José e Maria, após apresentar Jesus no templo, “perderam” o Menino na volta de Jerusalém para Nazaré (cf. Lc 2,43). Jesus tinha doze anos e foi encontrado entre os doutores ouvindo e fazendo a eles perguntas. Para seus pais, uma perda, no mínimo, considerada saudável, porque, desta forma, puderam entender a identidade de quem estava sendo criado, cheio de sabedoria humana e divina.

Celebrar o Dia da Sagrada Família é refletir sobre o caminho já feito na história e investir na capacidade de estar sempre se reinventado na condução do lar. A Família de Nazaré teve que fazer o caminho inverso para encontrar o Filho perdido lá no templo. É uma das diversas situações enfrentadas hoje na condução de uma casa de família, principalmente quando o filho entra por caminhos estranhos.

Família é espaço onde os relacionamentos devem ser feitos com sabedoria, respeito, valorização do outro e serenidade no trato. Nessa convivência, ninguém pode ser descartado. A mensagem bíblica diz que a honradez familiar, principalmente a valorização dos pais, prolonga a vida dos filhos (cf. Eclo 3,7). São atitudes humanas, que favorecem a capacidade do indivíduo para viver.

As palavras diálogo, perdão e amor têm a capacidade para mudar o rumo de uma família desintegrada e criar um novo estilo de viver. Paulo de Tarso apresenta, numa de suas cartas, um caminho para isto: Ele fala de agir com compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência e saber suportar os momentos difíceis (cf. Cl 3,12-13). É uma empreitada difícil, mas possível de acontecer.

As atitudes familiares exigem maturidade e desprendimento. Do contrário, torna-se muito difícil conviver, principalmente quando não existe a dimensão da fé e da sensibilidade cristã. O amor a Deus é capaz de mudar o rumo dos corações, para se ter uma vida mais saudável, e consegue amenizar as formas de comportamento. É como refazer o caminho baseado nos ensinamentos da Palavra de Deus.

A família não pode ser fechada em si mesma, inclusive com atitudes que tiram a liberdade de escolha dos filhos. É, na verdade, aquela que orienta e indica o caminho para eles, enquanto isto é possível. Mesmo nas mudanças culturais, a família continua sendo célula essencial para projetar a identidade humana. Para isto, precisa ter um mínimo de estrutura familiar que sustente seus objetivos.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba