Testemunho de fé e de amor
A cidade de Uberaba vive um período de intensas transformações que estão abrindo o horizonte cultural do município e remetendo-o, com todas as suas preciosas singularidades ao locus que lhe é devido.
Ponto de referência importante nos primórdios da história da ocupação do Brasil Central, Uberaba foi se distinguindo e se constituindo como terra hospitaleira que acolhia os tropeiros e os desbravadores em busca de riquezas minerais.
Na esteira desse processo inicial de desenvolvimento impulsionado pela exploração dos recursos naturais e, posteriormente, também pela criação de gado, a cidade foi se expandindo com determinação e pujança.
O levantamento de dados sobre a vida cultural uberabense, por outro lado, nos fornece indicadores de uma rica dinâmica, sobretudo na década de 50 quando a Companhia Cinematográfica Vera Cruz e a Companhia Cinematográfica São Luiz, uma empresa local, operavam na cidade. Não somente mediante a exibição de filmes, mas, também com a apresentação de excelentes orquestras locais. Um grande número de virtuosos músicos permitiu a formação dessas orquestras que, ademais, participavam dos requintados eventos culturais e sociais aqui promovidos, frequentemente.
Nessa efervescência cultural, fruto do propício ambiente social uberabense, também se distinguia uma singularidade muito preciosa da cidade de Uberaba, a participação ativa da população católica no seio da Igreja Particular de Uberaba.
Os fiéis uberabense logo se destacaram como fervorosos devotos de Maria Santíssima, prestando o culto especial dedicado à Mãe de Jesus, sob o título de Nossa Senhora da Abadia, Padroeira da Cidade de Uberaba.
A Câmara Municipal de Uberaba autorizou a construção de uma Capela dedicada à Nossa Senhora da Abadia em 11 de agosto de 1881, a ser edificada na Colina da Misericórdia. A primeira Missa foi celebrada em 15 de agosto de 1881 e a edificação iniciada em 1883, foi concluída em 1899. No ano de 1921, foi elevada a Paróquia e, em virtude do grande aumento de fiéis, foi entregue à Congregação dos Sagrados Estigmas. Por decreto de Dom Benedito Ulhôa Vieira, então, Arcebispo de Uberaba, no ano de 1987, a Paróquia Nossa Senhora da Abadia foi elevada à condição de Santuário.
Nossa Senhora da Abadia foi nomeada padroeira de Uberaba pela lei n° 10.196, de 15 de agosto 2007 e em 2009, o Santuário de Nossa Senhora D’ Abadia foi agregado à Basílica Papal de Santa Maria Maior, no Vaticano. Em 2019, recebeu o título de Basílica Menor, tornando-se, então, Santuário Basílica de Nossa Senhora D Abadia.
Atualmente, signo da devoção mariana em Uberaba e região, o belo e majestoso Santuário Basílica de Nossa Senhora da Abadia, acolhe milhares de fiéis durante a Festa em Louvor a Nossa Senhora da Abadia e a visita de muitos peregrinos devotos que vêm de outras localidades do Brasil.
Ainda nesta abençoada década de noventa do século XIX, mais precisamente no ano de 1883, para grande júbilo da cidade, chegou a Uberaba uma missão Dominicana que iniciou, com o apoio generoso da comunidade uberabense, a construção do primeiro Convento da Ordem dos Pregadores no Brasil e da Igreja que seria inaugurada em 02 de outubro de 1904 como Santuário Central do Rosário, atual Paróquia São Domingos.
No dia 20 de maio de 1945, na nova edificação construída pelos Frades Dominicanos de Uberaba, aconteceu também, a bênção solene e inauguração definitiva do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, atual Paróquia Nossa Senhora de Fátima, cujo celebrante foi Dom Alexandre Gonçalves Amaral, então, Arcebispo de Uberaba.
O responsável pela edificação do Santuário dedicado à Nossa Senhora do Rosário de Fátima – atual Paróquia Nossa Senhora de Fátima – foi o Frei Alberto Chambert, OP, o mesmo servo de Deus, que se responsabilizou também pela construção do Convento da Ordem dos Pregadores e pelo Santuário Central do Rosário – atual Paróquia São Domingos.
Destacamos também, a Capela Conventual do Mosteiro de Nossa Senhora da Glória que em 8 de setembro de 1948, dia da festa da Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria, foi fundado por um grupo de seis monjas, duas das quais eram candidatas dinamarquesas e um monge, provenientes do Mosteiro de Nossa Senhora de Aasebakken, na Dinamarca. Atualmente, a Capela Conventual de Nossa Senhora da Glória, após uma reforma cuidadosa, constitui-se em uma preciosa joia arquitetônica no conjunto de belas Igrejas de Uberaba, com suas preciosas obras de arte sacra, num ambiente de espiritualidade beneditina de profunda paz e harmonia. As Monjas Beneditinas se destacaram ao longo de quase sete décadas no serviço da Catequese realizado com grande zelo.
O Carmelo do Coração Eucarístico de Jesus foi fundado em 01 dezembro 1948 pelas Monjas Descalças da Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Nesse dia abençoado, as Irmãs Carmelitas Descalças saíram em Procissão Eucarística da Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus, com o Santíssimo Sacramento levado por Dom Alexandre Gonçalves Amaral, então, Arcebispo de Uberaba, até a chácara onde hoje se encontra o Carmelo.
As Carmelitas Descalças chegaram em Uberaba em novembro de 1948. A pequena casa de campo da chácara que lhes fora doada recebeu uma reforma que adequou o seu espaço para abrigar as sete Irmãs Carmelitas que fundariam o Carmelo do Coração Eucarístico de Jesus em Uberaba, no mês seguinte. Ressaltamos que a Capela original, onde foram realizadas as primeiras Celebrações Eucarísticas permanece a mesma, com uma pequenina ampliação e os devidos cuidados de adequação litúrgica do espaço celebrativo.
Com grande determinação, amor e fé, as Carmelitas Descalças foram, ao longo do tempo, edificando o lindo e abençoado Carmelo do Coração Eucarístico de Jesus em Uberaba. Mais uma vez, a comunidade uberabense correspondeu aos esforços das Irmãs Carmelitas e também cooperou ativamente nesta edificação.
Em 21 de junho de 1949, chegaram em Uberaba, por sua vez, as Irmãs Concepcionistas que com grande empenho e o total apoio fraterno da comunidade uberabense, inauguraram no dia 07 de janeiro de 1961, o Mosteiro da Imaculada Conceição, da Divina Providência e de São José.
Neste mesmo ano de 1961, no dia 26 de novembro, foi inaugurada a Capela Conventual da Ordem Concepcionista, anexa ao Mosteiro, atualmente conhecida como Santuário de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, que permanece ainda vinculado ao Mosteiro da Ordem da Imaculada Conceição na qualidade de Capela Conventual.
Ao longo de seus dois séculos de existência, a cidade de Uberaba prosseguiu, portanto, manifestando a sua profunda e ardente Vocação Mariana; Paróquias e Comunidades dedicadas à Virgem Maria se multiplicaram no seio de nossa Igreja Particular. São edificações de rara beleza, compondo um patrimônio arquitetônico digno de nota, onde as Comunidades de Fé uberabenses vivenciam suas oportunidades de servir a Deus e ao próximo, iluminadas pela Palavra e animadas por seu profundo encontro com Jesus.
Listamos, em seguida, as Igrejas de Uberaba, Santuários, Paróquias e Comunidades que foram dedicadas à Nossa Senhora, Maria Santíssima sob os seus diversos títulos.
O Santuário Central do Rosário – atual Paróquia São Domingos – foi inaugurado em 02 de outubro de 1904.
O Santuário Basílica de Nossa Senhora D’Abadia, Padroeira da Cidade de Uberaba foi criado em 16 de julho de 1921. A Paróquia Santa Cruz e Nossa Senhora das Dores, que pertence à Forania Abadia, teve sua criação em 30 de novembro de 2001.
O Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima – atual Paróquia Nossa Senhora de Fátima – foi criado no dia 20 de maio de 1945.
A Paróquia Nossa Senhora das Graças, , foi criada em 20 de março de 1964. Pertence à Forania Nossa Senhora das Graças e tem duas Capelas Urbanas dedicadas à Nossa Senhora Aparecida e à Nossa Senhora de Guadalupe.
A Paróquia Santa Maria Mãe da Igreja teve sua criação em 11 de novembro de 1978. Nesta Paróquia, os devotos de Nossa Senhora Aparecida acorrem em grande número e com fervor durante a Festa dedicada à Padroeira do Brasil.
A Paróquia Nossa Senhora do Rosário foi criada em 28 de dezembro de 2001 e pertence à Forania Nossa Senhora das Graças, assim como a Quase Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, Mãe da Esperança, criada em 22 de agosto de 2012.
A Paróquia Nossa Senhora de Lourdes tem como ano da criação 2001, no dia 26 de junho, também pertencente à Forania Nossa Senhora das Graças.
Ressaltamos ainda, o Santuário Basílica de Nossa Senhora da Abadia Água Suja criado em 19 de julho de 1872 na atual Cidade de Romaria. Importante destino de peregrinação dos devotos, sobretudo da Cidade de Uberaba, por pertencer também esse importante Santuário, à Arquidiocese de Uberaba.
A Basílica do Santíssimo Sacramento Apresentado Pelo Patrocínio de Maria, criada em Sacramento no dia 03 de julho de 1857, se distingue nesse conjunto, pertencente à Arquidiocese de Uberaba, também na condição de Basílica.
Em pesquisa mais extensa e profunda, certamente, encontraremos outras Comunidades e Paróquias , cujos fiéis expressam sua devoção profunda e amorosa à Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa Mãe.
Os dados que ora apresentamos, no entanto, nos parecem suficientes para indicar não somente a vocação Mariana da Cidade de Uberaba, mas, sobretudo, sugerem um zelo que parte, em nosso entender, de Maria Santíssima. A Virgem do Rosário como que abraça o povo uberabense, convocando-o à vida de oração e ao seguimento de seu Filho Amado, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nesse sentido, ressaltamos que, no Presbitério do Santuário de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, estão reunidas, lado a lado, Santa Beatriz da Silva e Santa Catarina Labouré, e diante delas, a bela imagem de Nossa Senhora das Graças, na representação do verso da Medalha Milagrosa, em que está inscrita a jaculatória:
“Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.
Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em meados do Século XV, solicitou a Santa Beatriz da Silva a criação da Ordem da Imaculada Conceição e, em abençoada aparição para Santa Catarina Labouré, no ano de 1830, apresentou-se também como a Imaculada Conceição (Maria concebida sem pecado), medianeira de graças provindas do Altíssimo.
Também em Lourdes, a 11 de fevereiro de 1858, Nossa Senhora disse para a jovem Bernadette Soubirous: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Maria Santíssima recebeu, então, o título de Nossa Senhora do Rosário de Lourdes porque insistiu, em Lourdes como em Fátima, na necessidade premente de orarmos, pessoal e comunitariamente, o Rosário, contemplando os Mistérios da Vida de Cristo.
Se trata de uma forma de evangelização, pois, recitando o Rosário, meditamos as passagens da missão redentora de Jesus e os seus ensinamentos contidos nos Evangelhos. O propósito principal é de que orando e pedindo a Deus que nos ajude, pela intercessão de nossa Mãe Santíssima, possamos pela confiança no Pai, pela humildade expressa nessa confiança, cumprirmos os nossos deveres cristãos no mundo. A unidade da Igreja, o caminhar fraterno como Povo de Deus, a evangelização de todos, depende da oração constante feita em Comunidade de Fé que coloca a sua esperança em Deus. Somente os que se amam, oram verdadeiramente juntos, dialogando e cuidando uns dos outros e da vida de toda a criação.
Retomamos aqui, destarte, o nosso olhar perspectivo sobre o momento atual da Cidade de Uberaba e nos retemos a contemplar esta abertura para um belo futuro que nos acena mediante a criação do novo Geoparque Uberaba.
Essa iniciativa favorece a continuidade do desenvolvimento cultural uberabense, pondo em evidência os seus valores que, mediante investimento adequado, realmente podem colocar a cidade em um patamar de destaque internacional, no conjunto das cidades turísticas brasileiras.
Não somente por ser um raríssimo sítio arqueológico de grande importância ou por ter uma singular liderança religiosa que alcançou fama em todo mundo, Francisco Cândido Xavier, estimado por sua bondade e vida voltada exclusivamente para a caridade.
Uberaba tem também, por outro lado, a sua importância como destino de peregrinos que, ao longo da história da Igreja Católica, em nosso município, acorreram a esta cidade e prosseguem visitando nossos Santuários e participando de nossas grandiosas Festas em Louvor à Nossa Senhora. Toda essa intensa dinâmica de cunho religioso e também cultural, atesta sim, em nosso entender, a Vocação Mariana de nosso povo.
Cremos, destarte, que o Rosário se constitui, verdadeiramente, na rede de pescar almas da Virgem Maria. Como corredentora, Nossa Senhora, por sua intercessão, faz dos Santuários Marianos autênticos centros de evangelização que acolhem os devotos e prestam o socorro que esses buscam, apontando-lhes Jesus. Esses locais sagrados de oração e de recolhimento, apresentam aos devotos e peregrinos, o Cristo para que, confortados também pelo coração amoroso de Maria, abracem o Caminho, a Verdade e a Vida que Ele é para todos.
O Papa São João Paulo II, nesse sentido, afirmou: “acima de tudo, que toda a vida dos santuários favoreça, do melhor modo possível, a prece pessoal e comunitária, a alegria e o recolhimento, a escuta e a meditação da Palavra de Deus, a celebração verdadeiramente digna da Eucaristia e a recepção pessoal do Sacramento da Reconciliação.”
No documento O Santuário encontramos as seguintes observações:
“Ao aproximar-se de Maria, o peregrino deve sentir-se chamado a viver aquela “dimensão pascal” (61), que gradualmente transforma a sua vida através do acolhimento da Palavra, da celebração dos sacramentos e do empenho a favor dos irmãos.
Do encontro comunitário e pessoal com Maria, “estrela da evangelização” (62), os peregrinos serão impelidos, como os Apóstolos, a anunciar com a palavra e o testemunho de vida “as maravilhas de Deus” (Act 2, 11).
Esses últimos excertos nos dão conta da importância dos Santuários Marianos na caminhada de fé do Povo de Deus e despertam nossa gratidão por termos sido abençoados com a edificação de tantos locais sagrados de peregrinação em Uberaba. Oxalá possamos cada vez mais compreender essa riqueza cultural e religiosa, cuidar dela e partilhá-la com todos os residentes na própria Cidade de Uberaba e com todas as pessoas que nos visitam, como peregrinos ou em viagens ocasionais.
Rita De Blasiis
PASCOM da Paróquia Nossa Senhora de Fátima
Uberaba, 15 de outubro de 2024.
Referências Bibliográficas
ALENCAR, Maria Antônia. Preservando a memória. Uberaba: 3 Pinti, 2015.
BECKHÄUSER, Alberto. Religiosidade e Piedade Popular, Santuários e Romarias: Desafios Litúrgicos e Pastorais. Petrópolis: Vozes, 2007.
Conferência Nacional dos Bispos do. Orientações para adequação litúrgica, restauração e conservação das igrejas – Estudos da CNBB 113 – Digital (Portuguese Edition) (p. 9). Edições CNBB. Edição do Kindle.
Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. O Santuário: Memória, Presença e Profecia do Deus vivo. Cidade do Vaticano,1999. Disponível em: <https://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/migrants/documents/rc_pc_migrants_doc_19990525_shrine_po.html#:~:text=O%20santu%C3%A1rio%20%C3%A9%20um%20convite,com%20o%20Eterno%20na%20Igreja.>. Acesso em: 09 out. 2024.
Sites Consultados
https://arquidiocesedeuberaba.org.br/
Legenda das fotos do Mensageiro do Rosário: Acervo do Arquivo Público de Uberaba
Legenda das fotos do Convite da Inauguração do Santuário de Nossa Senhora do Rosário: Acervo particular
Revista Mensageiro do Rosário, n. 10, Ano 1925. Publicação feita pelo Convento Dominicano de Uberaba. Páginas internas 163-164,onde se faz referência ao Santuário Central do Rosário atual Paróquia São Domingos.
Revista Mensageiro do Rosário, n. 10, Ano 1925. Publicação feita pelo Convento Dominicano de Uberaba.
Convite de inauguração do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, atual Paróquia Nossa Senhora de Fátima, inaugurada em 20 de maio de 1945.
Reverso do Convite de inauguração do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, atual Paróquia Nossa Senhora de Fátima, inaugurada em 20 de maio de 1945.