criatividade novas modalidades de transmissão e vivência da fé?

Uma coisa é certa: nós, sacerdotes, diante de tudo aquilo de que a pandemia nos privou, estamos tendo oportunidade também de aproveitar esse momento como oportuno para amadurecer no sofrimento; para purificar nossas vaidades; para buscar o essencial de nossa vocação; aumentar a consciência de nossa missão profética; aprender a sermos mais generosos com tantos gestos de solidariedade que muitos de nós estamos proporcionando junto a nossas comunidades a fim de ajudar os mais necessitados com alimentos, através do serviço da escuta com palavras de conforto aos doentes e enlutados, nos sacramentos da confissão, eucaristia e unção dos enfermos; na importância da oração em nossas vidas e nas de nossos irmãos.

Contudo, nós, sacerdotes, estamos convencidos de que o chamado de Deus (chama, confirma e ajuda) continua fazendo eco em nossas vidas a cada momento novo da história da humanidade. Que Maria, Mãe das Graças, continue intercedendo por nós, para que não nos falte na missão a coragem, a ousadia de se arriscar pelo Reino dos Céus. Que Maria, por sua intercessão, não nos deixe sentir órfãos do amor de Deus, porque é esse amor que nos sustenta e nos faz verdadeiros pastores segundo o coração do Pai.

 

Padre Sergio Augusto Faria Vidal

Religioso Somasco

Paróquia Nossa Senhora das Graças – Uberaba-MG

[1] Cencini, Amedeo. Uma Paróquia vocacional. Pedagogia da vocação na comunidade paroquial.

 

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